segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

RS

Já que estou nessa vibe doentia (vejam últimas postagens), um pouco do ano de 2008/2009 da kate pra vcs:

Oscar (Melhor Atriz, The Reader)



Bafta (Melhor atriz, The Reader)



Globo de Ouro (Melhor atriz, Revolutionary Road)



Globo de Ouro (Melhor atriz coadjuvante, The Reader)



SAG (Melhor atriz coajuvante, The Reader)



E ainda:
Critics Choice Award (Melhor Atriz Coadjuvante, The Reader)
London Critics Circle Film Awards (Atriz do ano, Revolutionary Road)
Palm Springs International Film Festival (Melhor elenco, Revolutionary Road)

yep

suck it up, meryl








domingo, 15 de fevereiro de 2009

the reader (meio fluxo de consciência)

os críticos dizem que os "velhos do oscar" não resistem a um filme de holocausto. pois bem, se os votantes da academia cairam de amores imediatos, as resenhas estão assumindo um erro absurdo, que é reduzir the reader a um filme sobre a segunda guerra. claro que é - trata das culpas e espólios da guerra, de um ponto de vista bem específico, mas parar nisso é um reducionismo bobo. do tipo, tudo bem, a academia não deveria automaticamente premiar todos os filmes "de guerra", mas também não deve fechar os olhos só para evitar o primeiro caso, entendem? o the reader não é um filmaço, não é redondinho, mas é interessante e cheio de méritos, sim.

já disse alhures (nesse blog? no corrão?) que sutileza não é sinônimo de qualidade, necessariamente. mas este é o caso no filme, que é sutil, cheio de detalhes e nuances que as interpretações maravilhosas da kate winslet e do david kross enriquecem - o ralph fiennes tá mais ou menos. não é um filme arrebatador e mesmo tratando de temas caros ao sentimentalismo, é muito pouco sentimental, como a própria hanna schmitd. sai do cinema (crítica impressionista diz) sentindo uma espécie de incompletude e bem incerta de se poderia resumir o que eu tinha passado com um 'gostei' ou um 'não gostei'.

pontos.
1) ritmo/stephen daldry - o livro no qual o filme é baseado, do bernhard schlink, foi lançado em 1995. a narrativa é completamente linear - começa na década de 1950, com michael berg adolescente, passa pela época do julgamento e entra na parte em que ele já é um homem adulto. o daldry mistura tudo isso no filme e, embora se dê para ter uma idéia geral, nos detalhes algumas coisas acabam se perdendo. meio que como ele faz com as horas, que ele mistura as narrativas e os tempos, ele faz aqui, quando o michael jovem e o michael adulto dialogam. esse é um problema do filme.

2) na crítica da set, fala-se de "até que ponto a maldade é induzida pela ignorância". vejo dois erros nisso. o primeiro é: hanna era realmente "má"? claro que ela fez coisas abjetas, terríveis, monstruosidades, e essa coisa de seguir ordens não funciona como paliativo, mas ela seguiu adiante mais por um senso de correção e de tenho que fazer do que por maldade. não quero aqui fazer a que se pega com simpatia da ré - o que de fato é um dos pontos desse filme. mas, bom... e outra, ela era ignorante? ela era bruta, seca, inequívoca. não vou falar para não spoilar, mas o grande segredo do filme e tals não prova que ninguém é ignorante... a questão da culpa alemã, e este filme deve fazer mais sentido na alemanha, é o de como pessoas 'normais' podiam fazer atrocidades como na época do nazismo - 8000 só em auschwitz. ela não era especialmente má ou ignorante, embora não fosse um amor de pessoa, mas fez o que fez. se vc parar para pensar no holocausto vc se pergunta: estavam todos loucos? o colega de michael diz durante os julgamentos que "todo mundo sabia, nossos pais sabiam" e parece que o filme mostra uma geração se dobrando sobre a anterior, tentando entender o que aconteceu e, em certa medida, com medo de que o que quer seja aquilo esteja consigo também.

e aí temos a parte em que michael fica tão extremamente agoniado que mal consegue lidar com hanna. ele quer visitá-la e desiste, ele manda fitas com livros mas ignora as cartas, ele vai visitá-la enfim e não consegue tocá-la. é um horror onde antes havia fascinação. não há redenção no filme - ok, tudo bem, hanna deixa suas economias para a judia autora do livro que acabou depondo contra ela. mas em nenhum momento ela parece acreditar que fez algo errado ou reconsidera. hanna, como não gostava de planejar, não remoia o passado. "não importa o que eu acho, quem morreu, morreu".

o filme é pertubador e hanna é pertubadora. ela é sofrida, solitária, rude mas tem uma sensualidade tão direta e honesta que deixa michael atordoado. a atuação da kate winslet é soberba - até o trabalho com a voz dela é sensacional. na sua crítica, a isabela boscov (inclusive, ela fez duas críticas boas e acuradas para este filme e pro RR também) diz que é certo que em algum ponto o espectador 'se desequilibre'. eu me desequilibrei logo no início, na cena em que hanna vai trocar de roupa e flagra michael espiando. os dois se encaram e ele hesita uns 5 segundos a mais antes de desviar, e ela mantém o olhar - que é oblíquo, não se sabe se promessa, susto ou repreensão -. eu vooei para fora do meu corpo por uns 10 segundos. até que michael se recupera e sai correndo - e eu junto.

(vou ficar puta se a kate ganhar o oscar e ficarem dizendo que é pq é filme de guerra, pq se envelheceu. ela não é a charlize theron não, amigões)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Revolutionary Road.

Há alguns filmes cujas transposições para o cinema muito me intrigam. Por exemplo, eu vi O Poderoso Chefão, que considero uma obra competente enquanto literatura, e me perguntei o porquê daquilo ali. Um dia, assim, o Coppola acordou numa dessas? O filme não me acrescentou nada – é tão escarradamente o livro, o livro é tão uma narrativa que ajuda a construir um “filminho na cabeça” que para mim o filme se justificaria apenas pelas suas atuações espetaculares – mas sei lá, não desceu para mim. É o que, preguiça de ler, galera?

Essa é a suposta atração das adaptações: as pessoas brigam por fidelidade, querem ver linha por linha exposta na tela. Mas é claro que as linguagens são diferentes e algo ser exitoso em um destes suportes não garante nada para o outro – a não ser ansiedade de quem vai ver, o que é sempre ruim.

Eu, particularmente, sou meio sem critérios e é claro que tento me desligar do livro. É outra coisa na tela. Não fui das que ficaram brigando por cada mudança que o Peter Jackson fez em O Senhor dos Anéis, por exemplo. Também sei apreciar O grande garoto, que é um filme simpático e menor, como o livro, mas sem o carisma do segundo.

Me desculpem o clichê, mas Revolutionary Road, o livro, é imensamente superior ao filme. Sei que este não é ponto e abordo isto aqui até um pouco envergonhada. Acho que cometi um erro crasso ao assistir o filme com o livro ainda muito fresco na minha cabeça. Tão fresco que algumas falas do filme ecoavam em lembrança ao que tinha lido – tem trechos idênticos.

Mas vou dizer a vocês, é inevitável. É inevitável se você ler uma história cheia de nuances, uma história sobre a adaptação social e os jogos de identidade e reconhecimento, uma história sobre casamento e conveniência, felicidade e rotina, etc, transposto para a tela apenas como um daqueles milésimos filmes sobre os subúrbios norte-americanos e como a vida perfeita do lado de fora é, na verdade, podre por dentro. Para isto aí vocês podem até recorrer ao próprio Sam Mendes e o overrated Beleza Americana.


O livro do Richard Yates obviamente trata um pouco disso, até por também ter esse pano de fundo da década de 1950, a situação da mulher, blas. Mas não é esse o cerne do livro. É um livro tão forte, tão pungente, tão maravilhoso, que qualquer um pode relate, e não pelo aspecto de mencionar essas questões de vida de conveniência (tipo como a vida nos obriga a lidar com coisas que não nos importamos). É um livro sobre dúvidas, incertezas, ansiedade, angústia existencial. Digo a vocês que eu, que não vivo uma vida de aparências em um sentido clássico, me identifiquei totalmente com o livro.

No filme isso é impossível. É aquela coisa do casamento em crise – que na verdade era só um sintoma – e tome-lhe pau nisso. Fiquei tão desgostosa vendo essa súmula mal feita do que o Yates disse que sai do cinema meio mal humorada. A Kate Winslet, claro, está bem. A April é uma personagem difícil, até no livro é muito demorado qualquer momento real sobre ela, e no filme eles envernizaram tanto que não sobrou muita coisa... O Leonardo ta um tom acima, tipo um tiquinho a mais poser do que deveria, mas também está bem, no geral. No todo, é uma escalação muito boa e devo dizer que meu "filminho na cabeça" sempre foi com os dois enquanto lia o Yates (influenciada já, é claro, mas isso nem sempre cola...)


Vejam o filme. Queria ter tido essa experiência sem ler o livro... Provavelmente ia achar só boring, tipo Beleza Americana. Tendo lido o livro, fico me perguntando se o Sam Mendes é míope, idiota ou sonhou em fazer uma adaptação mara e não conseguiu... Não sei como seria uma adaptação boa desse filme... Tudo está nas entrelinhas, nos pensamentos, nos gestos curtos... Acima de tudo, se puderem, leiam Foi Apenas um Sonho. Foi reeditado agora (com Winslet&DiCaprio na capa) e blas. Recomendadíssimo.