a história é simples, meio um rascunho-apanhadão-arquetípico de um monte de coisa que já foi dita em muitos lugares. li alhures que tem a sutileza de um iceberg afundando o titanic e procede - procede, mas não incomoda tanto. as pessoas tendem a acreditar que o aparato técnico deveria sempre estar a serviço de uma história, mas não sei - o cinema pode ser diferentes coisas. e a história é boba mas capta muito da época - a vergonha da raça, o papo bicho-grilo ambientalista, a mudança de ponto de vista sobre quem são os aliens, de fato... e ainda um ranço de guerras e invasões que marcaram o século passado. por um lado é como se fosse um gigantesco exercício de estilo do james cameron. acho bom que existam coisas como o avatar - e coisas como o lars von trier também, que chega a tentar anular os aparatos técnicos, deixar cenário invisível e tudo o mais. não acho que em essência um seja mais honesto que o outro. e, para ser sincera, muito me diverti em avatar. cortaria uma meia hora de gordura e pronto.
perdoem qualquer incoerência. vi em 3d há pouco e se não tive dor de cabeça, meus olhos doeram e ainda doem muito. tomar uma ducha e dormir. paz na terra (e em pandora).
PS_ avatar me lembra um pouco wall.e porque todos tendem a ver cinicamente o discurso ambientalista - sempre vai parecer algo digno de graça? mas wall.e tem um mais coração, mais sutileza, mais pathos. e aquela coisa da nostalgia, que tá muito passeando por minha cabeça ultimamente, também, graças a um livro...
A primeira vez que eu ouvi falar de Crepúsculo foi cerca de um ano e meio atrás. Lembro de chegar no trabalho e discutir com uma colega, que admitiu que achava uma porcaria mas tinha algo tão ADITIVO que ela se pegou comprando as continuações ainda em inglês. Eu estava muito curiosa para saber qual era a do livro, do bafafá, blablabá e fiquei imensamente decepcionada quando li. Escrito pela mórmon (acreditem, faz diferença) Stephanie Mayer, Crepúsculo é uma história rasa de amor que mistura o romance com elementos sobrenaturais como vampiros e lobisomens. Senão bastasse tudo isso, a escrita é muito pobre.
Ainda assim, tive que concordar com minha colega: havia algo de aditivo e senti a vontade de ir adiante, para ver como acabaria tudo aquilo. Enfim, o livro pelo menos gerou curiosidade e darei esse crédito – embora seja mais do que curiosidade, é meio a ADIÇÃO mesmo. Esse quê incompreensível é que deve dar a nota do sucesso. Por que uma história tão banal e que de certa forma já foi contada tantas vezes (inclusive com seu elemento sobrenatural, vide o recente e também sofrível Os Diários do Vampiro) atraiu tanta gente no mundo? E mais, extrapolou o que eu vejo sendo seu público alvo, meninas de seus 12-16 anos, atingindo até balzaquianas que suspiram por um Edward?
Sinceramente, não sei a resposta exata. Claro, todos se interessam por uma história de amor proibido – e nesse sentido a história faz a chupinhação clássica de Romeu e Julieta. E o nosso herói ecoacavalheiros ingleses (o seu nome inclusive dizem que vem do Edward Rochester, de Jane Eyre), tem um jeitão de Werther dos pobres, é bryoniano, bonitão e abnegado. Isso também atrai interesse. Há um triângulo amoroso – mais um recurso que ajuda a envolver o público. Mas, sei lá, o próprio Diários do Vampiro também tem tudo isso e apesar de ser uma coleção de livros de sucesso está longe de ser o que Crepúsculo é.
Não vejo nenhuma surpresa, entretanto, no sucesso. O livro é mal feito, abissalmente, em alguns pontos, tem muita bizarrice randômica, faz um retrato de um amor que é doentio e vende como a melhor coisa que pode cruzar nosso caminho (Bella e Edward poderiam acabar no LINHA DIRETA), mas, sinceramente, desde quando sucesso e qualidade andaram juntos? É uma história de amor que apela para o denominador comum, para a carência lá no fundo do coraçãozinho, defende a lealdade, a família, a castidade... Chocante seria o Lynch bombar nas massas. Império dos Sonhos bater o recorde de bilheteria seria um choque – Lua Nova, não. Não quero com isso vir com papinho elitista, e Deus sabe que me afogo em coisas como CREPÚSCULO kk, mas existem coisas que são para audiências amplas e outras não. Fim da história.
Agora que perdi preciosos momentos da minha vida lendo A SAGA (kkk) posso dizer com todas as letras que é ruim. E não fiz a linha li pra falar mal. Li pra tentar entender, li porque odeio ficar de fora do buzz, li porque é relevante, li porque é aditivo, como já disse.
É literatura mal feita, é chata, feia, boba, ninguém tem carisma, é uma punhetação eterna com Bella e Edward debatendo cada pestanejada que um deu olhando pro outro... (eterna mesmo. A Meyer agora tá escrevendo uma versão de Crepúsculo sob o ponto de vista de Edward. Sairam 12 capitulos, 178 páginas que contam umas 2 semanas em toda sua LENTIDÃO. Vá por sua conta e risco). Fora que neguinho fica falando aquelas frases mais PLAIN do universo amoroso, ou outras da vibe doentia ("I don't care, Edward. I don't care! You can have my soul. I don't want it without you–it's yours already!"), e agora ainda fico imaginando a KRISTEN STEWART dizendo isso com toda sua inexpressividade... (e eu gostava dela. talvez ainda goste. rs)
Pelo menos o filme tem o robert pattison kkk
É perfeitamente compreensível entender porque as feministas ficam tão chateadas com Crepúsculo. Bella é a clássica mocinha em perigo – e mesmo tendo “personalidade” a ponto de atrair a atenção de geral e de se dispor a fazer a ADRENALINA JUNKIE para vislumbrar o seu amor, ela é totalmente passiva (e desde quando fazer ALOKA é bom, né). E mais, ela é tratada de uma maneira doentia pelo namorado e apenas ensaia se ofender. Edward faz a linha escuto-pensamentos-de-todos-seus-amigos-pra-te-entender-melhor – é absurdo, abusivo e invasivo, ela sabe, sente, verbaliza, mas deixa pra lá. Fora essa obsessão de PROTEGÊ-LA de tudo o tempo todo – “é o meu temperamento” - e no meio disso ficar BULINANDO a garota, que é meio desastrada. O próprio Robert Pattison falou que não entende porque as mulheres querem um cara assim (geral quer ser PROTEGIDA rs). E quando não é ele, é o lobisomem, que mesmo em Lua Nova só estando no estágio da amizade-flerte consegue dar um fora nela similar ao do vampiro – é pro seu bem! Fique longe de mim! Oh!
Até a mãe de Bella GET THE CREEPS com o casal:
"There's something . . . strange about the way you two are together," she murmured, her forehead creasing over her troubled eyes. "The way he watches you - it's so . . . protective. Like he's about to throw himself in front of a bullet to save you or something." I laughed, though I was still not able to meet her gaze. "That's a bad thing?"
Eventualmente, Bella bota o pau na mesa e diz pro vampiro boy que ela sabe o que é melhor pra si mesma e que escolhe ficar com ele – e que quer ser VAMPIRIZADA. SPOILER: te dizer, Bella virar vampira fode com tudo, pra mim. Resolve de uma maneira fácil e panaca a história, destrói a tensão sexual (que tudo bem que era narrada de jeitos ultra cafona, mas era o que esse livro tinha, a coisa do predador-presa, o leão se apaixona pelo cordeiro, a tensão que envolvia POSSIVEL MORTE também), acaba com a coisa proibida. Quer dizer, a mortalidade humana é sempre uma questão nesses relacionamentos, vide TODA A LITERATURA E CINEMATOGRAFIA de vampiros, e nessas de amor-ou-morte eu já imaginava que iam vampirizar a Bella, mas foi pior do que imaginava.
Porque, amigos, se vocês foram ao cinema e saíram MORTOS DE VA com Crepúsculo e Lua Nova vocês não viram nada. Eclipse e Amanhecer levam a coisa pra um outro nível. Imagine que Edward, stalker e psicopata, chega a tirar o motor do carro de Bella para ela não ir ver Jacob – mas é PARA O BEM DELA haha. É porque aí eles dimunem a tensão do amor proibido e jogam com a tensão com os lobisomens, tanto uma guerra quanto Bella se interessando brevemente, mas de maneira mais efetiva, pelo amigo Jacob (embora isso também resvale nas dúvidas que Bella tem sobre seu LIFESTYLE TO BE). Que a beija a força e ela gosta! Haha. Way to go. Fora que Amanhecer traz uma das cenas mais medonhas da literatura mundial, que é Bella dando à luz (é, rola sexo, DEPOIS DO CASAMENTO, abs). Primeiro que ela tá grávida de, hum, um ser diferente, que cresce anormalmente rápido. Depois tem a cena do parto em si, em que o bebê QUEBRA AS COSTELAS da mamãe e Edward tem que cortar o cordão com os dentes.Quer dizer. A coisa vai ficando mais afastada do boy meets girl etc ----
O fato do bebê se chamar Renesmée, mistura dos nomes das mães dos pombinhos, dá idéia do quão FREAK é o papo. E aí o Jacob tem uma “impressão” com o bebê – meaning, para deixá-lo ter um envolvimento profundo na história e obviamente não podendo permitir que ele fique com Bella, a Meyer inventou essa história aí. Que é randômica, cafona, mal feita etc etc, por mais que ela diga que é inspirada nessa e naquela lenda. Mas, quer dizer, são essas coisas que criam o culto, né? Fã adora ficar sabendo qual poder aleatório seu vampirinho preferido tem, ou que a Bella é imune à maioria dos poderes *1, blábláblá, morri etc.
E os lobisomens e a vibe seminua?
Apesar de todo esse texto, acho malice ficar bulinando os fãs. Se a pessoa tem mais de 25 anos e é fã, certamente é noob e possivelmente muito ingênua e desiludida também. De resto, deixa as menininhas serem histéricas. Inclusive histeria em cinema DÁ O TOM nos dias de hoje, independente de ser em coisinhas românticas como Crepúsculo. Let them be. E, de boa, quem vai assistir isso achando que vai ser uma obra-prima? Agradeça se funcionar como guilty pleasure e olhe lá! Acho que nem se dessem pro FRANK CAPRA ficaria bom... Por isso acho sacanagem jogarem nas costas do diretor. O brodinho fez o que pode – e eu acho que Lua Nova é um avanço em relação a Crepúsculo. Achei chocante a crítica do Salon*2 – que amou TWILIGHT na linha me-fez-sentir-adolescente-de-novo – que joga tudo no Chris Weitz. A moça queria romance, mas Lua Nova é outra vibe, vibe PÉ NA BUNDA.
BUH
*1 acho que a Meyer criou isso meio aleatória, porque li a explicação dela para a Bella ceder somente aos poderes de Alice, visão do futuro, e Emmet, controlar humores, e achei sem sentido. Segundo a autora, o CÉREBRO de Bella é peculiar e os poderes que investem aí não a atingem. Tipo a telepatia de Edward, ou, estranhamente, o poder da Volturi – outra bizarrice – Jane de causar dor. A dor não seria real, diz Meyer, e sim a idéia da dor. Mas os humores de Emmet não estão no CÉREBRO, como diria a psiquiatria moderna, e sim CORRENDO NO CORPO. *2 inclusive nos comentários do texto da Salon tem um cara impagável, dizendo que o filme não possa de MORMON PORN e que odeia a Meyer por ter transformado os vampiros, seres sempre sensuais e misteriosos, nos Cullen.
REPRODUZO:
TWILIGHT = MORMON PORN
Okay,
I'm a gay man and I find these movies insulting. I find them insulting because they take one of the most sexy, transgressive, and complicated figures--the vampire--and turn him (or her)into the romantic lead in the Mormon equivalent of soft core porn.
PS_I WONDER o que as pessoas que falavam tão mal de Harry Potter na época do boom estão fazendo agora. Pulando da janela? Matando os filhos e se matando depois? Porque perto de Stephanie Meyer a JK Rowling vira tipo SHAKESPEARE. Não entro nos méritos de se esse fenômenos seduzem as pessoas para o universo da literatura, mas não vejo como podem fazer o inverso. Vai ter gente que sempre vai ficar na sessão de bestsellers e pronto. Sempre foi assim. Em matéria de fenômeno jovem, acho que Crepúsculo deve ser o pior, no duro, mesmo. Eu adoro Harry Potter. E Desventuras em Série, que tá um nível abaixo no sucesso, acho gênio. E Gossip Girl tem muita coisa ruim mas não ofende. Dizem que O Diário da Princesa é bom, no SEU NICHO, mas esse não tenho saco pra me jogar kk. HSM, Ah. Li o primeiro Diário do Vampiro e achei bomba. Engraçado que a escritora desse tá acusando a Meyer de plágio... Saindo da literatura, Hanah Montana e essas coisas assexuadas da Disney também acho ok, meio mé, mas ok.
POR FIM, fiquem com o kevin smith ZUANDO, mas levando a POMBA BRANCA DA PAZ
O filme começa com o casal na estrada; ele casual, parecendo entediado e apressado. Para o carro para que ela faça xixi; ele desce e parece tentar tirar uma mala do bagageiro, olha de um lado pro outro e desiste da idéia – largá-la ali. Ele tem o jeito arrumadinho, a blusa com os botões abertos – ew. Ela está felizzzzzzz. Logo adiante, ele acaba concretizando sua vontade de largá-la, quando para num mecânico, a pretexto de um barulho estranho no motor. Ela vai ao bar tomar algo e ele larga as coisas dela (apenas uma valise) e se manda. O escroque.
Claudia Cardinale é Aida, a moça com a valise. Enganada, largada por sua conta e risco, com nada mais do que um nome falso dado por Marcello, Aida liga para o número que tinha dele: não, não tem ninguém com esse nome aqui. Triste coisa pensar numa moça sozinha numa estrada, somente com uma valise, chorando porque caiu no papo de um cretino.
Aida não desiste de achar Marcello e de algum modo vai parar na porta da casa dele – uma mansão onde ele vive com o pai, ausente, a tia, que cuida de tudo, e o irmão mais moço, Lorenzo. E é a Lorenzo que ele pede que se livre de Aida, que invente qualquer desculpa para que ela vá embora e não volte mais. Mas os dois irmãos têm naturezas diferentes e Lorenzo, de 16 anos, acaba se encantando por Aida, encantamento inicial que acaba virando uma paixão. O primeiro amor, repleto de inocência e melancolia, é a temática desse filme de Valério Zurlini, diretor italiano que finalmente tem sua obra lançada em dvd no Brasil.
Lorenzo tenta cuidar de Aida, dá-lhe presentes e tudo que o dinheiro pode comprar; já ela está mais preocupada em botar sua vida nos trilhos do que em ter um envolvimento amoroso com Lorenzo; ela sente que ele está apaixonado, mas se não o incentiva, também não o desestimula.
Descobrimos que Aida é uma bailarina, que trabalhava em uma ópera, e que Marcello a convenceu a sair de lá por uma oferta melhor – desempregada, sem perspectivas, com um filho e a possibilidade de acabar na prostituição, se concentra em achar Marcello e conseguir seu emprego de novo.
E Lorenzo usa o dinheiro e o nome da família para dar-lhe conforto e mantê-la por perto – também com esse fim, ele mente mente mente. Desde o início, obviamente, quando ele acoberta o irmão, até quando finge que o encontrou e que foi tudo um mal entendido para que Aida não volte para o seu antigo emprego e suma de sua vida.
O relacionamento entre eles já nasce fadado ao fracasso, ao menos a certo tipo de fracasso (sem “felizes para sempre” e essas coisas), mas nada disso importa. Você sabe, muitos dizem que o cinema ainda é muito “literário”, no sentido de se prender muito a maneiras de contar estórias herdadas da literatura e até mesmo, bom, a estórias. Zurlini não tem nada de inovador e bombástico na sua linguagem – é uma narrativa clássica. Apesar disso, como todos os bons filmes, está totalmente subordinado a seus elementos plásticos. O bom roteiro se diluí e ganha força ao mesmo tempo, com a fantástica fotografia, a atuação soberba do par principal e o uso da trilha sonora.
Os belos planos de Zurlini são enriquecidos pela fotografia de Tino Santini; dá vontade de morar em cada take daqueles.
Claudia Cardinale está linda e viçosa no papel de Aida; tem algo de selvagem, de cheia de vida, e ainda assim é muito terna; já Jacques Perrin, tão novinho aqui, tem a beleza asséptica de um garoto aprumado de 16 anos, cheio de inocência. Na boca deles, as falas são tão naturais que deixam de ser falas e são realmente diálogos.
A trilha sonora, por sua vez, transforma cenas que de outra maneira seriam... nem sei, nem dá pra dissociar, mas faz com que certas cenas se transformem em pequenos clássicos, e não posso deixar de citar algumas, tão lindas: 1) Aida sai do banho, ouvindo uma ária com seu nome, e fica parada na escada, vendo Lorenzo cantar a música, um pouco rindo, um pouco sério; 2) a fantástica cena em que Lorenzo, enciumado, vê Aida dançando com outro homem e se embebeda, um dos poucos closes do filme, os dois parecendo aflitos, ao som de uma música que fala sobre como o primeiro amor é o mais intenso e o coração nunca vai ser dado novamente como daquela maneira. Na seqüência, eles discutem e fazem as pazes, e ela canta para ele, um momento de ternura imensurável, e ao mesmo tempo triste (a andorinha mais bela, que se molha toda ao voar sobre o mar, quem seria se não Aida?) e 3) a cena em que Lorenzo entra numa briga ao som de Tintarella de Luna.
Um filme pra se ver e rever.
Título Original: La Ragazza con la valigia Direção: Valerio Zurlini Elenco: Claudia Cardinale, Jacques Perrin, Luciana Angiolillo, Renato Baldini, Riccardo Garrone, Elsa Albani, Corrado Pani, Gian Maria Volontè, Romolo Valli Ano de Produção: 1961 Duração: 121 minutos Cor: Preto e Branco Gênero: Drama
como não amar um cineasta que trata de generosidade em meio a mesquinharia, da beleza em meio à feiúra?
Lendo sobre zurlini, uma frase me chamou atenção: a languidez não era só um tema – era também forma. Languidez é a palavra perfeita para tratar desse cineasta. Em Verão Violento, seu segundo filme, parte dos sete filmes que a Versátil pretende disponibilizar no mercado brasileiro (chegaram três, até agora), o enredo guarda semelhanças com o de A Moça com a Valise. Temos novamente um relacionamento socialmente condenável, entre um jovem rico e despreocupado e uma viúva, um pouco mais velha que ele, mãe de uma criança. Carlo, o rapaz, faz parte de um grupo que se diverte despreocupadamente, pondo-se à parte da Segunda Guerra Mundial; ele próprio sempre conseguiu evitar ir para o exército, usando a influência do pai rico para conseguir dispensas. Passam os dias dançando e bebendo ou nadando na praia. Já Roberta, a viúva, leva uma vida retraída; perdeu o marido durante a guerra e mora apenas com a mãe e a filha em um casarão.
Os dois se conhecem um dia na praia quando, depois de um bombardeio, Carlo acalma a filha de Roberta e as acompanha até em casa. Depois disso, visivelmente interessado por ela, tenta dar uma continuidade. Ela inicialmente se mostra relutante, mas o envolvimento entre eles acontece de maneira gradual, culminando com uma bela cena de um baile, marcada somente pela música (outra marca de Zurlini), que emoldura a troca intensa de olhares entre os protagonistas. A cena dura mais de 5 minutos, entre o tempo em que todo o grupo sai para a ver a lua da varanda (os personagens vão entrando um a um no plano, Roberta por último, sob olhar intenso e desejoso de Carlo) e termina com os dois saindo discretamente e se beijando no jardim – sendo flagrados já de primeira pela namoradinha de Carlo, o que gera um mal-estar no grupo. A cunhada de Roberta, que chegara depois e havia sido apresentada aos jovens por ela, começa a sentir no ar algo diferente. Acaba indo embora, Roberta pedindo-lhe desculpas. Confrontada diretamente por sua mãe, Roberta diz que não deve nada a ninguém – ainda que pareça sentir, intimamente, pontadas de culpa. Ela e Carlo namoram discretamente, geralmente até os limites dos portões da casa dela.
Vemos o cerco da guerra se fechar; o casarão do pai de Carlo é dividido para várias famílias, coisa parecida com o que o Polanski conta em sua biografia.Carlo não sente mais prazer em voltar para casa; a influência do pai também já não parece capaz de livra-lo do serviço militar. Tudo se encaminha para o desfecho, em que Zurlini novamente faz com o que amor, ainda que mais concretizado do que em A Moça com a Valise, acabe sendo algo já fadado a um desfecho melancólico e não formalmente romântico.
O filme não é tão arrebatador e doído como o anteriormente resenhado, mas preserva as qualidades estéticas, os belos planos, a fotografia impecável. O uso da trilha sonora é mais pontual ainda; a atriz que faz Roberta, Eleanora Rossi-Drago, passa uma sensualidade muito discretamente, mas que é forte. Já o Carlo, Jean-Louis Trintignant, está um pouco no automático.
Atores: Eleanora Rossi-Drago, Jean-Louis Trintignant, Cathia Caro, Lilla Brignone, Jacqueline Sassard, Raf Mattioli, Enrico Maria Salerno, Xenia Valderi, Federica Ranchi, Bruno Carotenuto. Direção: Valerio Zurlini. Idioma: Italiano. Ano de produção: 1959 País de produção: França e Itália Duração: 103 min Cor Preto-e-branco
fiquei muito surpresa quando descobri, ontem, que o segundo marido da debora kerr tinha sido o peter viertel, filho da salka viertel, uma das melhores amigas (e mais exóticas) da greta garbo.
peter era o mais velho dos três filhos de salka, atriz e escritora nascida no império austro-húngaro, e do também escritor e diretor austro-húngar berthold viertel - os dois fugiram de hitler indo para os eua. veterano da segunda guerral mundial, peter publicou seu primeiro romance aos 18 anos, obtendo muitas críticas positivas. por ocasião do divórcio com sua primeira esposa, jigee, peter começou a escrever roteiros para hollywood, precisando da grana. ele cresceu em meio a artistas e pensadores como bertol brecht, thomtas mann e a própria garbo.
para ler mais sobre a vida dele e alguns episódios, recomendo essa matéria do NYT, por ocasião da morte do viertel. o que me chamou atenção pra história, além da relação com a inefável salka, foi o fato de que ele faleceu, de linfoma, 20 dias depois da deborah (que faleceu por complicações decorrentes do mal de parkinson). eu que acho meio chocante o johnny cash ter morrido alguns meses após a june e tals. kerr e viertel foram casados por 47 anos.
pensei na deborah também porque vi A UM PASSO DA ETERNIDADE, do famoso beijo abaixo, essa semana. deborah largou o cinema no final da década de 60, botando a culpa na violência e no sexo que começaram a invadir a sétima arte, o que eu acho uma gracinha (para uma senhora inglesa nascida em 1920 e tals), apesar de ser uma bobagem, mas voltou para fazer algumas coisas na tv na década de 80.
(e esse titulo sensacional das memórias da salka? THE KINDNESS OF STRANGERS) (para ler a primeira página - e no site tem mais coisas - de white hunter, maior sucesso do viertel, vá aqui)
hoje procurei o post do daniel galera sobre o labirinto do fauno, ressucitada por um próprio post meu em que o mencionava, e não achei. para ser sincera, minha sessão de links aí do lado tá bem defasada e EXIGE uma atualização. de qualquer sorte, achei em outro blog, não no do galera (na verdade ele agora só tem o SITE), e resolvi postar aqui para ficar ao alcance fácil DOS MEUS OLHOS.
“O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro, é o filme mais triste que já vi. Saí do cinema massacrado, e acho que o mesmo deverá ocorrer com qualquer pessoa cuja história pessoal esteja profundamente contaminada pela fábula (não no sentido de fábula infantil com moral, mas no sentido mais amplo de narrativa imaginada, de aceitação visceral da fantasia como um dos componentes essenciais da vida). Muitos vão gostar do filme - é graficamente lindo, é cruel e sádico, é assustador (contendo, inclusive, a criatura fantástica mais assustadora que já vi na tela), é protagonizado por uma menina adorável, tem excelentes atores no todo, comove qualquer um até a medula e consegue, sem ser chato em nenhum instante, combinar tudo isso com uma abordagem extremamente rancorosa dos traumas da guerra civil espanhola. Mas suspeito que apenas alguns sairão abalados pelo golpe final, uma declaração quase insuportável de que a realidade e a imaginação estão divididas por um abismo instransponível e já não podem ajudar uma à outra nos dias de hoje; de que só resta, à imaginação fantasiosa, a nobre função de fuga dos horrores da vida real; de que uma e outra não podem mais andar de mãos dadas. A ficção está morrendo, ou, para não soar dramático demais, cada vez mais perdendo o valor (”O seu livro é autobiográfico?”, me pergunta um fantasminha nesse momento, com um sorriso cheio de sarcasmo estampado na cara - ele sabe, como eu, que a resposta não existe). É um diagnóstico doloroso, que consegue ser belo somente no sentido de que temos um autor de cinema capaz de reconhecer o estado moribundo em que se encontra a fábula e de transformar esse triste fato num filme implacável."
gostei de bastardos inglórios. é um bom filme, com uma CRESCENTE de emoção, boas atuações (em geral) e uma direção muito boa. muitas cenas bonitas e blas. quem não gosta de tarantino, acha vazio, pastiche, pura punhetagem, não tem motivos para mudar de opinião aqui. é, ainda mais do que todos os tarantinos, uma pagação de pau absurda e às vezes até DIDÁTICA, para o cinema. mas o que eu posso dizer? o tarantino continua mestre nas colagens, continua inconfundível, absurdamente carismático e eu tô nesse grupinho de pessoas que aprecia o cinema do cara - mesmo sendo auto-referente, às vezes complacente, e, PECADO, vazio. eu digo logo para ESCÂNDALO de muitos que boa parte dos dias da minha vida prefiro o kill bill 1 ao 2...
no mais, o filme tem muitos defeitos e para mim NUNCA chega a ser tão FLUIDO e eternamente uma VIAGEM GOSTOSA quanto os dois kill bills ou cães de aluguel ou pulp fiction. se o lado TARANTINESCO da violêncio cartunesca fica diminuído, o filme é até SÓBRIO nesse aspecto, o lado do cara que fica EMBEBIDO em sua capacidade de criar diálogos fica ainda mais PERDIDA. muitas cenas longas, eternas, sem fim, em que eu sinceramente fiquei pensando wtf, não vou curtir isso aqui. apesar de tudo, tem algo de INCONGRUENTE nesse filme, algo que não o deixa ser um típico tarantino (embora eu mesma já tenha dito acima que tem MUITAS características do cara).
eu sinceramente CURTO um produto com altos e baixos se, no caso, a sensação final foi BOM PRA CARALHO. é uma viagem diferente do eterno REGOZIJO dos dois kill bill, mas tá valendo. coisas boas, coisas que não funcionam tanto, mas todas sob a bandeira de uma ideia INTERESSANTE bem executada. a história me incomoda um pouco, bobagem né, só porque NINGUÉM é piedoso. eu super entendo que é CARICATURA e blas, mas o fato de estar todo mundo querer pegar todo mundo me deixa meio CABREIRA. eu sei, nem faz muito sentido, mas é diferente para mim de, sei lá, kill bill, onde todos queriam pegar todos e, bem, todos sempre querem pegar todos, mas aqui era uma coisa de RAÇA e CORPORAÇÃO - e não por motivos INDIVIDUAIS, embora, claro, para quem era judeu em paris em 1945, como a shosanna, isso fosse MUITO PESSOAL. isso me preocupava mais no início do filme, depois foi se escafedendo pr'algum canto da minha mente. acho que, em partes, se deve sim ao fato de haver um PANO DE FUNDO real, hitler, judeus e tudo o mais. a ideia de MARCAR as pessoas me incomoda mais do que deveria num filme que o faz por ENTRETENIMENTO, exagero e tudo o mais.
o filme é ACE no quesito boas atuações. o brad pitt faz o seu papel sendo aquela coisa GROTESCA e obviamente CARICATURAL; TODOS os bastardos cumprem a parte, seja sendo JUDEUS MAGRELOS (dentre eles, o bj novak, o ryan de the office, e o samm levine, de FREAKS & GEEKS) ou caras assustadores e DISPOSTOS A TUDO - destaco eli roth, til schweiger e o AGREGADO michael fassbander. a diane kruger, que só havia visto fracassando em TROIA, está simplesmente fenomenal como a atriz-espiã bridget von hammersmark; o daniel brühl também consegue fazer seu papel se tornar crível e inspirar um mix de NOIA/SIMPATIA (que não é bem simpatia...)... fora o christoph waltz, que é o GRANDE destauqe do filme, puro trabalho VIRTUOSE. e o denis menochet, que aparece em UMA CENA e se torna memorável? para mim só fode a mélanie laurent, que não me passa muito nada. até acho que ela dá uma crescida durante a EXECUÇÃO do plano de matar o alto comando nazista no seu cinema, dá para perceber a raiva, a obsessão que a possuem, mas até então (na parte pastiche da NOUVELLE VAGUE) eu não conseguia sentir muito anda com ela. até a cena depois que ela almoça com os nazistas, incluindo o cara que matou sua família, ela desaba numa choro cortado muito rapidamente e nem dá para rolar a SIMPATIA. fora que ela ficou apática toda a cena. eu sei que poderia ser o choque ou whatever, mas a falta de elo com a HEROÍNA VINGADORA muito me chateou.
sei lá. minha parte preferida já vi que muita gente não curtiu, achou longa, excessiva e PUNHETAGEM CINEMATOGRÁFICA, mas eu usufrui como PEDAÇOS de 1 lindo sanduíche (q). é a cena da TAVERNA, quando a bridget se encontra com os bastardos e vai passar informações. é longa, é eterna, joga referências só PELO PRAZER DE, ainda rola 1 REFRESH na saída (quando bridget meio que SUMARIZA o que se passou para o aldo, mas acho que foi necessário só para saciar a curiosidade do telespectador de COMO eles tinham se entregado), MAS... gostei demais. achei tensa NA MEDIDA, a diane kruger teve um bom controle da cena, assim como a própria bridget, repleta de GRACIOSIDADE e bom senso, e os bastardos em cena (junto com o agregado inglês) passam TUDO QUE É NECESSÁRIO para deixá-la memorável.
só fico meio puta até comigo mesma, mas com o filme também por PERMITIR isso, que a gente possa ficar INCOMODADO com detalhes ou pensando coisas no NÍVEL: por que a bridget não tinha uma arma com ela na premiere? ou refletir sobre QUE GRANDE PLANO era aquele para invadir a premiere... ela nem tinha pensado numa história direito para cobrir o pé quebrado, nem eles falavam NECAS de italiano e blas. odeio ficar REMOENDO detalhes logísticos...
num grande plano da vida, acho que esse filme cai na RABEIRA TARANTINESCA, ao lado de jackie brown, considerando que jamais vi death proof (até hoje espero por uma ESTREIA). certamente curto mais kill bill, cães de aluguel e pulp fiction, nessa ordem. ABS.
minha lista de preferência dos livros da jk rowling (HUMrs)
1) ... e o cálice de fogo 2) ... e a ordem da fênix 3) ... e o príncipe mestiço 4) ... e o prisioneiro de azkaban 5) ... e a pedra filosofal 6) ... e as relíquias da morte 7) ... e a câmara secreta
to começando a me animar mais com o (s) sexto (s) filme (s). todos os filmes são meio banais (sim, mais que os livros), ainda que a partir do terceiro os elementos interessantes comecem a aparecer mais (de todo o modo, também como nos livros). outra característica da versão cinematográfica do bruxo órfão é que::::::::: o elenco infantil é lastimável, ainda que bem acurado do ponto de vista da semelhança física, e o elenco adulto é sempre SENÇA. e tbm é muito bom em PARECER, se for por isso...
era de se imaginar que em seis anos de cinema a galera ia dar os toques do tipo:: TA UÓ, mas nem. acho que o caso da emma watson, que é sem favor a pior do trio protagonista, é até mais "desculpável": ela mesma já falou que entrou meio no acaso e não sabe se vai seguir atuando (amiga, LARGA DESSA). já o daniel radcliffe (whatever) ainda faz a linha "ATOR SÉRIO" que faz PEÇA NU (harry potter nu é sempre uma das primeiras sugestões do google quando você começa a escrever o nome do personagem na busca). alguém diz para ele que NOT, vai precisar muito feijão ainda.
tudo bem. sem desmerecer nem nada, mas geral passo anos fazendo merda como ator, né, e que mal tem? não é que nem MEDICINA, você pode ir tentando e fazendo meia boca que ninguém vai morrer por isso. então SIGAM SEMPRE SORRINDO. ops to bebada (sempre vou te amar, maisa, pro mais over que vc fique)
o filme tem uma pegada feminista somente por abordar temas tabus - e é muito ácido em certos tratamentos. mas a conclusão final de que "a mulher apaixonada não tem orgulho" e o vale-tudo para salvar o casamento são estritamente tradicionais.
as personagens são estereótipos bem feitos - a esposa dedicada vivida muito bem por norman shearer, a amiga invejosa e fofoqueira fantástica da rosalind russell, a senhora excêntrica que vive casando/divorciando (ainda é francesa, claro!), e, claro, a amante rouba-marido, vivida pela joan crawford - cabelos uó.
as atuações são boas, o george cukor sabia mesmo dirigir mulheres. e é filme de mulher mesmo. começa numa clinica de fitness, um blablabla interminável, fofocas, não aparece nem se ouve a voz nem se vê uma foto de um homem - até os animais eram fêmeas, dizem.
o filme é divertido e bem feito e embora tenha retrato de vários tipos de mulher, acaba mesmo perpetuando a imagem de que as mulheres são víboras não confiáveis - para salvar o casamento não se deve ouvir as amigas, a mãe da protagonista chega a dizer. "conheço meu sexo".
Boo!
é uma pegação louca, todos chifrando, fofocando, sabendo daqui e dali... tem um quê de moderno, sim, claro, e como seria de se esperar foi refilmado, em 2008 - fiquei até curiosa para ver a annete benning fazendo a rosalind russell, deve ser DE CHORAR. a joan crawford, que fazia a bonitona sorrateira, foi replaced pela eva mendes, que faz a PLAIN HOT, o que tem seu valor, e a meg ryan protagoniza, isso que fode.
Joan Crawford, shopgirl
muitos bons momentos, dedico boa parte deles à sempre bem rosalind russell, que consegue se destacar num elenco que ainda tem a paulette goddard e a joan fontaine!
vale também uma menção honrosa aos créditos iniciais, que mostram cada atriz comparando a um animal, veja:
esse foi um ano muito bom para o cinema. quem acompanha essa bagaça viu que eu adorei o benjamin button, considerei o the reader um filme interessante e agora digo: slumdog millionaire é maravilhoso. não duvido que frost/nixon e milk sejam filmes acima da média também (ainda teve wall-e!).
o slumdog millionaire tem uma vibe meio cidade de deus, sim (desculpa se isso te incomoda, danny boyle!). não é só o fato de mostrar a realidade de uma grande favela do terceiro mundo, mas também a agilidade na edição e até os personagens - um inocente, que tenta se sair do melhor jeito possível, e outro na vibe mais zé pequeno possível. a outra alusão, ao oliver twist, também faz todo sentido, mas os indianos são muito mais safos que o inglesinho.
todo mundo ria em cidade de deus, mesmo sendo triste de partir o coração. com o slumdog acontece o mesmo, mas para mim foi ainda exponencializado, acho que porque o jamal é tão o tipo de personagem/gente que eu amo: abnegado, gentil, com princípios cristãos, manso: meio como michkin e em boa parte do filme o irmão dele, salim-zé pequeno, parece acreditar que ele é um idiota, como o protagonista de dostoievski.
eu ri e chorei no filme. é triste demais ver aquela favela gigante, as pessoas vivendo em condições sub-humanas, ver as crianças sendo exploradas. obviamente não sei até que ponto corresponde à realidade da índia, mas isso também não chega a ser o ponto: não é só a realidade social cruel que deixa um aperto no coração. é o próprio jamal, em sua busca incessante ("esse cara nunca desiste", diz o salim uma hora), que me deixa fragilizada. o lado social mais choca do que tudo - será que é daquele jeito mesmo? acho que sim, sem preconceitos, tipo sujo, cheio, fedido, cilada. mas a índia é um país tão bonito - sem pieguice e hippice. só de lá podia ter saído gandhi.
nada disso importa tanto. o filme é uma fábula, em certo sentido ("certo" pq não tecnicamente). jamal e sua paixão obstinada e respeitosa por latika, o filme inteiro se recusando a levar um não da vida, do destino... e passa uma mensagem otimista e tudo, mas me deixou tão pra baixo com tudo - é sempre a maldita ternura, que me deixa desnorteada.
ao contrário de todos, não acho que o dev patel ta muito bem - só fica de olho arergalado o tempo todo, do jeito que sempre fazia em skins. a freida pinto faz o que é pra fazer, ser bonita e ficar andando de lá pra cá. pra mim o destaque são os atores mirins, carismáticos, que nos fazem sentir pena, carinho e uma certa admiração pelo apego à vida e à sagacidade com que conseguem superar todos os percalços que vêem diante de si - muitas vezes isso é mostradod e uma maneira engraçada, sim.
pra completar, as crianças ainda têm toda essa referência aos três mosqueteiros, que me toca também. o salim para mim seria o pothos, posessivo (toda sabotagem ao relacionamento jamal-latika, que ele faz DESDE A INFANCIA, é ciumes, pra mim), impetuoso, sangue quente - isso é um pouco dartagnan também, mas esse é café com leite. o jamal também tem um quê de dartagnan, justamente a persistência e a obstinação, especialmente no que tange à mulher amada. mas seu jeito justo e calado também o botam lado a lado do athos (s2). sobra o aramis, mas ninguém se encaixa muito no aramis ;)
no mais, palmas para o boyle, por ter feito algo que já deveriam ter feito antes: aproximar hollywood e bollywood em grande estilo. a maioria dos atores é indiano. sei que rolaram várias críticas aí, mas quando o filme saiu grande vncedor a índia ficou toda prosa, e com razão. no final, os atores fazem um número musical, tradição bollywoodiana.
os críticos dizem que os "velhos do oscar" não resistem a um filme de holocausto. pois bem, se os votantes da academia cairam de amores imediatos, as resenhas estão assumindo um erro absurdo, que é reduzir the reader a um filme sobre a segunda guerra. claro que é - trata das culpas e espólios da guerra, de um ponto de vista bem específico, mas parar nisso é um reducionismo bobo. do tipo, tudo bem, a academia não deveria automaticamente premiar todos os filmes "de guerra", mas também não deve fechar os olhos só para evitar o primeiro caso, entendem? o the reader não é um filmaço, não é redondinho, mas é interessante e cheio de méritos, sim.
já disse alhures (nesse blog? no corrão?) que sutileza não é sinônimo de qualidade, necessariamente. mas este é o caso no filme, que é sutil, cheio de detalhes e nuances que as interpretações maravilhosas da kate winslet e do david kross enriquecem - o ralph fiennes tá mais ou menos. não é um filme arrebatador e mesmo tratando de temas caros ao sentimentalismo, é muito pouco sentimental, como a própria hanna schmitd. sai do cinema (crítica impressionista diz) sentindo uma espécie de incompletude e bem incerta de se poderia resumir o que eu tinha passado com um 'gostei' ou um 'não gostei'.
pontos. 1) ritmo/stephen daldry - o livro no qual o filme é baseado, do bernhard schlink, foi lançado em 1995. a narrativa é completamente linear - começa na década de 1950, com michael berg adolescente, passa pela época do julgamento e entra na parte em que ele já é um homem adulto. o daldry mistura tudo isso no filme e, embora se dê para ter uma idéia geral, nos detalhes algumas coisas acabam se perdendo. meio que como ele faz com as horas, que ele mistura as narrativas e os tempos, ele faz aqui, quando o michael jovem e o michael adulto dialogam. esse é um problema do filme.
2) na crítica da set, fala-se de "até que ponto a maldade é induzida pela ignorância". vejo dois erros nisso. o primeiro é: hanna era realmente "má"? claro que ela fez coisas abjetas, terríveis, monstruosidades, e essa coisa de seguir ordens não funciona como paliativo, mas ela seguiu adiante mais por um senso de correção e de tenho que fazer do que por maldade. não quero aqui fazer a que se pega com simpatia da ré - o que de fato é um dos pontos desse filme. mas, bom... e outra, ela era ignorante? ela era bruta, seca, inequívoca. não vou falar para não spoilar, mas o grande segredo do filme e tals não prova que ninguém é ignorante... a questão da culpa alemã, e este filme deve fazer mais sentido na alemanha, é o de como pessoas 'normais' podiam fazer atrocidades como na época do nazismo - 8000 só em auschwitz. ela não era especialmente má ou ignorante, embora não fosse um amor de pessoa, mas fez o que fez. se vc parar para pensar no holocausto vc se pergunta: estavam todos loucos? o colega de michael diz durante os julgamentos que "todo mundo sabia, nossos pais sabiam" e parece que o filme mostra uma geração se dobrando sobre a anterior, tentando entender o que aconteceu e, em certa medida, com medo de que o que quer seja aquilo esteja consigo também.
e aí temos a parte em que michael fica tão extremamente agoniado que mal consegue lidar com hanna. ele quer visitá-la e desiste, ele manda fitas com livros mas ignora as cartas, ele vai visitá-la enfim e não consegue tocá-la. é um horror onde antes havia fascinação. não há redenção no filme - ok, tudo bem, hanna deixa suas economias para a judia autora do livro que acabou depondo contra ela. mas em nenhum momento ela parece acreditar que fez algo errado ou reconsidera. hanna, como não gostava de planejar, não remoia o passado. "não importa o que eu acho, quem morreu, morreu".
o filme é pertubador e hanna é pertubadora. ela é sofrida, solitária, rude mas tem uma sensualidade tão direta e honesta que deixa michael atordoado. a atuação da kate winslet é soberba - até o trabalho com a voz dela é sensacional. na sua crítica, a isabela boscov (inclusive, ela fez duas críticas boas e acuradas para este filme e pro RR também) diz que é certo que em algum ponto o espectador 'se desequilibre'. eu me desequilibrei logo no início, na cena em que hanna vai trocar de roupa e flagra michael espiando. os dois se encaram e ele hesita uns 5 segundos a mais antes de desviar, e ela mantém o olhar - que é oblíquo, não se sabe se promessa, susto ou repreensão -. eu vooei para fora do meu corpo por uns 10 segundos. até que michael se recupera e sai correndo - e eu junto.
(vou ficar puta se a kate ganhar o oscar e ficarem dizendo que é pq é filme de guerra, pq se envelheceu. ela não é a charlize theron não, amigões)
Há alguns filmes cujas transposições para o cinema muito me intrigam. Por exemplo, eu vi O Poderoso Chefão, que considero uma obra competente enquanto literatura, e me perguntei o porquê daquilo ali. Um dia, assim, o Coppola acordou numa dessas? O filme não me acrescentou nada – é tão escarradamente o livro, o livro é tão uma narrativa que ajuda a construir um “filminho na cabeça” que para mim o filme se justificaria apenas pelas suas atuações espetaculares – mas sei lá, não desceu para mim. É o que, preguiça de ler, galera?
Essa é a suposta atração das adaptações: as pessoas brigam por fidelidade, querem ver linha por linha exposta na tela. Mas é claro que as linguagens são diferentes e algo ser exitoso em um destes suportes não garante nada para o outro – a não ser ansiedade de quem vai ver, o que é sempre ruim.
Eu, particularmente, sou meio sem critérios e é claro que tento me desligar do livro. É outra coisa na tela. Não fui das que ficaram brigando por cada mudança que o Peter Jackson fez em O Senhor dos Anéis, por exemplo. Também sei apreciar O grande garoto, que é um filme simpático e menor, como o livro, mas sem o carisma do segundo.
Me desculpem o clichê, mas Revolutionary Road, o livro, é imensamente superior ao filme. Sei que este não é ponto e abordo isto aqui até um pouco envergonhada. Acho que cometi um erro crasso ao assistir o filme com o livro ainda muito fresco na minha cabeça. Tão fresco que algumas falas do filme ecoavam em lembrança ao que tinha lido – tem trechos idênticos.
Mas vou dizer a vocês, é inevitável. É inevitável se você ler uma história cheia de nuances, uma história sobre a adaptação social e os jogos de identidade e reconhecimento, uma história sobre casamento e conveniência, felicidade e rotina, etc, transposto para a tela apenas como um daqueles milésimos filmes sobre os subúrbios norte-americanos e como a vida perfeita do lado de fora é, na verdade, podre por dentro. Para isto aí vocês podem até recorrer ao próprio Sam Mendes e o overrated Beleza Americana.
O livro do Richard Yates obviamente trata um pouco disso, até por também ter esse pano de fundo da década de 1950, a situação da mulher, blas. Mas não é esse o cerne do livro. É um livro tão forte, tão pungente, tão maravilhoso, que qualquer um pode relate, e não pelo aspecto de mencionar essas questões de vida de conveniência (tipo como a vida nos obriga a lidar com coisas que não nos importamos). É um livro sobre dúvidas, incertezas, ansiedade, angústia existencial. Digo a vocês que eu, que não vivo uma vida de aparências em um sentido clássico, me identifiquei totalmente com o livro.
No filme isso é impossível. É aquela coisa do casamento em crise – que na verdade era só um sintoma – e tome-lhe pau nisso. Fiquei tão desgostosa vendo essa súmula mal feita do que o Yates disse que sai do cinema meio mal humorada. A Kate Winslet, claro, está bem. A April é uma personagem difícil, até no livro é muito demorado qualquer momento real sobre ela, e no filme eles envernizaram tanto que não sobrou muita coisa... O Leonardo ta um tom acima, tipo um tiquinho a mais poser do que deveria, mas também está bem, no geral. No todo, é uma escalação muito boa e devo dizer que meu "filminho na cabeça" sempre foi com os dois enquanto lia o Yates (influenciada já, é claro, mas isso nem sempre cola...)
Vejam o filme. Queria ter tido essa experiência sem ler o livro... Provavelmente ia achar só boring, tipo Beleza Americana. Tendo lido o livro, fico me perguntando se o Sam Mendes é míope, idiota ou sonhou em fazer uma adaptação mara e não conseguiu... Não sei como seria uma adaptação boa desse filme... Tudo está nas entrelinhas, nos pensamentos, nos gestos curtos... Acima de tudo, se puderem, leiam Foi Apenas um Sonho. Foi reeditado agora (com Winslet&DiCaprio na capa) e blas. Recomendadíssimo.
“A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18″. O Mark Twain disse isso, dentre as muitas coisas geniais, sapientes, interessantes, engraçadas e inusuais que ele disse e escreveu em seus 74 anos de vida. Onze anos depois da morte do Twain, o Scott Fitzgerald, então no início de sua carreira como escritor, pegou o mote da frase e transformou em O Curioso Caso de Benjamin Button, lançado primeiro em uma revista literária e depois em um livro de contos.
Com sua frase, Twain estava contemplando a felicidade hipotética de ter o vigor físico, mental e a sapiência coincidindo. Naquelas de "ah, se com meus 18 anos eu soubesse do que sei agora, aproveitaria melhor etc". Twain parece refletir sobre qual o ponto de acumularmos experiências e sapiência por toda uma vida se ao final dela vamos... morrer - sem termos o vigor para usar.
O conto do Fitzgerald é um exercício sobre isso. O Twain pensou em voz alta e o Fitz fez um conto, pequeno, conciso, mostrando a vida de um homem que nasce velho e vai rejuvenescendo com o passar dos anos. Vejo este conto como algo bem menor no Fitzgerald - especialmente porque acho que ele perdeu algo do que o Mark falou. O Benjamin do Fitzgerald nasce velho - e falando e sabendo - e termina a estória na escolinha repetindo "elefante" depois da babá. Qual o ponto disso? No conto, o Benjamin não adquire nada com o tempo que vá aproveitar depois. Ele não amadurece - pelo contrário. Ele vive ao contrário não só de corpo, mas de mente também, e não era disso que a frase do Twain tratava. É como se o Fitzgerald tivesse pensado no assunto meio que an passant, rapidinho.
O Fincher vai mais ao ponto. Claro que, digo aqui, o filme é só livremente inspirado no conto. Mas ele pega o que o Twain insinuou e o Fitzgerald apontou como e leva adiante: Benjamin nasce velho mas não sabe andar ou falar. Benjamin nasce velho mas não sabe o que é infância ou velhice. Ele não sente que ele é uma criança ou um idoso, especialmente. Ele tem artrite e outras doenças de velho, mas gosta de brincar de soldados, ouvir histórias e se apaixona por uma criança ruiva, mais ou menos de sua idade.
Ao longo do filme, Benjamin amadurece e rejuvenesce. Como ele cresceu em um asilo, ele conviveu cedo com velhice e morte, passa pela parte das dores e vida madura quando trabalha no mar e tem o caso com a desencantada mulher de um diplomata e finalmente, um momento na vida, um encontro em meio a uma vida de desencontros, ele consegue concretizar sua paixão com a menina ruiva por quem um dia se apaixonou (a cate blanchett, primeiro filme que ela tá true linda, digo a vocês). os dois têm a mesma idade aos 43 anos e depois disso ela vai ficando mais velha do que ele e se no começo era uma vaidadezinha ("poxa, vc cada dia mais jovem e eu cheia de rugas") depois começa a virar uma preocupação maior (tipo e quando benjamin tiver 12 anos, no corpo? e quando se tornar um bebê). não vou contar mais para não spoilar. só digo que o filme é de uma tristeza danada, porque fala de perdas, de tempo, inevitabilidades e de como realmente a vida é um monte de acaso e poucos, realmente poucos, encontros. é de chorar. e digo (sem tpm) que já estava derramando lágrimas na primeira cena.
o filme começa com a cate blanchett no hospital e o katrina chegando (a história se passa em nova orleans, quase toda) e ela conta uma história para a filha. a história é sobre um relojeiro cego cujo filho vai para a guerra. ele está fazendo um relógio mara para colocar na estação nova de trem, tipo big deal e tal. o filho do cara morre na guerra e ele e a mulher ficam arrasados. no dia da inaugração da estação de trem, ele vai lá mostrar o relógio e quando tira o pano, alguém fala " ei, este relógio está correndo para trás!", ao que o relojeiro responde: "sim. meu relógio corre para trás para, quem sabe, o tempo voltar e nosso meninos não estejam mais indo para a guerra e sim, voltando, trabalhando". e nesse momento nós vemos a cena "rebobinando" e o coração aperta. porque o tempo não para, não volta, não permite mudanças e é implacável.
talvez se o mark twain visse este filme ele repensasse sua frase, embora obviamente ainda sirva como um desejo (quem não queria ter a experiência de uma vida e um corpo jovem?) e visse que, na real, não é bem assim. o luiz carlos merten diz que este filme mostra que às vezes as coisas na vida valem por um momento: o momento em que os dois se encaram, na mesma linha de idade, prontos para terem um relacionamento, vale tudo o mais. Ele chama de "momento raro de harmonia". E o resto é o resto.
a frase do twain é nota 8 (ele tem padrões muito altos); o conto do fitzgerald eu daria um 7 (é marromeno); o filme é nota 10 (tiraria essa coisa de nova orleans, mas vai assim mesmo). tem uma hq baseada no conto, soube hoje, mas não li e não posso falar. (plus do filme: trilha do alexandre desplat, uma das quatro coisas boas de painted veil - as outras eram a naomi watts, o edward norton e a fotografia rs)
UPDATE (21/01): a diferença entre forrest gump e benjamin button: fincher. acho o filme do tom hanks tao semc arisma que nem perdi meu tempo falando de como parece blablabla, como o roteirista gosta dos mesmos temas (asi somos) etc. e sobre os clichês, ah, well... isso também sequer é uam discussão. a obra se encerra em si, e muito bem, obrigado. o ano ta forte para os filmes, mas benjamin button ta vivão.
1) Aimee Mann 2) Radiohead 3) The Beatles 4) Portishead 5) Carla Bruni 6) Cat Power 7) Julie Doiron 8) Coldplay 9) John Frusciante 10) Marianne Faithfull
Top 10 discos 2008 (mais ouvidos)
1) The Forgotten Arm, Aimee Mann 2) Lost in Space, Aimee Mann 3) Quelqu'un m'a dit, Carla Bruni 4) OK Computer, Radiohead 5) Whatever, Aimee Mann 6) I'm With Stupid, Aimee Mann 7) Blue, Joni Mitchell 8) No Promises, Carla Bruni 9) Dummy, Portishead 10) Moon Pix, Cat Power
Top 10 músicas 2008 (mais ouvidas)
1) Metal Heart, Cat Power 2) Those dancing days are gone, Carla Bruni 3) Le ciel dans une chambre, Carla Bruni 4) It's Over, Aimee Mann 5) Freeway, Aimee Mann 6) 31 Today, Aimee Mann 7) Video, Aimee Mann 8) Stranger Into Starman, Aimee Mann 9) Humpty Dumpty, Aimee Mann 10) Deathly, Aimee Mann
MELHORES DO ANO - música
1) @#%&*! Smilers, Aimee Mann
Desculpe não surpreender no top one. Minha amiga Nina, que ouve música na sussidão, fica dizendo que sou obcecada com a Aimee, mas não é bem assim. Quando você tem a expectativa no alto é mais fácil se decepcionar, né? Eu sei que escuto mil vezes, porque sei que Aimee tá nas sutilezas, mas que seja: Smilers é um cd tão bom quando o predecessor, The Forgotten Arm (One more drifter in the snow é café-com-leite, ta?), e isso é big deal para mim. Disco do ano com folga e sobra.
2) Seventh Tree, Goldfrapp
3. Oracular Spectacular, MGMT
4. Third, Portishead 5. Music Hole, Camille 6. Viva La Vida, Coldplay
7. Dreaming of Revenge, Kaki King 8. Microcastle / Weird Era Cont., Deerhunter
9. Lost Wisdom, Mount Eerie 10. Consolers of the Lonely, The Raconteurs
Outros destaques: Lil Wayne (The Carter III), Hot Chip (Made in the Dark), The Killers (Day & Age), Man Man (Rabbit Habits), Ladytron (Velocifero), Crystal Castles (homônimo).
Top 5 músicas de 2008 (só hit)
1) Time to pretend, MGMT 2) Life being what it is, Kaki King 3) Agoraphobia, Deerhunter 4) Viva la vida, Coldplay 5) That's not my name, The Ting Tings
CINEMA
Vi tão poucos filmes este ano que me arrisco somente a fazer um top 3 totalmente errático. I mean, Wall-E é o rei inconteste deste ano, mas os outros dois são filmes interessantes com muitas falhas. No fim das contas, acho os dois BONZÕES porque o lado bom suplanta o lado ruim de longe, mas coisas melhores devem ter rolado em 2008. Menção honrosa para Senhores do Crime e também A Espiã. E, pq não, Vicky Cristina Barcelona.
1) Wall-E 2) Sinedoque, Nova York 3) Paranoid Park LITERATURA