segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Groupies - Sexo, drogas e rock’n’ roll

Dos bastidores dos shows de rock aos quartos de hotéis, elas entraram para a história como aquelas mulheres que queriam bem mais do que um simples autógrafo de seus ídolos. movidas pelo amor à música e pelo glamour, muitas Não descansavam enquanto não os levavam para a cama.
Elas marcaram a época de ouro do rock’n’roll, nos anos 60 e 70. Cynthia Plaster Caster moldava os pênis dos astros que namorava. Bebe Buell era modelo da Ford e foi demitida da agência ao posar nua para a Playboy e sair namorando uma dúzia de roqueiros dos mais badalados. Cherry Vanilla causou furor ao assumir o caso simultâneo com David e Angie Bowie. Pamela Des Barres era uma ingênua fã de Paul McCartney — como todas as meninas da época — antes de cair na estrada atrás de bandas de rock.

A história de Pamela, Cherry, Bebe e Cynthia, entre tantas outras, poderia ser também a história de Penny Lane, uma simpática loirinha de cabelos cacheados, protagonista do filme Quase Famosos (Almost Famous), há semanas em cartaz na cidade. Em comum entre elas, um termo que andava fora de moda e soa totalmente estranho para quem tem menos de 30 anos ou nunca mergulhou no universo do rock: todas eram groupies.
Mais do que simples fãs, as groupies entraram para a posteridade como aquelas mulheres que queriam bem mais do que um simples autógrafo de seus ídolos: em tempos de muita droga e rock’n’roll, queriam — dar e receber — sexo. Queriam transar — ou pelo menos cultivar uma amizade — com seus músicos preferidos. Pronto: estava cunhado o trinômio que mexeu com a cabeça e o comportamento de várias gerações. Em comum, também a paixão pelo rock e pela badalação em torno de seus ídolos, com quem ficavam dos camarins aos quartos de hotéis.
O termo foi cunhado pela revista Rolling Stones, a bíblia do rock, e logo se tornou pejorativo. As meninas assumiam suas relações com os ídolos, gostavam de colecionar conquistas, mas detestavam o nome groupies.

FILÉ MIGNON

‘‘A música para mim era muito mais do que a admiração de uma menina pelos artistas no palco. Representava liberdade, inspiração e rebelião. Nunca estive à procura de sexo; para mim é a parte mais difícil. Estava à procura de rock and roll.’’ A afirmação podia ser da fictícia Penny Lane do filme, namorada do guitarrista Russel Hammand, da também fictícia banda Stillwater, mas a frase é de uma das groupies mais famosas de todos os tempos. Bebe Buell, mãe da atriz Liv Tyler, era chamada de ‘‘filé mignon do rock’’. Além do cantor Steve Tyler (Aerosmith), pai de Liv, sua lista de conquistas é extensa e inclui Mick Jagger, Iggy Pop, David Bowie, Jimmy Page, Patti Smith, Rod Stewart, Elvis Costello e Stiv Bators. Mas Bebe rejeita o rótulo de groupie.
‘‘É irônico, mas só depois de namorar um roqueiro é que comecei a ser chamada de groupie, o que eu achava engraçado, porque sempre pensei que groupies eram aquelas que não conseguiam namorá-los’’, disse Bebe em entrevista à revista Details, em 1996. Ela se diz uma rock’n’roll girl, espécie de namorada de roqueiro. Quando menina, sonhava em se casar com Mick Jagger. Conseguiu apenas umas transas eventuais.
Em Quase Famosos, a gatinha Penny Lane diz que namora astros porque ‘‘gente famosa é mais interessante’’, respondeu. Bebe Buell concorda: ‘‘É perigoso. É divertido. A vida fica mais interessante quando se acorda todos os dias com uma pessoa que está sempre com o humor diferente’’.



Bebe Buell Modelo nos anos 70, Bebe foi uma das groupies mais conhecidas. viveu com o roqueiro Todd Rundgren. Seu caso mais célebre foi com o cantor Steve Tyler, do Aerosmith. Bebe engravidou e teve Liv, hoje badalada atriz de Hollywood.

Saiba Mais

O que é uma groupie?

O termo groupie foi popularizado nos anos 60 para definir alguém cuja vida social girava em torno de encontros e perseguição a roqueiros. Derivou do inglês group (grupo). Numa tradução livre de groupie, seria algo como enturmada. Hoje, o termo pode ter várias conotações, mas continua significando uma pessoa que persegue algum relacionamento (em geral, sexual, embora nem sempre) com celebridades.

DIFERENÇAS

No imaginário, costuma-se afirmar que groupies são starfuckers, sluts, golddigers ou, simplesmente, prostitutas. Veja as diferenças entre as categorias.

Fãs

Ficam felizes quando se encontram com o ídolo, ganham um beijo, autógrafo, uma foto. Já as groupies querem sempre algo mais e não sossegam enquanto não conseguem.

Starfucker

Tradução livre (e publicável): namorada de astros. É uma subcategoria de groupies que buscam relacionamento sexual apenas com pessoas famosas, em geral para se vangloriar disso. Nem todas as groupies se enquadram neste perfil; algumas estão em busca de amor e romance, enquanto outras querem apenas amizade. Muitas groupies também são atraídas por roqueiros anônimos e não apenas por rockstars.

Sluts (Vagabundas)

Viciadas em sexo. Nem sempre groupies querem sexo.

Golddiggers

Caçadoras de dotes, oportunistas. Querem dar o golpe do baú. Já groupies não só não estão atrás de um marido como algumas acabam se relacionando com artistas que não são ricos.

Prostitutas

São pagas para fazer sexo, enquanto as groupies fazem de graça, por prazer.

Fãs obsessivas

Em geral, perderam a noção da realidade. Pensam que têm um relacionamento com o objeto de seu desejo, mas esse relacionamento não existe. Gastam muito tempo e dinheiro atrás de seus ídolos e sacrificam muitas coisas importantes em suas vidas, como namorados, amigos e família. Recomenda-se terapia para esses casos. Já as groupies querem conhecer seus ídolos como um ser humano real, e não como um deus, ou uma deusa. Groupies conhecem seus limites e sabem respeitar a privacidade de um ídolo. Elas, porém, podem acabar se tornando fãs obsessivas.



mamãe rock and roll. GOD BLESS THE GROUPIES. Texto retirado do site Correio Web. Muito engraçadas essas definições.

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

As últimas: passando o dia baixando música. Havia vida antes da internet? Um pouco mais intelectual, talvez. To ouvindo muito Jewel, Portishead, Shivaree, Belle & Sebastian. Acho que só. Férias acabando.

quarta-feira, 13 de julho de 2005

backfire - aimee mann

nunca mais ouvi uma música pop tão gostosa.

domingo, 10 de julho de 2005

Aimee Mann (com pitadas de PJ Harvey)

tirado do site: www.wezen.com.br/wezine

A vida ao redor - n°5Estranhas Histórias de Sabedoria
por Martim Vasques da Cunha

"I walk on concrete,
I walk on sand,
but I can´t find a safe place to stand"

P.J.Harvey, "Big Exit"

"Eu ando sobre o concreto, eu ando sobre a areia, mas não consigo encontrar um lugar seguro para ficar". A frase é terrível, sem dúvida, e toda uma sensação de deslocamento, de exílio, de inaptidão - e, principalmente, de perigo - aparece, entre guitarras musculosas e um ritmo nervoso, no início do grande álbum de P.J.Harvey, "Stories of the sea, stories of the city". Geralmente, fazer rock-n´-roll é uma profissão quase masculina, mas, obviamente, isso é uma besteira. Ao mesmo tempo que temos um Neil Young ou um Lou Reed, existe uma Patti Smith ou então a própria Polly Jean Harvey, uma cantora inglesa nascida no vilarejo marítimo de Dorset.

Isto acontece na seção "guitarra - baixo - bateria - voz ", o quadrado sagrado do rock. A mesma comparação pode se fazer no setor "melodias leves e agradáveis com letras irônicas", no qual o mestre é, para pesadelo de muitos, o meloso Burt Bacharach. Muitos críticos acreditam que seu mais afinado discípulo é o elegante Elvis Costello, mas, infelizemente, ele perdeu o posto para uma moça de quarenta anos, loira, alta, e que briga o tempo todo com a indústria fonográfica americana: Aimee Mann. Há ainda um adendo: Mann é infinitamente melhor que seus mestres, não só por ser mulher, mas por ter uma ironia que chega ao patamar da sabedoria, uma sabedoria que, por sua vez, tem muito mais de Lou Reed do que de Burt Bacharach.

Tanto P.J.Harvey como Aimee Mann não ficam resmungando sobre como "o homem é um crápula safado e etc, etc, etc, etc" e todo aquele papo feminista que fizeram a fama de Gloria Steihem e estragaram talentos como Erikah Badu e Paula Cole. Parece que ocorre o contrário: elas gostam dos homens e, o melhor, gostam de falar sobre eles. E, na verdade, ambas sabem o quanto as suas vidas artísticas tiveram uma incrível reviravolta por causa de, justamente, dois homens.

No caso de P.J.Harvey, o homem foi ninguém menos que Nick Cave, o cantor australiano que virou uma lenda viva graças a músicas como "The Carny" e "From Her To Eternity", filmados brilhantemente por Wim Wenders em seu clássico filme "Asas do Desejo" (1988). "Stories of the sea, stories of the city" é uma reflexão do relacionamento que Cave e Polly Jean tiveram entre 1996 e 1998. Nesse tempo, Cave fez dois álbuns estranhos, "Murder Ballads" (onde dividia uma faixa com P.J.) e "The Boatman´s Call", em que ruminava o fim de sua relação com a inglesa. Enquanto isso, Polly Jean lançava "Is This Desire" (1998), seu disco mais sombrio, repleto de programações e sonoridades eletrônicas, muito diferente dos primeiros "Dry" (1993) e "Rid of Me"(1994), agressivos, rudes e prestes a explodir a qualquer momento. "Is This Desire" era um notável desenvolvimento, especialmente na canção "The River", uma das mais melancólicas já feitas. Mas o fantasma de Cave ainda a assombrava e a única solução foi se mudar para Nova York para acalmar os ânimos.

Mas, como já dizia Bono, "In New York you can´t forget, forget how to sit still" - e foi isso aconteceu com Polly Jean na Big Apple. Armada com uma guitarra, Harvey começou a compor as canções para seu novo álbum e, por uma estranha ironia, elas ficavam cada vez mais parecidas com músicas do mar, especialmente de sua cidade natal, Dorset. Para quem não sabe, Dorset é um vilarejo inglês que só se vê água por todo lado - e as ondas do mar influenciavam no ritmo e nas letras das composições de P.J..

Enquanto isso, no vale de San Fernando, um rapaz de 28 anos escrevia um roteiro para um filme de três horas de duração e que falaria sobre perdão, arrependimento, coincidências e chuvas de sapos. Seu nome era Paul Thomas Anderson, e o tal filme seria nada mais nada menos que "Magnólia"(1999), o épico sobre "coisas estranhas que acontecem o tempo todo". No exato momento em que estamos retratando-o, Anderson está literalmente empacado com uma passagem do roteiro: seus oito personagens chegaram a um ponto em que eles não sabem o que fazer. O próprio Anderson não sabe o que fazer. Ao fundo, ele escuta uma canção embalada numa voz dócil, calma, costurada em um piano melancólico, e, então, num desses fenômenos de sincronicidade que só ocorrem uma vez a cada cem anos ( para citar Vladimir Nabokov), vem a frase definitiva: "It´s not going to stop until you wise-up"(Não vai parar até você não se tocar).

Era Aimee Mann dando a solução para o problema. Imediatamente, Anderson colocou os personagens cantando a canção, além de enxertar várias vezes outras músicas como uma espécie de comentário sobre o que acontecia na tela. "O que eu queria fazer com 'Magnólia'", explica Anderson, "era, do mesmo modo que se adapta um livro para cinema, adaptar as canções de Aimee Mann para o filme, falando sobre os mesmos temas, como o medo da solidão e como você se sente inadequado em um mundo muito estranho". Ponto para Anderson: se há algo que Aimee Mann sabe falar como poucos é justamente o medo de se sentir sozinho, de ser um deslocado o tempo todo - de andar sobre o concreto, sobre a areia e não encontrar lugar seguro para ficar.

E deslocada era o que ela era na época. Sem contrato com nenhuma gravadora de grande ou médio porte (a última foi a A&M Records que, segundo Aimee, "sabotou o meu trabalho"), Mann se trancou em um pequeno estúdio e gravou algumas músicas com uma banda de amigos. O resultado foi uma fita-demo com cerca de 30 músicas que foram parar na mão de Paul Thomas Anderson graças a Michael Penn, marido de Aimee e produtor de bandas como The Wallflowers e Macy Gray. Anderson escreveu o roteiro de "Magnólia" em cima desta fita e, ao ver que o trabalho de Aimee havia se tornado o eixo do filme, convidou a cantora para fazer a trilha sonora.

"Magnólia", como todos sabem, foi um sucesso, e de repente, para os críticos de plantão, surgiu uma moça chamada Aimee Mann. Claro que ela não era uma amadora: Aimee havia conseguido um relativo sucesso nos anos 80 com a banda feminina Til Tuesday e seus primeiros discos solos foram elogiados pelos especialistas da indústria fonográfica. Mas, como a própria disse em uma entrevista à Spin Magazine, "eram trabalhos de alguém que ainda não tinha coragem de desafiar, de arriscar".

Assim, ela fez algo que poucos teriam coragem de fazer: criou a sua própria gravadora, a SuperEgo Records, e lançou "Bachelor n 2", o álbum final daquele fita-demo que Paul Thomas Anderson estava ouvindo há um ano. Desprezando as grandes gravadoras e distribuidoras, Mann promoveu seu disco somente pela Internet em seu site oficial (www.aimeemann.com) e, em menos de 2 meses, a HMV (uma das maiores redes de loja de CDs dos EUA) assinava um contrato de distribuição exclusiva. Isso não a tornou um estouro de vendas, mas permitiu a Mann uma liberdade criativa sem precedentes em sua carreira.

O mais interessante é que o trabalho de Mann não é nada experimental. É pura música pop, feita com habilidade de mestre e carinho de confecção. "Bachelor n 2, or the last remains of the dodo" é um álbum perfeito em sua totalidade, daqueles que você escuta com um prazer de decorar cada nota de guitarra, cada virada de bateria e, claro, o tom da voz de Aimee Mann, cantando de forma agridoce como é díficil manter um relacionamento entre duas pessoas e, muitas vezes, consigo mesmo.

Suas letras, assim como as de P.J.Harvey, podem ser definidas como estranhas histórias de sabedoria. Vejam como ela fala de remorso de uma maneira irônica e sutil nesta estrófe de "Red Vines":

"And tell me, would it kill you (E diga-me, isso vai te matar)
would it really spoil everything ( vai estragar tudo)
if you didn´t blame yourself ( se você não se culpar)
do you know what I mean?" (você está entendo o que eu quero dizer?)

O verso "Do you know what I mean" pode parecer comum já que todo o americano fala, como se fosse um maldito vício, esta expressão no final de cada frase (Os brasileiros também caem no mesmo erro com o famoso "né?" ou o horrível "cê tá me entendendo?"). Mas aqui Mann quer dizer algo mais: geralmente esta expressão é usada para enfatizar o que o interlocutor quer dizer; no entanto, nesta canção, "do you know what I mean" é, na verdade, "você sabe realmente o que estou querendo dizer?". De um simples clichê, Mann esmiúça o problema de todo o relacionamento: comunicação. As pessoas se encontram, se falam, conversam sobre aquilo, sobre o tempo, sobre o cachorro do vizinho, se olham, mas não se entendem. Aliás, ninguém se entende, é o que parece dizer tanto Aimee Mann como Polly Jean Harvey.

Observem "The mess we´re in", a sétima faixa do álbum de P.J.. Cantada em dueto com Thom Yorke do Radiohead, é uma típica balada de separação, mas que termina com uma dignidade incrível:

"The way you wanted (Como você queria)
not really is what you wanted (Não é realmente como você quer)
I just wanna say (Eu só quero dizer)
Don´t ever change (Nunca mude)
I think we´ll never meet again" (Acho que nunca mais nos veremos de novo)

Os dois amantes aceitam que a possibilidade de nunca mais se verem é algo que acontece nesta vida. Pode parecer uma inversão de valores neste mundo materialista, dominado pela gana de ganhar e de vencer em tudo, seja na vida pessoal ou profissional, mas, às vezes, nem sempre uma perda é uma perda - pode ser uma vitória. Contudo, seria a vitória dos deslocados, dos exilados - os únicos que podem contar essas estranhas histórias de sabedoria. Para este seleto grupo, o reino deles não é deste mundo. Polly Jean Harvey e Aimee Mann conseguem ter a mesma visão afiada de gigantes como Bob Dylan, mas acrescentando um detalhe que nenhum homem possui: a compreensão total da Vida. Por mais que um ser do sexo masculino seja um gênio, ele vai fazer um esforço dos diabos para ter um pequeno vislumbre do Todo. Já a mulher tem aquilo que os investidores chamam de "investimento a longo prazo": é ela que detém o poder de dar vida, de procriar e fazer nascer a Humanidade. Para citar o velho e bom Charles Baudelaire, "a mulher é o único ser na face da Terra que pode jogar a mais brilhante das luzes ou a mais negra das trevas". É por terem todas as forças do mundo dentro de seus Espíritos é que elas são as únicas que detém a verdadeira sabedoria; são as mulheres que ajudam os homens a realizarem a verdadeira ação prática, a ação que transforma o mundo não em algo melhor, mas em algo mais compreensível.

E, como todo o ser humano, elas também podem ter suas falhas e seus remorsos. Aimee Mann capta isso com uma frieza de cirurgiã em "Just Like Anyone":

"So maybe I wasn´t (Então eu não fui)that good a friend (aquela grande amiga)
but you were one of us (mas você era um de nós)
and I will wonder (e eu fico pensando)
just like anyone (como qualquer uma)
if there´s was something ( se havia alguma coisa)
else I could´ve done.( que eu poderia ter feito)
So maybe it´s true that (Então talvez seja verdade)
you cry for help (que você gritou por socorro)
was oh, so very faint ( foi tão baixo)
but still I heard ( mas eu ainda escuto)
and knew something was wrong (e eu sabia que alguma coisa estava errada)
just nothing you could (e nada você poderia fazer)
put your finger on ( para tampar com o dedo)
and I will wonder (e eu fico pensando)
just like anyone (como qualquer uma)
just like anyone" (como qualquer uma)

A simplicidade destas palavras talvez não podem ser entendidas em sua totalidade. Há um remorso que corroí a voz de Aimee que chega a ser comovente - ainda mais, quando na canção seguinte, "Susan", ela chega a acreditar na esperança que pode ser uma ilusão, "mas é muito bonita enquanto ainda está aqui". A vida é complicada, pessoal, parece dizer Aimee e Polly Jean, mas não custa aceitar ela como é. Este é o jogo e, ao mesmo tempo, a regra do jogo. Se no fim de "Bachelor n 2", Aimee Mann termina afirmando que o amado ou amada realmente faz as coisas acontecerem ( na antológica "You Do"), P.J. Harvey termina "Stories of the sea, stories of the city" com o medo de

"You carried all my hopes (Você carregou todas as minhas esperanças)
Until something broke inside" ( até que algo se quebrou por dentro)

porém aceitando o mundo como ele é e não como deveria ser. Pois assim são as coisas que ficam, e não as coisas que passam: elas podem estar terminadas em um dia, mas recomeçadas no outro. Começar de novo é a primeira regra de todas as sabedorias. E somente as mulheres -"este continente obscuro da existência humana", como diria o doutor Freud - podem fazer isto realmente acontecer.

Martim Vasques da Cunha é escritor e jornalista.

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Gisele

Eu e Gisele Bündchen
Vi a modelo Gisele Bündchen na semana passada, numa festa organizada por um provedor de internet. Tentei descobrir quanto ela tinha ganho para comparecer ao evento, mas sou um mau jornalista e não obtive a informação.
A festa se realizava num casarão abarrotado de gente. Gisele Bündchen, porém, não se misturava conosco, permanecendo numa salinha reservada, atrás de espessas cortinas, com o acesso limitado apenas a uns poucos privilegiados. Eu não era um deles, infelizmente. Pelo contrário: tinha entrado de bico na festa, graças à operosidade de um amigo fraterno. Como Gisele Bündchen podia ser um bom tema para um artigo, tendo sido inclusive reportagem de capa de VEJA, resolvi me empenhar para penetrar em sua salinha. Minha primeira iniciativa foi tentar comprar o crachá de um dos inúmeros fotógrafos presentes à festa, mas nenhum se dispôs a aceitar minha generosa oferta. Decidi então procurar outros canais, falando com todas as pessoas que encontrava. Senti-me como naquele filme do italiano Marco Ferreri, em que o protagonista vai a Roma e perambula para cima e para baixo, em busca de uma audiência papal. Por volta de 3 da madrugada, finalmente, consegui encontrar um espírito benemérito que me permitiu entrar na salinha-bunker de Gisele Bündchen. Ela estava sentada numa poltrona de veludo. Percebendo meu embaraço, levantou-se, reclinou o tronco para ficar da minha altura e abençoou-me com dois beijos no rosto.
Nesse exato instante, o artigo que eu havia composto na cabeça foi para o espaço, dissolvendo-se irremediavelmente. No artigo, eu pretendia estabelecer um paralelo blasfemo entre a fila de admiradores diante da salinha de Gisele Bündchen e a procissão de fiéis a um santuário religioso. A partir daí, passaria a tecer amargas considerações sociológicas relativas à efemeridade do mundo contemporâneo. Parecia-me excessiva a atenção em cima dela. Quase patológica. Sempre considerei que era necessário colocar esses fenômenos de massa nas devidas proporções. Era essa minha intenção no artigo sobre Gisele Bündchen. Quando a vi frente a frente, entretanto, todas as minhas defesas intelectuais ruíram, e, para minha grande vergonha, caí de joelhos numa espécie de êxtase religioso, exatamente como os outros infelizes que ali se encontravam. Nunca vivi tamanha humilhação. Não tinha o menor cabimento que um intelectual sério e desencantado como eu reagisse de maneira tão infantil e obtusa diante de uma menina de 19 anos, que nem se deu ao trabalho de abrir a boca. Mas foi o que aconteceu. Na desesperada tentativa de racionalizar esse sentimento, perguntei-me quanto eu havia sido influenciado pela propaganda e quanto havia sido motivado, efetivamente, por sua extraordinária beleza. Não cheguei a conclusão alguma. A essa altura, a última arma que me restava era me desincorporar e observar a cena do lado de fora. O que vi foi uma fábula dos Irmãos Grimm, com um gnomo aos pés de uma valquíria. Essa imagem patética me permitiu recobrar a razão por uma fração de segundo, tempo suficiente para que eu virasse as costas e fugisse em disparada. Nunca mais quero ver Gisele Bündchen. Vocês que fiquem com ela.
Diogo Mainardi
(Veja - 09/02/2000)

domingo, 3 de julho de 2005

Pega Vida



Comprei hoje. Ouvi enquanto fazia outras coisas e achei gostosinho. O projeto gráfico é muito bom. Hoje foi um dia cheio. Aliás, como é final de semestre está tudo meio cheio. E finais de temporada. E. E. E eu deveria estar estudando semiótica.
Se você quer saber o que falaram desse cd, veja no site oficial algumas críticas. Gosto da do Hagamenon Brito, mas acho a do Adalto Alves a melhor. Confira:
http://www.kidabelha.com.br/disc_pegavida_cri.htm#

terça-feira, 28 de junho de 2005

Quarteto Fantástico

Quarteto Fantástico



Apesar de estar bem ansiosa pra ver (e está próximo, dia 8 de julho), ainda não estou bem certa do que acho sobre o filme. E, sim, eu deveria estar. A gente sabe, num grau de 90% de acerto, o que vai achar de um filme. E, sim, pelo menos eu às vezes vou ver um filme que eu sei que eu não vou gostar. Ou que é ruim (coisas diferentes). Eu fui ver "Elektra" assim - para ficar com um exemplo de HQ nas telas. Também sabemos quando a coisa vai ser boa 9 "Batman Begins", o caso mais recente. Sim, tem uns meio termos que deixam dúvidas - caso do último filme que vi, "Tentação", que não tinha muita idéia do que ia achar - e isso acabou se reproduzindo na opinião, porque a cara é sem sal, o filme é sem sal, então não sei ao certo o que achei.Mas Quarteto Fantástico me desafia! Não sei, não faço idéia, se vai ser bom ou uma merda. Claro, na condição de uma leitora ocasional, acho que saio em vantagem - mas odiei, ODIEI, aquele cara que vai fazer Reed Richards. Achei nada a ver, sei lá, o tom do cara. O ar dele. Em compensação, gostei do resto do elenco. Estava com um pé atrás em relação a Jessica Alba, mas passou depois que eu vi o trailer ("No. Let's").

domingo, 26 de junho de 2005

Balanço

A rigor, o feriadão ainda não terminou. Ainda tenho amanhã (tecnicamente) todo um domingão de tortura pela frente; a minha sempre sofrida tortura da trincheira... Meus compromissos, minhas responsabilidades, os acontencimentos, tudo me espreita. Eu fico sem ar. Fico ansiosa. Fico com vontade de apertar o ff. Enfim. O feriadão foi solitário mesmo. Às vezes, me dava um puta medo, o que basicamente ocorria todas as noites... Eu odeio escuro, e tudo aberto, tantas quinas, isso me enerva. Sem contar que hoje me bateu uma vontade de falar com alguém... Mas, de resto, foi show. Primeiro: silêncio. Silêncio! Eu pude ficar em paz, relaxar, até mesmo estudar. Pude ouvir música altíssima com a porta aberta. Pude fazer as coisas do meu jeito. Ainda tive uma ida gloriosa ao mercado, de moletom, tênis, blusa do Nirvana e casaco jeans, e comprei um monte de besteiras, o que eu quis! Baconzitos, pizza, coca-cola... Voltei pra casa super embriagada com essa sensação de vida solitária por dois dias. Sei lá, é difícil explicar, mas os limites são meus... E eu sei que ninguém vai chegar... Então fico relaxada. Ainda pude ver a Sky sem neuras... E, sim, estudar Semiótica. Foi MUITO difícil me concentrar, claro que me distrai e não consegui fazer tudo (poxa, hoje realmente meus planos eram estudar de 12 às 3 e depois de 6 à terminar o livro, e só estudei de 12 às 2 e daí fui ver o jogo do Brasil, fui no mercado, vi Desperate Housewives, comi, fiquei no PC, vi Insônia... E agora tô aqui... pensando em dar mais uma encaradinha), mas serviu pra me mostrar que seria IMPOSSÍVEl em situações normais. Aliás, já estou até imaginando, Joanna de férias, Júlio de férias, minha mãe de semi-férias, e eu sendo esmagada pelo fim de semestre. Sem chance.

A proximidade da prova de Semiótica me deixa tensa. Só pra ficar na neura, outras obrigações: texto de Setaro (CLARO que não fiz... nem li o texto base); fanzine (é pra rir?), Mosaico (ai, céus), roteiro de edição (ignorando sem culpas).

Well. Foi uma boa experiência. Um pouco culpada pela enganação, mas, enfim, estudei mais que o semestre inteiro junto...

sexta-feira, 24 de junho de 2005

Final de semana semiótico

É isso mesmo. Umberto Eco, get a life. Campanha do novo milênio. Enquanto isso, eu tento não me afogar muito em Semiótica - ainda quero vida depois disso.
E as coisas nem estão tão intensas assim.
Ouvindo Love Burns, do Black Rebel Motorcycle Club.




A seguir: Quarteto Fantástico!

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Get Behind Me Satan




o cd do white stripes eu tinha quase certeza que ia ser foda. claro, sempre há chance dos caras pirarem e lançarem uma bosta. mas eles têm 4 cd's, todos bem diferentes entre si e com um bom nível (meu top top white stripes: 1 - elephant ; 2- de stijl; 3- white blood cells; 4-white stripes - o cd novo ainda não sei em que ponto vai entrar ao certo).
pois bem, o cd chegou aqui com o novo do coldplay (x&y), que é legalzinho mas é aquela coisa, só o tempo vai melhorar (ou não) a audição. vidrei em umas duas músicas e só. mas o do white stripes desde uma primeira audição já me pegou. fiquei pensando, "putz, o cd tá bom". notei que as músicas passam de uma pra outra super rapidamente, e tal, mas o dia a dia cheio não me permitiu fazer uma audição mais acurada do cd (eu ouvi arrumando o quarto, meio distraída). depois, como comprei o cd que o air fez pra trilha d'as virgens suicidas, fiquei com três cd's aqui pra ouvir (e devo admitir que to meio viciada na trilha).
bom, é impossível não notar pelo menos um paralelo com o elephant, que é a habilidade de extrair muito de quase nada - por exemplo, temos novamente meg white cantando de um modo singelo, sem muito mistério.
blue orchid eu já tinha baixado na net, a custo de muito esforço. da primeira vez que ouvi estranhei pra caramba ("isso não parece white stripes!"), mas não demorou muito e eu tava adorando. a música é forte, pesada, dá vontade de ser rockeira. e tem esse nome lindo.
gostei pra caramba também de the nurse ("no i'm never, no i'm never, no i'm never gonna let you down"), que tem percussão de xilofone, vejam vocês. daí vem my doorbell, que é uma delícia de música; forever for her (is over for me), que também é gostosinha de ouvir; little ghost, que tem uma coisa mais country, muito bom; the denial twist me lembra alguma outra coisa dos stripes, mas não consegui identificar - já abre rasgando; white moon, bem arrastada (acho que foi das que menos gostei, assim, eu gostei, mas falando relativamente). instinct blues, como diz o nome, é um blues. no final, a coisa fica bem tosqueira. passive manipulation chega a dar um susto quando se ouve da primeira vez. era parte da música de antes? início da que vem depois? que é isso? isso é meg white cantando uma música fofinha, com muita pouca coisa por trás - e a letra? "women, listen to your mothers don't just succumb to the wishes of your brothers/take a step back, take a look at one another/you need to know the difference... between a father and a lover". só. três vezes. take, take, take também me lembra algo que ainda não identifiquei. algo bom. principalmente na hora do refrão, quando jack canta "take, take, take" ao piano. as ugly as i seem e red rain são boas canções. o disco fecha com chave de ouro: i'm lonely (but i ain't that lonely yet), que é linda, linda, linda.

para uma análise um pouco mais detalhada:
http://www.revistaparadoxo.com/materia.php?ido=2275

terça-feira, 14 de junho de 2005

vivendo de baixar música. dá até dó sair do pc porque to passando o dia no soulseek baixando coisinhas e ouvindo. em coisa de dois dias, três, baixei o disco do art brut, o de juliette & the licks, a trilha que o air fez pra virgens suicidas, sem contar quase toda a discografia da aimee mann. ah, baixei a trilha de donnie darko, coisinhas do the coral, e agora to tentando pegar a trilha de lost in translation e os cd's do the kills. ou seja, a necessidade de ter um gravador de cd's é quase insuportável. ainda tenho meus novos amores, os novos do coldplay e do white stripes.

***
vamos começar a sessão filmes que estou muito ansiosa pra ver. acho que uma parte beeem considerável deles é blockbuster, tem um ou outro que podem ser considerados "cult" - e tem a fantástica fábrica de chocolates, que pode ser considerado uma unanimidade...o primeiro deles, por ordem de chegada, é batman begins. já tá na porta, nas propagandas de tv, num outdoor na paulo vi... batman tem uns motivos óbvios para minha ansiedade, mas posso sintetizar com uma expressão, bem batida, é verdade, mas nem por isso menos verdadeira: cultura pop!eu não leio os quadrinhos do batman, acho as adaptações anteriores de fracas a vergonhosas,mas peraí: christian bale como bruce wayne? michael caine como alfred? chritopher nolan na direção? sombrio? aqueles cartazes lindos? "doens't come in black?"? michael caine como alfred? e mais cillian murphy + gary oldman + liam neeson + morgan freeman? tá, até mesmo katie holmes? pode ser que eu me decepcione pra caramba - mas eu duvido, hein -, só que esse filme promete.até os pôster estão tão bons que foi difícil escolher esse aí. é esperar pra ver.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

tô chocada.
como assim as pessoas não acham a drew barrymore com uma puta atitute e legal? como assim as pessoas não acham que ela e fabrizio são o casal mais cool do rock and roll (mesmo ela não sendo cantora/baterista/guitarrista etc etc, pra ser rock'n'roll isso é desnecessário). tá, as panteras é um lixo, mas como assim "eu acho até que eu odeio mais a cameron diaz?". argh, as pessoas, as pessoas.

quinta-feira, 9 de junho de 2005

donnie darko




todo ser humano morre só.

sexta-feira, 3 de junho de 2005

cool



existe algo mais cool que isso? eu tenho uma listinha dos casais cool, e até pouco tempo atrás eu achava que gwyneth paltrow e chris martin tavam pau a pau na disputa, mas não tem jeito... drew barrymore e fabrizio moretti são o casal mais rock and roll, no belíssimo sentido da palavra. eu adoro a drew, ela tem sua própria produtora (que produziu 'donnie darko'), ela faz filmes super legais e consegue dar um sal nas comédias românticas que sem ela provavelmente seriam odiosas, e consegue ser uma mulher bonita e interessante sem ter aquela beleza opressiva, imponente. e preciso falar algo de um cara que nasceu no brasil, tem cachinhos lindos e ainda é baterista dos strokes?

quinta-feira, 2 de junho de 2005

quero ser catherine keener



é tão óbvio... eu vi um pouco being john malkovitch ontem, e claro que o filme continua genial, e claro que os atores são muito bons, mas catherine keener é fascinante. a roadie do placebo, aquele ser que foi vaiado pra caramba no dia do show, me lembrou ela pra caramba, sei lá bem porque... achei os traços parecido e uma certa coisa de "mulher decidida", atitude... ar blasé é pouco.

terça-feira, 31 de maio de 2005

Silêncio, solidão e paz, please

desde o momento em que eu acordei da soneca da tarde eu estou de mau-humor. foi meio repentino porque tive um dia ok, de um modo geral, e de repente lá está aquele bode, a cara amarrada. bom, em partes posso explicar isso porque estou saturada de algumas coisas. estou saturada dessa reforma aqui em casa, e olha que tá só começando. to saturada de trocar sorrisinhos com o responsável pela obra, de esbarrar em homens desconhecidos pelo corredor de casa, de acordar com o bate estaca. to saturada dos comentários pretensamente engraçadinhos da moça que trabalha aqui em casa, e de como ela pode ser invasiva – na verdade, ela consegue ser invasiva quase sempre. comendo na mesa da cozinha ou deitada vendo um filme no quarto, preservando meu silêncio, sou obrigada a ouvir os comentários dela. sei que isso soa, e é, ranzinza, mas posso fazer o que se isso me incomoda demais? já liguei o foda-se porque nem respondo, então fico pagando de chata, mas nem isso adianta, pelo jeito. saudosa época em que minha fama de chata afastava essas pessoas de mim. to saturada de minha tia, rondando pela casa, me cerceando só com sua presença católica-conservadora e sua inabalável necessidade de falar. minha mãe e joanna disseram que sou impiedosa porque não entendo que ela, uma senhora de idade sem ter muito com quem conversar, precise ficar falando, em altíssimo tom, o tempo quase todo. posso fazer o que número 2, acho a velhice decrépita e quase indecente de tão feia. acordei emputecida porque tinha um tanto de coisas a fazer e disposição nenhuma. acordei emputecida pelo velho motivo de ‘ter coisas a fazer’ me sufocar, me deixar sem horizonte. acordei sem vontade, rolei na cama, e não tava com o mood pra lidar com as pessoas. e isso se seguiu e se seguiu até agora. pouco atrás, tive que me conter pra não ter uma reação super emocional com joanna – e ela tá no humor que eu considero bom, falante, sorridente. e eu com uma semi vontade de chorar e de explodir. foda-se, eu quero só silêncio, solidão e paz.

sexta-feira, 27 de maio de 2005

música pop e nick hornby

É, aconteceu. Eu viciei totalmente em uma música pop meio xexelenta - exatamente como Nick Hornby narra em "31 Songs", sobre "I'm Like a Bird". E foi de uma maneira infame. Eu estava vendo "América" (sim, eu o faço, ocasionalmente) e ouvi uma música que me chamou a atenção. Copiei um pedaço da letra, depois coloquei no Google, descobri o nome e baixei (como vive quem não tem internet?). Passei a ouvir o dia inteiro no PC - até que atingiu um alto grau de vício e eu comprei "América Internacional" pirata. O CD dói de tão ruim. Fica no repeat na faixa 10 o tempo todo, pois as outras faixas dão ânsia de vômito. Agora mesmo, nesse instante, ela toca pela 8º vez consecutiva. Tá, é a hora. A música é "Piesces of Me", de Ashlee Simpson. Quem? Tudo bem, pra mim ela é também totalmente desconhecida - até hoje tenho medo de googlar esse nome. Eu sei, Joanna me disse, que ela é irmã de Jessica Simpson, portanto posso imaginá-la, loirinha, inssossa, sorriso colgate. É dramático. Claro que não chega ao nível de tristeza que é gostar da última música de Britney Spears ("Do Something") e da última do Black Eyed Peas ("Don't Phunk With My Heart", com um clipe que lembra muito o do Outkast) - culpa da Transamérica, que eu escuto quase todo dia agora, indo pra faculdade, porque o som do carro de Júlio tá quebrado, não pega CD. Bom, é respirar fundo e seguir adiante - um dia, como disse o sábio Nick, a música se esgota. Então vejam o que ele falou, no terceiro capítulo do livro, a pretexto de "I´m Like a Bird", Nelly Furtado:

***

"Oh, claro que posso entender o menosprezo das pessoas pela música pop. Sei que uma grande parte dela, quase toda, é lixo, sem a menor imaginação, mal escrita, vazia, repetitiva, imatura (embora pelo menos quatro desses adjetivos possam ser usados para descrever os incessantes ataques ao pop que ainda encontramos em revistas e jornais de níveis); também sei, acreditem, que Cole Porter era "melhor" do que Madonna ou Travis, que a maioria das canções pop é dirigida cinicamente a um público-alvo três décadas mais jovem do que eu, que a época de ouro foi há trinta e cinco anos e que desde então houve pouquíssima coisa significativa. Só que tem essa canção que ouvi no rádio e comprei o CD e agora tenho que ouvi-la dez ou quinze vezes por dia... Essa é a coisa que me intriga naquelas pessoas que têm a sensação de que o pop contemporâneo (e uso a expressão para abranger soul, reggae country, rock - toda e qualquer coisa que possa ser tachada de lixo) está abaixo, atrás ou além delas - ou qualquer outro advérbio denotando distância: isso significa que nunca curtem novas canções, que tudo que assobiam ou cantarolam foi escrito há anos, décadas, séculos? Vocês realmente se negam o prazer de aprender uma melodia (casualmente, um prazer que a geração de vocês seria talvez a primeira na história da humanidade a renunciar) por medo de que pareça que não sabem quem é Harold Bloom? Uau. Aposto que vocês são muito divertidos em festas. A canção que tem me proporcionado uma agradável bobeira nos últimos tempos é "I´m Like a Bird", de Nelly Furtado. Só a história poderá julgar se a srta. Furtado vem a ser alguma espécie de artista e, embora eu tenha minhas suspeitas de que ela não vá mudar a maneira como vemos o mundo, não posso dizer que estou muito chateado: serei grato a ela para sempre por criar em mim a necessidade narcotizante de ouvir sua canção sem parar. Afinal de contas, é uma necessidade inofensiva, que pode ser facilmente satisfeita, e existem poucas desse tipo no mundo. Nem desejo criar polêmica em torno dessa canção - mas acontece que eu acho que é uma canção pop muito boa, com uma languidez sonhadora e um otimismo doído que a distingue de imediato de suas similares anêmicas e atrofiadas. A questão é que há poucos meses ela não existia, pelo menos ao que soubéssemos, e agora ela está aí e isso em si é um pequeno milagre. Dave Eggers tem uma teoria de que ouvimos certas canções repetidamente, aqueles de nós que o fazem, porque temos que "liquidá-las", e é verdade que, no princípio de nosso namoro com uma nova canção, existe uma fase semelhante a uma espécie de perplexidade emocional. Existe um pouquinho disso em "I'm Like a Bird", por exemplo, lá pelo meio da música, quando a voz surge em dois canais em um verso, e o efeito - especialmente sobre alguém que não é músico, alguém que adora e valoriza música, mas fica desconcertado e encantado até com o mais ismples dos truques musicais - é saboroso, desconhecido e viciante. Claro que muito em breve ela vai parecer fraca e batida. Não vai demorar muito para que eu tenha "liquidado" "I'm Like a Bird" e não deseje mais ouvi-la tanto - afinal de contas, uma canção pop de três minutos consegue manter seus mistérios somente por um tempo. Portanto, sim, ela é descartável, como se isso fizesse alguma diferença na percepção de alguém sobre o valor da música pop. Mas então já não deveríamos estar fartos da "Sonata ao Luar"? Ou de "Christina's World"? Ou de "A Importância de ser prudente"? Elas estão zeradas! Não sobrou nada! Nós as sugamos até a última gota! É isso que me intriga: as mesmas pessoas que torcem o nariz para o pop descartável irão rever inúmeras vezes a cena em que Lady Bracknell diz: "Uma bolsa?", com uma voz engraçada. Será que não acham que a piada já se esgotou? Talvez a descartabilidade seja um sinal de maturidade da música pop, um reconhecimento de suas próprias limitações, em vez do contrário. Seja como for, um dia desses eu estava sentado na sala de espera de um médico, quando, de repente, quatro garotinhas afro-caribenhas que aguardavam pacientemente enquanto sua mãe consultava engataram na canção de Nelly Furtado. Elas sabiam a letracom exatidão, faziam uns passos de dança e cantavam com enorme entusiasmo e prazer e gostei de que tivéssemos algo em comum temporariamente; senti como se todos nós vivêssemos no mesmo mundo e isso não é algo que aconteça com muita freqüência. Umas duas vezes por ano gravo uma fita para ouvir no carro, uma fita com todas as novas canções que adorei ouvir nos últimos meses e, cada vez que concluo uma dessas gravações, não posso acreditar que haverá outra. Contudo, sempre há outra e mal posso esperar pela próxima. Você precisa de apenas mais umas poucas centenas de coisinhas como essa para ter uma vida que valha a pena ser vivida."

sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

Buh...
Buscando forças pra continuar com isso aqui... Ou acabar de vez. Acho que isso só vai ser possível quando as aulas voltarem.

sábado, 15 de janeiro de 2005

E então eu imaginei que ia viajar e quando voltasse ia impedir que esse torpor me dominasse novamente; ia jogar fora os hábitos sedentários, expulsar de mim essa gordura que amortece minhas idéias, essa letargia que me deixa lenta, pesada. E na verdade agora estou aqui, e tudo é tão exatamente o mesmo: foi somente um interlúdio. Se eu tivesse ido sozinha estaria duvidando de que tinha ocorrido. E todas aquelas sensações, tudo desaparecendo como éter no ar... Efemeridade, isso é o que dói. E todos aqueles sonhos de grandeza que vão morrer dentro de mim, todas as vontades loucas, obssessivas e largadas ao léu. E eu me sentindo cada vez mais presa dentro de mim. Essa prisão que vai acabar me sufocando.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2005

Solidão

Eu posso sair, posso ficar em casa, ver TV com alguém ou apenas me deixar ficar, sozinha, numa cama. Posso até conversar sobre minha solidão com uma pessoa que sinta a mesma aridez na alma que eu, e no entanto nada vai adiantar... Não há meios de transpor esse deserto. Mesmo onde há ânimo, paixão, interesse e concordância, as semelhanças ou diferenças ecoam no vazio.

Cansada de como as coisas parecem tão melancólicas e nostálgicas o tempo todos. E de como eu estou cada vez mais confusa de tão afundada no ócio. Ou será que não? A atividade só me deixa sem tempo, e eu esqueço; quando eu era ginasial, cheia de crises existenciais, considerava isso o oásis: a ignorância. Não ficar triste por não saber o que Will, de Um Grande Garoto, chama de “o sentido”. Ainda tem uma parte de mim que acha isso infinitamente triste, mas a outra parte simplesmente tenta se acostumar com o fato de que realmente não existe “o sentido”.

Finalmente comprei algo da minha lista de comprar desesperadamente necessárias: O Mito de Sísifo. O que esperar de um livro escrito por Camus, o cara que simplesmente inventou o termo agnóstico pra reunir gente como eu debaixo de uma mesma bandeira (ou ausência de), com esse nome remetendo à mitologia grega (Sísifo, o cara que está destinado a subir uma montanha empurrando uma pedra, quando chega no alto a pedra rola pro sopé, e lá vai ele de novo, e assim eternamente. Sabiam das coisas, esses gregos) e cuja primeira frase é “o suicídio é o único problema filosófico realmente sério”? As pessoas pensam em se matar, aí ou se matam ou ficam ruminando coisas, Camus foi lá e escreveu um livro foda. A linha é bem filosófica mesmo, e por isso não dá pra piscar, bem diferente do “Suicídio” de Durkheim, afinal esse aí era sociólogo, e o livro é estatística de lá pra cá (ou seja, muito mala).

E eu ainda não escolhi a linha a seguir na vida. Todo mundo tem um tipo, uma pose, uma posição que adota. Eu to meio que boiando entre várias coisas, fortemente apoiada na desgraça do distanciamento irônico. Eu quero refletir seriamente sobre a ausência de fé em mim (e como posso duvidar de Deus e acreditar em Astrologia?), não é de religião não, é fé mesmo, e sempre, sempre, sempre, tentando me definir.