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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

les demoiselles de rocheford (1967)


que beleza é um filme no qual todos são franceses e graciosos... o musical duas garotas românticas é protagonizado pelas irmãs catherine deneuve e françoise dorleac - que obviamente não dançam, ficam só fazendo poses bonitas, desfilando um figurino lindo e cantando (a trilha sonora é do michel legrande é muito boa). o musical é mais de cantar do que de dançar, por sinal, mas o visual me apetece muito. é tipo catherine deneuve com um visual anos 50 andando na calçada e uma pá de gente fazendo firula no caminho... a dança é discreta e mais ao feitio do balé.

as duas irmãs - gêmeas e geminianas - delphine (catherine, loira) e solange (françoise, ruiva) passam o tempo dando aulas de balé para crianças, enquanto sonham com uma vida em paris. delphine é bailarina e solange musicista. o filme, que se passa em rocheford, é cheio de desencontros - entre as gêmeas, a mãe, os pretendentes...


os pares românticos são jacques perrin (ainda com aquele rostinho de garoto bonito mas com um cabelo loiro blonde ridículo) e o GENE KELLY. aliás, solange chega em casa, fecha a porta, olha pra delphine e diz: CONHECI O HOMEM DA MINHA VIDA, que é o que qualquer uma diria depois de encontrar o gene kelly na rua. ele já estava com 55 anos, dança de leve e foi dublado no filme, mas quem liga?

eu até gosto da catherine (ela é linda e provavelmente a mulher mais conservada ever) mas certamente prefiro a françoise... até que nesse filme a catherine tá suave, ela é sempre muito rígida, fria, sem vida (o que combina perfeitamente, por exemplo, com o papel dela em repulsa ao sexo), ao contrário da françoise - e bem que dizem que a f. era o lado outgoing da família, a catherine sendo mais discreta. mas a françoise só vem reforçar as estatísticas(100% das vezes que havia uma ruiva, essa foi/era/é minha preferida, so far), além do que desde CUL-DE-SAC, meu polanski favorito, ela tem um lugar especial dentro do meu s2, tão linda, serelepe, seminua e francesa. ela está linda também em la peau douce, de truffaut, cheia de um frescor...

em sua autobiografia, polanski conta um pouco sobre a filmagem de cul-de-sac, problemática, no limite ("formávamos uma mistura difícil de temperamentos e achei melhor não me misturar muito intimamente com o elenco depois do horário"), e conta como françoise chegou com mil malas, um chihuahua contrabandeado e muito mau humor durante o período menstrual (totalmente compreensível do meu ponto de vista... rs). ela estava infeliz durante as filmagens, quote do polanski:"françoise era essencialmente francesa demais para juntar-se às multidões dos bares, o que constituia a nossa única forma de relaxar depois do trabalho". aliás, pelo que ele descreve no livro fazer o filme foi uma via-crúcis, com todos tensos, isolados, doidos pra acabar com aquilo...

já sobre catherine, com quem ele trabalhou no já citado repulsa ao sexo, ele comentou: "trabalhar com catherine era como dançar um tango com um parceiro super-hábil". ele fala como ela entrava no papel, a ponto de no final parecer um pouco aloucada, e sobre sua absoluta recusa em ficar PELADA ou de calcinha no filme.

é absolutamente triste pensar na françoise morrendo aos 25 anos, num acidente de carro, no mesmo ano em que Duas Garotas Românticas foi feito. obviamente a catherine ficou devastada com a perda da irmã mais velha e parece que até hoje esse assunto é um tabu, algo que ela não gosta de comentar em entrevistas, embora tenha escrito um livro autobiográfico chamado Elle S'Appelait Françoise.


domingo, 1 de abril de 2007

O CÉU É UM SET DA MGM


O CÉU É UM SET DA MGM


Existe algo errado num mundo em que as pessoas não saem cantando e dançando na rua. POR ALEXANDRE SOARES SILVA.

Ah, musicais. Estou disposto a defender a tese de que a MGM, quando Arthur Freed era produtor lá, e especialmente no período entre O Mágico de Oz (1939) e Gigi (1958), era solo sagrado. Tenho uma devoção religiosa a nomes como Freed, Fred Astaire, Betty Comden, Alan Jay Lerner e Frederick Loewe; e toda a minha noção do que é sublime vem da cena da charrete em A Roda da Fortuna.

As pessoas sempre riem dos musicais porque um personagem de repente sai cantando, mas deviam rir é da vida porque ninguém sai cantando assim - improvisando de súbito uma melodia perfeita e uma letra toda espertinha. Vocês não sentem que a vida devia ser assim? Não é esse o prazer de ver um musical - imaginar um mundo em que nosso pensamento seja tão rápido, tão desimpedido de sono, cansaço e burrice que possamos improvisar grandes músicas ao ritmo de uma a cada dez minutos, no supermercado, na feira, no aeroporto? E onde nossos corpos sejam tão ágeis (ou talvez a gravidade seja um pouquinho menor, ou ambos) que enquanto cantamos vamos improvisando uma dança descendo e subindo as arquibancadas da quadra de vôlei, enquanto as outras pessoas não riem, mas pelo contrário, se juntam à dança numa coreografia espontânea, espantosa?

Existe algo de errado num mundo em que as pessoas não saem cantando e dançando na rua, e se muitas pessoas não gostam de musicais é porque sentem que esses filmes a criticam de uma forma mais violenta que qualquer outra forma de arte. Outras formas de arte ficam nos acusando de sermos burgueses, alienados, meio esquecidos, vesgos, carecas, barrigudinhos - todas acusações ridículas. Não, é pior. Somos aqueles que são incapazes de improvisar uma música quando compramos uma maçã de uma velhinha dançante numa banca de frutas colorida como um set de Vincent Minelli.

Essa falha na natureza humana só será redimida no céu. Quando se diz que os anjos cantam, é isso que se quer dizer - que eles cantam. Os retratos mais realistas da vida no céu - de um realismo de cinema italiano do pós-guerra, mesmo - são filmes como Um Americano em Paris e A Roda da Fortuna - que são uma espécie de descrição literal de como vivem os santos depois dos martírios todos. Depois que as fogueiras esfriaram e os leões fizeram suas digestões, os mártires subiram para um céu que se parece com um set de Paris da MGM, e estão cantando até hoje, com George e Ira Gershwin e Cole Porter tentando anotar a letra em pedacinhos de papel e nas mangas das camisas, mas sendo impossibilitados pelo fato de que estão eles mesmos dançando como loucos. Deus, mesmo, é um número de dança.

fonte: Bravo 115

Vídeo do Gente Kelly, just singing in the rain...

segunda-feira, 26 de março de 2007

A noviça rebelde



O filme é longo como ...E O Vento Levou, mas ao contrário desse parece menos apressado. ... E O Vento Levou, afinal de contas, vara anos, acompanhando boa parte da vida de Scarlett. Mas não quero com isso dizer que EOVL é corrido; acho, pelo contrário, que é o ritmo d'A Noviça Rebelde que é um pouco inconstante.

O filme já começa com uns três minutos dedicados a exibir a paisagem... Matas, montanhas, lagos (o filme foi feito na Áustria, em partes, em Salzburg, terra de Mozart). Um take lindo mostrando a cidade. Tudo lindo e tals, mas parece um prelúdio. Da cidade vai girando, chega numa colina, a música incidental chega ao seu ápice, a câmera vai fechando e vemos Julie Andrews girando, girando. Essa é uma das minhas cenas favoritas do cinema. Acho demás.

Depois de cantar The Sound of Music (título original do filme), ela ouve os sinos do convento, se percebe atrasada e sai correndo. Uma explosão de energia.

Entram os créditos, com cenas da cidade de fundo. É quase turístico. Ou então: veja, saímos dos estúdios, estamos caprichando nesse aqui.

Logo estaremos acompanhando a estória de Maria, noviça que sempre acaba se envolvendo em problemas (explicados no delicioso número musical executado pelas feiras, How do you solve a problem like Maria). Para tentar ajudá-la a compreender se seu futuro está realmente no convento e também ajudar uma família, a madre chefe a encaminha para a casa de um capitão do mar, no papel de governanta.

Daí entra em cena a clássica história da babá amorosa e criativa que derruba as barreiras das crianças magoadas e mimadas (de maneira um pouco didática, acho, tudo cheio de pingos no is). Claro que depois ela conquista o rígido viúvo, pai das crianças. E aí, depois de um intervalo, vem a segunda parte, sobre a ascenção do nazismo e a necessidade de fuga da família, que se recusava a hastear a suástica em lugar da bandeira nacional. A quebra do ritmo é forte. Parece muito, e é, parte 1 e parte 2, quase que dois filmes diferentes. Só que a segunda parte é menor. Enfim.

O filme é recheado de números musicais e, apesar de preferir Mary Poppins, acho que Julie Andrews está bem melhor neste. Maria, que tem um quê de selvagem, ganha um ar de candura muito agradável com sua atuação. Eu adoro a Julie Andrews. Quando ela está indo para a casa do capitão, primeiro sai triste e desconfiada. Se pergunta porque não está feliz, com seu futuro aberto, diante de si... E vai melhorando, ganha ânimo, e logo está cantando muito no caminho, dançando, é demás; ela tem confiança em si, na luz do sol, na chuva, na primavera que vai chegar... Tem confiança de que tudo que precisa está nas suas mãos, tem confiança nessa confiaça... Acho extasiante.


Acompanhe:

I have confidence, the world can all be mine
They'll have to agree I have confidence in me
I have confidence in sunshine
I have confidence in rain
I have confidence that spring will come again
Besides which you see I have confidence in me
Strength doesn't lie in numbers
Strength doesn't lie in wealth
Strength lies in nights of peaceful slumbers
When you wake up, wake up!
It's healthy
All I trust I leave my heart to
All I trust becomes my own
I have confidence, in confidence alone
(Oh help........)
I have confidence, in confidence alone
Besides which you see I have confidence in me


Na segunda temporada de Gilmore Girls, quando Jess chega a Stars Hollow, ele vai dar uma volta para conhecer a cidade. Ao por os pés para fora, olha desanimadamente. E começa a tocar This is Hell, do Elvis Costello ("this is hell, this is hell, I'm sorry to tell you/ It never gets better or worse"). Lá pelas tantas, Elvis canta, se sentindo bullyng pelo mundo: "My Favourite Things are playing, again and again/ But it's by Julie Andrews and not by John Coltrane"...

Eu prefiro a versão da Julie e ontem, revendo o filme pouco antes de pegar no sono, me perguntei o que isso queria dizer.

Vídeo o pedaço do How Do You Solve A Problem Like Maria (na real chama só Maria)