segunda-feira, 30 de abril de 2007

acho que estou deprimida

Video
Aimee Mann

Tell me why I feel so bad, honey
TV's flat and nothing is funny
I get sad and stuck in a cone of silence
Like a big balloon with nothing for ballast
Labeled like a bottle for Alice
Drink me down or I'll drown in a sea of giants

And tell me, "Baby, baby, I love you
It's nonstop memories of you
It's like a video of you playing
It's all loops of seven-hour kisses
Cut with a couple near-misses
Back to the scene of the actor saying:
'Tell me, baby, baby – why do I feel so bad?'"

Tell me why I feel so bad, honey
Fighting left me plenty of money
But didn't keep the promise of memory lapses
Like a building that's been slated for blasting
I'm the proof that nothing is lasting
Counting to eleven as it collapses

And tell me, "Baby, baby, I love you
It's nonstop memories of you
It's like a video of you playing
It's all loops of seven-hour kisses
Cut with a couple near-misses
Back to the scene of the actor saying:
'Tell me, baby, baby – why do I feel so bad?'"

Baby, baby, I love you
Baby, baby, I love you
But baby, I feel so bad

quinta-feira, 19 de abril de 2007

segunda-feira, 16 de abril de 2007

It's Alright, Baby

It's Alright, Baby
Komeda

From patience and from pain
The one who never ends will gain.
The lovely notes from score to score
Become the sound of the general score?

I'm tired of being wasted
I'm so sick of being tired.
Yeah, but sure that love existed
Long before the first word was pronounced.

From patience and from pain
The one who never ends will gain.
The lovely notes from score to score
Become the sound of the general score?

I'm tired of being wasted
I'm so sick of being tired.
Yeah, but sure that love existed
Long before the first word was pronounced.

Chorus
Woo Hoo It's alright, baby
It's a crazy world, it's a bit absurd
Woo Hoo It's alright, sugar
It's a crazy world, it's a bit absurd
Woo Hoo It's alright, honey
It's a crazy world, it's a bit absurd
Woo Hoo It's alright, it's OK
It- is- so- crazy

To put it all in place
Requires a special grace
A single gesture of sweet emotion
A single notion of bitter potion

A strawberry-flavored composition
Is all that it takes
When the lyrics stand on end
And the head is full of conclusions of a simple mind

Chorus
Woo Hoo It's alright, baby
It's a crazy world, it's a bit absurd
Woo Hoo It's alright, sugar
It's a crazy world, it's a bit absurd
Woo Hoo It's alright, honey
It's a crazy world, it's a bit absurd
Woo Hoo It's alright, it's OK
It- is- so- crazy

sábado, 14 de abril de 2007

fazendo a existencial no msn :)

Lady Guinevere diz (21:05):
miog, obrigação é tão chato

Lady Guinevere diz (21:05):
odeio ter que fazer as coisas.

Sir Galahad diz (21:05):
eu odeio. não é justo.

Lady Guinevere diz (21:05):
me deixa ansiosa, doente.

Sir Galahad diz (21:05):
pior é que ocupa tempo do fazer espontâneo

Sir Galahad diz (21:06):
tiop ler

Lady Guinevere diz (21:06):
aham.

Lady Guinevere diz (21:06):
é tudo ruim.

Lady Guinevere diz (21:06):
e eu nao consigo parar de procrastinar.

Lady Guinevere diz (21:06):
e nao fico aproveitando o tempo da procrastinação

Lady Guinevere diz (21:06):
fico me sentindo ansiosa.

Sir Galahad diz (21:06):
nem eu!

Sir Galahad diz (21:06):
Não consigo ficar traquilo há semanas!

Sir Galahad diz (21:07):
tenho obrigação, não faço sem aproveitar, faço em cima, entrego, tenho obrigação...

Sir Galahad diz (21:07):
carol, precisamos virar maria antonieta, com amantes e com cabeça.

Lady Guinevere diz (21:08):
hehehehehe

Lady Guinevere diz (21:08):
quero sair dessa vida.

Lady Guinevere diz (21:08):
fico me dizendo pra aguentar firme que daqui a pouco me formo...

Lady Guinevere diz (21:09):
mas tem vezes que parece que nao vai dar.

Lady Guinevere diz (21:09):
e também, se meu plano de fulga der errado, a vida fica ainda pior.

Lady Guinevere diz (21:09):
imagina, tomas, viver isso a vida inteira só que ao invés de estudar, trabalhar?

Lady Guinevere diz (21:09):
mori.

Sir Galahad diz (21:09):
esse é um dos meus maiores medos

Lady Guinevere diz (21:09):
isso nao pode ser normal...

Lady Guinevere diz (21:10):
isso nao eh vida, 8 horas por semana, toda semana, é uma coisa useless.

Lady Guinevere diz (21:10):
prefiro virar hippie, de boa.

Lady Guinevere diz (21:10):
pior que na real a covardia humana é deprimente.

Lady Guinevere diz (21:10):
vou ter um final cretino.

Lady Guinevere diz (21:10):
quero pular logo pro final.

Sir Galahad diz (21:10):
eu quase também prefiro.

Sir Galahad diz (21:12):
todos ou quase todos os finais são cretinos. eu não quero pular para o final.

Lady Guinevere diz (21:12):
às vezes queria ver só como é o final

Lady Guinevere diz (21:12):
pra ver se vale a pena isso tudo, rs.

Sir Galahad diz (21:12):
acho que não vale, maig

Sir Galahad diz (21:12):
e a gente tem tiop que fazer valer, saca.

Sir Galahad diz (21:12):
coisa que a gente tiop não fas

Sir Galahad diz (21:12):
e eu não sei como fas

Sir Galahad diz (21:13):
se eu morer nesses anos de faculdade, sei não hein

Lady Guinevere diz (21:13):
tem que aprender a ser, dificil.

Lady Guinevere diz (21:13):
pra mim minha vida ainda nao começou

Lady Guinevere diz (21:13):
to na brinks!

Sir Galahad diz (21:13):
a sensação é essa

Sir Galahad diz (21:13):
eu tenho na real

Sir Galahad diz (21:13):
penso que não vai começar

Lady Guinevere diz (21:13):
ai um dia a gente percebe que é isso mesmo

Lady Guinevere diz (21:13):
que nao vai ter nada

Lady Guinevere diz (21:13):
e ai desiste

Lady Guinevere diz (21:13):
risooos

Sir Galahad diz (21:14):
pois é...

Sir Galahad diz (21:14):
é como se jamais fosse começar

Lady Guinevere diz (21:14):
eu postei isso no blog... se for is this it, ou eu mudo ou eu desisto

Sir Galahad diz (21:14):
nós não somos clássicos

Sir Galahad diz (21:14):
é, eu bem li aquilo

Lady Guinevere diz (21:14):
mori.

Lady Guinevere diz (21:15):
eu sei que tem um caminho, ok.

Lady Guinevere diz (21:15):
varias pessoas saem dessa vida.

Lady Guinevere diz (21:15):
a gente vai achar o caminho.

Sir Galahad diz (21:15):
vai

Sir Galahad diz (21:15):
vai achar

Sir Galahad diz (21:15):
carol

Sir Galahad diz (21:15):
haja o que houver

Sir Galahad diz (21:15):
viaje

Sir Galahad diz (21:15):
maig

Sir Galahad diz (21:15):
viaje

vamos fugir, todos.

Plath e Hughes (e Assia, e GG, e Anne Sexton)

Sylvia e os filhos, Frieda e Nicholas, com cara de acabada

No primeiro dia de 2005, como eu disse, estava numa rede lendo os diários de Sylvia Plath. Dois anos se passaram e lá estava eu, na mesma rede, lendo Ted Hughes. Eu descolei esse livro do Hughes num sebo e, antes dele, nunca tinha lido nada do autor. Lembro de artigos do Paulo Francis elogiando a Sylvia e falando que não gostava da poesia do Ted; pelo Cartas de Aniversário o interesse maior é a temática. As poesias parecem crônicas, têm versos longos, são muito narrativizadas. Preciso procurar mais poemas dele, com temáticas menos circunscritas, e ver o que acho.
_

Aí antes de viajar fiquei na internet procurando fotos dos dois. Achei algumas nos googles da vida e, observando-as, Sylvia me pareceu vulgar e até feia em algumas. Os dentes pareciam salientes, o cabelo artificial, os olhos soltados. E toda empoada. Já Ted tem realmente um impacto visual muito grande – uma força emana dele, com aquele maxilar definido, queixo decidido, cabelo fora do lugar, olhos escuros e hipnotizantes. Um homem de personalidade forte e grande poder de sedução – um leonino, afinal. Mas Assia era tão linda! Uma cigana morena, com um quê de insegura. Lembro, em Gilmore Girls, de quando Rory estava fazendo a carta para Harvard e tinha que colocar uma mulher que admirava. Ela pensou Sylvia Plath, mas achou mórbido. E Lorelai fala: pelo menos ela tinha instinto maternal. Sylvia realmente pôs os filhos a salvo, mas é de se questionar que senso de mãe seria esse que deixa órfãs duas crianças de 1 e 2 anos. Claro, antes de mãe, pessoa – eu penso assim. Assia não fez desse modo. Assia, antes de se matar, matou Shura, de apenas 4 anos, sua filha com Ted. E aí fiquei vendo a força de Ted – ele certamente falava bem e era brilhante e inteligente. Me irrita ler os diários de Sylvia depois de casada – ela só escreve o quanto está feliz por ter Ted, por ter conseguido tal marido. Ela sempre teve esse lado – queria um marido, era essencial. E ela era, realmente, louca por homens, e isso sempre tem que soar como defeito? Ela era escorpiana, ele leonino, tinha que ser explosivo.



Ted e Sylvia, brilhantes


Sylvia, cara de prima do interior, e Ted, guapo
_
Me pergunto qual seria o signo de Assia (lembro no filme, tão oblíqua).

Biografia da Assia, não lançada no Brasil
_
O ponto é: vendo Ted fui me descolando de Sylvia e pensei: realmente, esse é um poder hipnótico. Até agora ta um pouco difícil achar Sylvia __ Fico pensando, Gwyneth Paltrow dava ares melancólicos para Sylvia (inexistentes) e também certa beleza trágica (que não era o caso também). Sylvia tinha “a franja à Verônica Lake” e certamente pretensões de ser como ela num sentido – tão loura, linda, fatal.

oi, Ted, pegaeu, brinks, Ted muito pé frio


Fora de brinks, traços grossos, cara de interiorana, mas te amo Sylvia

_

Enfim. Random thoughts.


post scriptum: isso estava escrito desde a primeira semana de janeiro. pretendia melhorá-lo, mas estou com preguiça e perdi boa parte dessas sensações, também (embora até voltem, olhando fotos). é só brinks, galere, sou cabelinho com cabelinho com a sylvia. NOW I AM A LAKE. Oh, Sylvia.

e com isso me lembro da Anne Sexton, e fecho com ela, poesia inspirada pela Sylvia Plath, como vai ficar óbvio para quem ler. Anne e Sylvia se conheceram durante um curso de Robert Lowell, ainda nos Estados Unidos. Depois que Sylvia morreu, uma frase atribuída a Anne circulou: "Essa morte era minha". Ha. Lembro que existe outra frase maliciosa com relação a Sylvia, dela, depois procuro e posto aqui, agora não estou lembrando. Não que elas tenham sido amigas, mas também não eram inimigas, nada assim. A Anne Sexton acabou se matando também, com o gás do carro, aos 45 anos de idade. Dá pra ver pelo poema que ela e Sylvia eram obcecadas pela morte.

Sylvia's Death
by Anne Sexton

O Sylvia, Sylvia,
with a dead box of stones and spoons,
with two children, two meteors
wandering loose in a tiny playroom,

with your mouth into the sheet,
into the roofbeam, into the dumb prayer,

(Sylvia, Sylvia
where did you go
after you wrote me
from Devonshire
about rasing potatoes
and keeping bees?)

what did you stand by,
just how did you lie down into?

Thief --
how did you crawl into,

crawl down alone
into the death I wanted so badly and for so long,

the death we said we both outgrew,
the one we wore on our skinny breasts,

the one we talked of so often each time
we downed three extra dry martinis in Boston,

the death that talked of analysts and cures,
the death that talked like brides with plots,

the death we drank to,
the motives and the quiet deed?

(In Boston
the dying
ride in cabs,
yes death again,
that ride home
with our boy.)

O Sylvia, I remember the sleepy drummer
who beat on our eyes with an old story,

how we wanted to let him come
like a sadist or a New York fairy

to do his job,
a necessity, a window in a wall or a crib,

and since that time he waited
under our heart, our cupboard,

and I see now that we store him up
year after year, old suicides

and I know at the news of your death
a terrible taste for it, like salt,

(And me,
me too.
And now, Sylvia,
you again
with death again,
that ride home
with our boy.)

And I say only
with my arms stretched out into that stone place,

what is your death
but an old belonging,

a mole that fell out
of one of your poems?

(O friend,
while the moon's bad,
and the king's gone,
and the queen's at her wit's end
the bar fly ought to sing!)

O tiny mother,
you too!
O funny duchess!
O blonde thing!

segunda-feira, 9 de abril de 2007

tergiversando sobre a cidade - salvador e fatboy slim

já disse a thiago e o repito aqui: se por algum acaso eu tenha que morar em salvador no futuro, quero morar no campo grande.

eu adoro o campo grande. ponto. gosto da mistura de prédios antigos, prédios anos 80 vulgares e alguns novos "de luxo". adoro as árvores. adoro a praça. adoro as pessoas. é bem localizado, de fácil acesso, perto do tca, do vila velha (aquela que vai ao teatro diz); tem até a sala de arte do museu perto.

hoje tive que ir à reitoria, que fica no canela, para entregar um relatório. peguei um ônibus para descer no tca e caminhar até lá. péssima que sou para questões espaço-temporais, e ainda entretida com o mp3, cheguei ao campo grande de supetão. sempre que pego um ônibus que não seja meu usual, pituba-ondina, tenho que saber um ponto de referência e fico esperando que ele apareça, e de repente vejo o tca ali do lado e dou um pulo da cadeira... estava a pouco no colégio antônio vieira (garcia? onde é aquilo?) e não tinha idéia se era perto ou longe... uma senhora me cutucou para perguntar se o campo grande estava perto e eu não tinha idéia... fiquei até constrangida quando vi que, na real, já estávamos na iminência de cair no bairro, e assim foi. quando botei meu pé pra fora do ônibus, começou a tocar fatboy slim, the rockafeller skank. a música terminou exatamente quando acabei de subir as escadas da reitoria e cheguei à recepção, 6:54 minutos nos quais peguei o caminho mais longo por distração, apaixonada pelas árvores antigas do campo grande e fascinada com como fatboy slim combina com salvador. eu já tinha pensado nisso quando estava no ônibus indo para casa, passando por ondina, e vi um rapaz se aquecendo na praia, de sunga, e ele parecia tão no ritmo da música. os gestos casuais e as expressões da pessoa se adequam de maneira vívida ao som. claro que sempre que ando na rua ouvindo música fica parecendo vida com trilha sonora, mas sinceramente, com fatboy slim é diferente! ele está certo, venha sempre pra salvador, pro carnaval, combina mesmo, avibe é essa (odeio a palavra vibe)

enfim, entreguei o relatório e saí de lá me sentindo muito tranqüila, serena, já completamente calma e diferente de ontem. pensei: por que voltar pra casa agora, vou passear um pouco no campo grande. fiquei na praça ouvindo música e lendo um pouco. na hora que ia saindo e passei pelo parquinho onde as crianças brincavam, começou a tocar carla bruni e achei que combinava perfeitamente também.

a praça não é nada de demais, mas é agradável. lembrei de uma praça que vi em bh, só que essa era mais superlativa, a praça do campo grande é meio tímida, cheia de pombos e velhinhos, casais de namorado e crianças. voltei a pensar em bh quando voltava para casa, pensando naqueles bairros da orla (a beleza turística da barra, a "boemia" do rio vermelho - conheço só a faixa de fora, existe dentro? - a ordinariedade total de ondina, existe algum bairro mais ordinário, pequeno, caído?). gostei muito de belo horizonte, mas sempre me atordoava saber que não havia mar, não importando para que lado se olhava. a idéia de morar longe do mar me incomoda. não tem nada a ver com não gostar de praia.

quando saí da praça, pensei se ia para esquerda ou para direita, achei que pela direita ia parar em lugares longes, a esquerda não estava atinando onde ia dar, escolhi a esquerda. fui cair no corredor da vitória, vi o mar e fiquei perplexa (o mar não era atrás??), começou a tocar aqualung e achei deprimente ficar ali esperando o ônibus vendo esses prédios over de gente rica (e nem sabia de qual dos lados deveria pegar ônibus). mas adoro as árvores anyway! fui andando esperando chegar em um canto que não fosse a vitória e aí aconteceu algo que detesto: descobri que estava no lado contrário. sabe quando você anda imaginando que está indo num sentido, que tal coisa é de tal lado, sei lá, é meio estranho explicar... mas quando vi o cinema do museu minha cabeça deu um nó, porque era para estar do outro lado da rua... estava caminhando ao contrário do que imaginava. o lado bom disso foi que aí notei que estava indo para barra, ia pegar qualquer ônibus que me deixaria em casa depois de passear pela orla, que foi o que aconteceu. ainda estava meio em dúvida quando peguei o ônibus, mas quando passei pela ladeira da barra e vi que estava descendo e que a casa de nina, o iate, o cemitério, tudo estava onde deveria estar, relaxei, voltei a ouvir fatboy slim e reparei que tinham duas pessoas bonitas no ônibus, uma moça e um rapaz, os dois de jeans e branco, como eu.

e isso já não quer dizer nada.


tudo que eu não posso agora é cair na depressão. .

eu sei, sempre soube, que é uma questão de humor. o que não sei ainda é, claro, como controlar isso. hoje os fatos são os mesmos que eram ontem, mas ontem eu estava numa tranqüilidade assombrosa. eu sabia que tenho que passar por isso, que não tem escapatória, e não me sentia abatida - o que não tem remédio, remediado está; hoje, volto a me sentir numa armadilha da vida. quero fugir.

nunca estive animada e disposta a lidar com os fatos de cara limpa. ia simplesmente me arrastar tranqüilamente pela vida, como fiz até hoje. e ainda sei que vou fazer isso, só que hoje, ao contrário de ontem, não estou sentindo que isso vai passar, porque sempre passa.

preciso de um mínimo de coragem e sei que vou doar só o mínimo de coragem. sempre sinto que isso tudo é um prelúdio, que a minha vida ainda não começou. caso isso esteja errado e seja is this it mesmo, ou eu mudo ou i quit.

essa foto está aqui só porque gosto de olhar para ela

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Ai meu Deus! Carla Bruni e Yeats estão roubando a minha vida!

A Carla Bruni nasceu numa rica família italiana. Com uns 5 anos, foi morar na França. Obviamente, teve uma criação privilegiada, estudou em bons colégios etc. Chegou a estudar na Sorbonne. Aos 20 anos, resolveu virar modelo. Sim, porque além de rica, era linda. Viveu a vidinha de top, teve affairs, ficou ainda mais rica... Daí um dia, em 2002, resolveu lançar um disco. Nessa hora você para e pensa: peraí. Isso é a vida de tédio. Isso é Wanessa Camargo lançar um cd, ou até o marido (ex) da Britney cantar funk carioca; algo parece deslocado. Mas daí o cd dela faz sucesso - entre o público e também entre a crítica. Até aqui no Brasil ela teve um certo destaque, puxado pela música da novela, a deliciosa Quelqu'Un M'A Dit.




Esse primeiro disco da Carla é uma simpática incursão naquilo que é conhecido como nova chanson. A nova chanson nada mais é do que novos artistas tocando a velha e boa chanson. Bons representantes da nova chanson são a Corálie Clément, seu irmão e mentor Benjamin Biolay, a Keren Ann (às vezes, rs). A Charlotte Gainsbourg também tem um pé aí, embora o seu disco seja mais elaborado que o desses artistas. O da Carla Bruni é bem simples, uma voz suave e bonita, violão, arranjos singelos. É o tipo de disco que você coloca pra tocar e vai passando, rapidinho, rapidinho.

Nesse ano, Carla lançou seu segundo disco, No Promises. Eu não estava acompanhando notícias de produção e fiquei realmente surpresa ao ver que o disco era todinho em inglês; boa graça da chanson francesa é o fato dela ser francesa, afinal... Sussurrar em francês, por maior que seja o clichê, parece ter mais graça. Ouvi o disco uma vez, achei muito homogêneo e inferior ao primeiro.

Mas não deletei.

Ficava olhando a capinha, a Carla toda bonita no meio de vários livros, e resolvi dar outra chance. Uma vez é pouco, afinal. Dessa segunda vez, comecei a achar tudo melhor. Os arranjos (embora no todo ainda sejam muito homogêneos mesmo), o inglês e... as músicas, as letras! Daí a noob aqui finalmente foi ver o que se dizia do cd e me deparei com a notícia de que todas as músicas, todas, eram poemas que a Carla gostava, apreciava, e resolveu cantar. Fez as melodias, treinou inglês com a Marianne Faithfull e mandou brasa. Nas 11 faixas estão presentes 6 poetas: Emily Dickinson (três vezes), Yeats, W.H. Auden, Dorothy Parker (2 vezes cada), Walter De La Mare e Christina Rossetti (uma vez cada um).


Eu parei na Those Dancing Days Are Gone, a música que abre o cd, uma balada do Yeats. É sensacional, o poema, lindo, vívido, imagético, e a música é linda também. Estou andando com esse poema pra cima e pra baixo, tentando ler num ritmo diferente do da música, não porque o ritmo que a Carla dá seja ruim ou não, acho sensacional, mas só pra tentar entender como era, ou poderia ser. Ontem estava ouvindo umas mp3 com a Sylvia Plath fazendo leituras de sua poesia (não acho que ela lia muito bem, fazia muito a grave, e acho que perdia certos encadeamentos às vezes, enfim) e daí lembrei de tentar ver algo do Yeats, mas não achei essa.

Come, let me sing into you ear
Those dancing days are gone
All the silk and satin gear;
Crouch upon a stone
Wrapping that foul body up
In as foul a rag:
I carry the sun in a golden cup
The moon in a silver bag.

Curse as you may I sing it through;
What matter if the knave
That the most could pleasure you,
The children that he gave,
Are somewhere sleeping like a top
Under a marble flag?
I carry the sun in a golden cup
The moon in a silver bag.

I thought it out this very day,
Noon upon the clock,
A man may put pretence away
Who leans upon a stick,may sing, and sing until he drop
Whether to maid or hag:
I carry the sun in a golden cup
The moon in a silver bag.

O Yeats já cede o estribilho de bandeja, e amo as batidas do violão que acompanham quando a Carla fala cada uma das palavras do refrão, pronunciando cada sílaba com um cuidado de não-falante da língua. Estava vendo alguns poemas do Yeats e ele gosta muito de colocar essas repetições, de baladas. Até na outra poesia dele que a Carla canta, Before the World Was Made, isso acontece. Na música a Carla mistura essa última estrofe com a primeira, cantando fica assim:

Come, let me sing into you ear
(I thought it out this very day,
Noon upon the clock,)
All the silk and satin gear;
(A man may put pretence away
Who leans upon a stick)
May sing, and sing until he drop
Whether to maid or hag:
I carry the sun in a golden cup
The moon in a silver bag.

As partes entre parênteses são cantadas mais rápidas, por outras pessoas.


Acho que essa semana ouvi essa música mais de cem vezes; ela fica tocando na minha cabeça quando deito pra dormir, e penso nela quando estou escovando os dentes, e no meio de uma reunião o refrão vem à minha mente imperiosamente e eu não tenho outra saída a não ser cantarolá-lo (ou declamá-lo) e receber um olhar curioso, seguido de um sorriso cúmplice. É mágico.

Achei no youtube um vídeo que diz ser a promo dessa música. Não sei se oficial, mas é muito bonitinho, com cenas da Carla caminhando em Paris, parecendo bem caseiras, e a música tocando. Tem também ela cantando ao vivo sei lá onde. Acho que ao vivo perde muito, mas taí, não se perde nada vendo.


Those Dancing Days Are Gone - Promo


Those Dancing Days Are Gone - Ao Vivo

domingo, 1 de abril de 2007

O CÉU É UM SET DA MGM


O CÉU É UM SET DA MGM


Existe algo errado num mundo em que as pessoas não saem cantando e dançando na rua. POR ALEXANDRE SOARES SILVA.

Ah, musicais. Estou disposto a defender a tese de que a MGM, quando Arthur Freed era produtor lá, e especialmente no período entre O Mágico de Oz (1939) e Gigi (1958), era solo sagrado. Tenho uma devoção religiosa a nomes como Freed, Fred Astaire, Betty Comden, Alan Jay Lerner e Frederick Loewe; e toda a minha noção do que é sublime vem da cena da charrete em A Roda da Fortuna.

As pessoas sempre riem dos musicais porque um personagem de repente sai cantando, mas deviam rir é da vida porque ninguém sai cantando assim - improvisando de súbito uma melodia perfeita e uma letra toda espertinha. Vocês não sentem que a vida devia ser assim? Não é esse o prazer de ver um musical - imaginar um mundo em que nosso pensamento seja tão rápido, tão desimpedido de sono, cansaço e burrice que possamos improvisar grandes músicas ao ritmo de uma a cada dez minutos, no supermercado, na feira, no aeroporto? E onde nossos corpos sejam tão ágeis (ou talvez a gravidade seja um pouquinho menor, ou ambos) que enquanto cantamos vamos improvisando uma dança descendo e subindo as arquibancadas da quadra de vôlei, enquanto as outras pessoas não riem, mas pelo contrário, se juntam à dança numa coreografia espontânea, espantosa?

Existe algo de errado num mundo em que as pessoas não saem cantando e dançando na rua, e se muitas pessoas não gostam de musicais é porque sentem que esses filmes a criticam de uma forma mais violenta que qualquer outra forma de arte. Outras formas de arte ficam nos acusando de sermos burgueses, alienados, meio esquecidos, vesgos, carecas, barrigudinhos - todas acusações ridículas. Não, é pior. Somos aqueles que são incapazes de improvisar uma música quando compramos uma maçã de uma velhinha dançante numa banca de frutas colorida como um set de Vincent Minelli.

Essa falha na natureza humana só será redimida no céu. Quando se diz que os anjos cantam, é isso que se quer dizer - que eles cantam. Os retratos mais realistas da vida no céu - de um realismo de cinema italiano do pós-guerra, mesmo - são filmes como Um Americano em Paris e A Roda da Fortuna - que são uma espécie de descrição literal de como vivem os santos depois dos martírios todos. Depois que as fogueiras esfriaram e os leões fizeram suas digestões, os mártires subiram para um céu que se parece com um set de Paris da MGM, e estão cantando até hoje, com George e Ira Gershwin e Cole Porter tentando anotar a letra em pedacinhos de papel e nas mangas das camisas, mas sendo impossibilitados pelo fato de que estão eles mesmos dançando como loucos. Deus, mesmo, é um número de dança.

fonte: Bravo 115

Vídeo do Gente Kelly, just singing in the rain...