sábado, 20 de novembro de 2004

As coisas que a gente gosta

Algumas pessoas estranham eu gostar de Kid Abelha porque me vêem com blusa do Nirvana.

Algumas pessoas estranham eu ler Agatha Chrsitie porque eu amo Virginia Woolf.

Algumas pessoas estranham eu comprar a Vogue porque eu não sou arrumadinha.

Algumas pessoas estranham eu gostar de alguns blockbusters porque eu gosto de alguns filmes ditos ‘cults’ e vice-versa.

Algumas pessoas estranham quando sabem que sou pisciana, porque eu não ando chorando pelas ruas. (essas pessoas não entendem de astrologia e nunca ouviram falar de ascendente :P )

Eu sou esquizofrênica? Acho até que em alguns pontos isso pode ser possível, mas de um modo geral esses pequenos espantos da vida acontecem a todo momento; todo mundo forma uma imagem na cabeça à medida que vai conhecendo outra pessoa, e aos poucos, conhecendo um pouco mais, vai ajustando, adaptando, gostando disso, desgostando daquilo.

Eu realmente estava pensando em várias conversas do tipo “a gente é o que a gente consome, o que a gente gosta?”. Eu já tive várias conversas desse tipo. Thiago um dia disse que detesta a idéia de que ele já sabe tudo que ele vai gostar e o que vai odiar sem ver, ler, ouvir... “Eu não preciso ler Dostoiévski pra achar que o cara é foda”. E sim, ele acha que a gente é o que consome. Já Laís estava meio reflexiva sobre essa característica do orkut (que eu vejo como sendo da net em geral) de dividir as pessoas pelos gostos em comum. “Você pode gostar de Kill Bill porque ama Uma Thurman e eu porque amo Tarantino. Pode não ter nada a ver.” E pode mesmo.

O que eu acho: “odeio rótulos” tá na moda, mas como eu disse a Thiago, não acho estranho e/ou bizarro você saber o que é seu número antes de calçar o sapato... Claro que há surpresas ( e eu tentei me lembrar de uma mas não consegui...), mas de um modo geral você se conhece e sabe o que curte. Claro que isso limita seu horizonte, mas não é pra limitar mesmo? Nesse momento eu falei pra ele e repito aqui: é uma idéia que vi em “Adaptação”, de que a gente tem que se apaixonar por algumas coisas justamente pra diminuir nossos universos e dar conta do recado! Não da pra ver todos os filmes, ler todos os livros, ouvir todas as bandas... É questão de otimização de tempo e qualidade mesmo... Meu professor de Teorias da Comunicação uma vez perguntou como seria entrar numa loja de CD’s se eles não rotulassem os tipos de música...Você ia ficar perdidinho, né? Livraria funciona assim, até banca de revista funciona assim... Eu vou logo na parte que sei onde estão os quadrinhos. Eu já sabia que ia detestar A Vila e Táxi antes de ver. Eu já sabia que Kill Bill 2 ia me deixar de pernas bambas. Eu não pretendo perder meu tempo ouvindo o novo CD do Linkin Park, porque sei que vou achar merda. As coisas são assim.

Mas aí tem a parte ruim; a gente rotula as coisas e rotula quem curte as coisas. Nisso eu não acredito. Não acredito que a gente só goste de quem goste das mesmas coisas que a gente. É como se fossem dois mundos separados. Exemplo: acho pagode coisa de acéfalo, mas nem por isso deixo de gostar de gente que gosta de pagode, nem os acho acéfalos. Eu odeio pagode, não pagodeiros (só os profissionais :P brincadeira).
Gostar é sempre um mistério. O que faz a gente gostar de alguém? De alguma coisa? De uma música, um livro... É sempre assim... Assim que eu ouço algo que eu curti, depois fico pensando com o que parece, o que achei legal e porque, vou destrinchando. Gostar vem antes, sempre, só depois a racionalização. Aí um dia desses fiquei pensando: porque raios eu gosto de All Star? Eu nunca pensei nisso, mas aí fiquei vendo um monte de gente falando mal, e falando coisas de “gente que usa All Star”, e tentei achar uma explicação. Sinceramente, não veio nenhuma mais forte do que eu achar lindo e me sentir imensamente feliz quando olho pros meus pés calçados num belo par de All Star. Só isso. Eu incorporei usar All Star, já meio que faz parte de mim, há 6 anos não uso mais nada fora de casa, e é um tênis fuleiro, você realmente sente o asfalto quente por baixo da sola, quando está novo dói muito o pé, mas eu amo.

É de graça. Flávia, minha amiga, não gostava de uma ex-colega nossa e sempre ficava criticando ela de leve, aí eu não falava nada, porque eu gostava da garota, e ela ficava “Pô, porque você gosta dela, o que nela tem de legal?” e eu não tinha uma mísera palavra. “Ela é legal”, eu dizia, vaga (e eu pensei em falar que eu gosto mais das pessoas que menos me intimidam, mas porque essa garota me intimidaria menos, seria então a pergunta). Eu sempre posso citar algo nas pessoas que eu goste, apesar de, como eu já disse, eu pensar nisso depois que já gosto (ou desgosto). Mas nesse caso não me vinha nada à cabeça, e Fau ficava brincando dizendo que eu gostava dela gratuitamente.

Mas a gente não gosta de tudo e todos gratuitamente? Eu gosto de Flávia por ela ser atenciosa, carinhosa, inteligente, mas quanta gente atenciosa, carinhosa e inteligente eu não gosto? Eu gostar do All Star me dá o que em troca? Tudo bem que eu me sinta puta feliz ao olhar pros meus pés neles, mas isso é o mesmo que eu receberia em troca se gostasse de sandália de salto.
Às vezes eu fico me fazendo perguntas impossíveis de serem respondidas que envolvem isso, as impressões que temos das pessoas: tem muita gente que eu gosto pra caramba que eu não daria nada vendo um perfil no orkut; eu seria amiga ou me relacionaria com minha irmã se ela não fosse minha irmã? Com minhas primas se elas não fossem minhas primas? Eu nunca consigo enxergar coisas assim: “Fulano vai te adorar”. Muitas vezes as pessoas dizem isso pra mim, “Você e Sicrano vão se adorar”, e Deus sabe porque. É uma visão que eu não tenho. É tão mínimo esse detalhe. É algo indefinível. Eu me lembro de Alta Fidelidade, em que o protagonista julga sempre as pessoas pelo gosto musical, e uma hora a namorada dele, depois deles passarem uma noite com outro casal e terem adorado, faz ele ver os discos dos outros dois, e só tem merda. Ele fica ‘assim assim’, pensando nisso. E claro que a gente faz um pouco, ou muito, isso. E eu não me refiro só a gostos musicais não. É tipo... Às vezes vocês até pensam as mesmas coisas, e gostam das mesmas coisas e talz, mas a coisa não flui.
Eu vejo assim mesmo, a relação entre pessoas, às vezes rola e às vezes não rola, não importa o que vocês ouçam, pensem ou curtem; gostar de algo é um mistério.
É como dizia Virginia Woolf mesmo, é preciso seguir alusões...
ps - e porque tem gente que a gente se dá super bem na "vida real" e na net não rende e vice-versa?

terça-feira, 2 de novembro de 2004

Elogio ao ócio (não criativo)

Porque a gente se engana quando vê um feriadão pela frente e pensa: “Ah, tudo que eu queria, um tempo dessa rotina corrida pra ajeitar as idéias na cabeça...”? Eu sou assim desde sempre. Fico pensando que “esse feriadão era o que eu precisava pra colocar Química em dia”, “Ah, 4 dias de ócio criativo pra adiantar meus trabalhos!” etc. Eu sempre lidei mal com responsabilidades. Eu não gosto e não gosto mesmo. Isso deve dizer que ainda não sou adulta. É claro que não sou! Quando eu falo que eu não tenho a mínima vontade de trabalhar, as pessoas ou não levam a sério ou acham desvio de caráter. E talvez seja. Tenho amigas loucas pra trabalhar, “pra ter seu próprio dinheiro”, independência. Eu não. Eu odeio essa cultura do trabalho, “o trabalho dignifica o homem”, “dinheiro bom é dinheiro suado” ( e aí junta com todos os ditados que querem dizer que dinheiro não é bom).
Eu adoro a idéia de longos dias sem obrigações. Quando tenho algo a fazer, essa responsabilidade fica à minha espreita, sempre me incomodando e me deixando doente de ansiedade. E não precisa ser muita coisa não, coisas mínimas que exijam o que parece ser um quase nada pra todo mundo. Por exemplo: nesse momento, fico nervosa all the time, por conta de 3 trabalhos a fazer e também por ter que ir na auto-escola pra marcar outro teste. O que me incomoda agora não é o teste em si, e sim ter que ir mais uma vez na auto-escola. Não gosta da sensação de “ter que”. São nas coisas que eu tenho que fazer que eu penso antes de dormir, e me incomoda demais. Essas responsabilidades, pequenas ou grandes, me oprimem. E eu não faço logo pra me livrar delas... Fico adiando até o limite. E hoje é o limite: o último dia do feriadão. Feriadão no qual nada fiz de muito útil; fiquei no PC eternamente. E se não tivesse sido o PC (é, só tenho desde os 16 anos, e desde sempre sou vagal), seria a TV, os livros (eles até me consumiram um pouco nesse fds), a cama...
Ah! Odeio ter que fazer trabalho. Odeio trabalho. Isso me deprime, me enoja, me enerva, me deixa ansiosa e neurótica.