quarta-feira, 13 de julho de 2005

backfire - aimee mann

nunca mais ouvi uma música pop tão gostosa.

domingo, 10 de julho de 2005

Aimee Mann (com pitadas de PJ Harvey)

tirado do site: www.wezen.com.br/wezine

A vida ao redor - n°5Estranhas Histórias de Sabedoria
por Martim Vasques da Cunha

"I walk on concrete,
I walk on sand,
but I can´t find a safe place to stand"

P.J.Harvey, "Big Exit"

"Eu ando sobre o concreto, eu ando sobre a areia, mas não consigo encontrar um lugar seguro para ficar". A frase é terrível, sem dúvida, e toda uma sensação de deslocamento, de exílio, de inaptidão - e, principalmente, de perigo - aparece, entre guitarras musculosas e um ritmo nervoso, no início do grande álbum de P.J.Harvey, "Stories of the sea, stories of the city". Geralmente, fazer rock-n´-roll é uma profissão quase masculina, mas, obviamente, isso é uma besteira. Ao mesmo tempo que temos um Neil Young ou um Lou Reed, existe uma Patti Smith ou então a própria Polly Jean Harvey, uma cantora inglesa nascida no vilarejo marítimo de Dorset.

Isto acontece na seção "guitarra - baixo - bateria - voz ", o quadrado sagrado do rock. A mesma comparação pode se fazer no setor "melodias leves e agradáveis com letras irônicas", no qual o mestre é, para pesadelo de muitos, o meloso Burt Bacharach. Muitos críticos acreditam que seu mais afinado discípulo é o elegante Elvis Costello, mas, infelizemente, ele perdeu o posto para uma moça de quarenta anos, loira, alta, e que briga o tempo todo com a indústria fonográfica americana: Aimee Mann. Há ainda um adendo: Mann é infinitamente melhor que seus mestres, não só por ser mulher, mas por ter uma ironia que chega ao patamar da sabedoria, uma sabedoria que, por sua vez, tem muito mais de Lou Reed do que de Burt Bacharach.

Tanto P.J.Harvey como Aimee Mann não ficam resmungando sobre como "o homem é um crápula safado e etc, etc, etc, etc" e todo aquele papo feminista que fizeram a fama de Gloria Steihem e estragaram talentos como Erikah Badu e Paula Cole. Parece que ocorre o contrário: elas gostam dos homens e, o melhor, gostam de falar sobre eles. E, na verdade, ambas sabem o quanto as suas vidas artísticas tiveram uma incrível reviravolta por causa de, justamente, dois homens.

No caso de P.J.Harvey, o homem foi ninguém menos que Nick Cave, o cantor australiano que virou uma lenda viva graças a músicas como "The Carny" e "From Her To Eternity", filmados brilhantemente por Wim Wenders em seu clássico filme "Asas do Desejo" (1988). "Stories of the sea, stories of the city" é uma reflexão do relacionamento que Cave e Polly Jean tiveram entre 1996 e 1998. Nesse tempo, Cave fez dois álbuns estranhos, "Murder Ballads" (onde dividia uma faixa com P.J.) e "The Boatman´s Call", em que ruminava o fim de sua relação com a inglesa. Enquanto isso, Polly Jean lançava "Is This Desire" (1998), seu disco mais sombrio, repleto de programações e sonoridades eletrônicas, muito diferente dos primeiros "Dry" (1993) e "Rid of Me"(1994), agressivos, rudes e prestes a explodir a qualquer momento. "Is This Desire" era um notável desenvolvimento, especialmente na canção "The River", uma das mais melancólicas já feitas. Mas o fantasma de Cave ainda a assombrava e a única solução foi se mudar para Nova York para acalmar os ânimos.

Mas, como já dizia Bono, "In New York you can´t forget, forget how to sit still" - e foi isso aconteceu com Polly Jean na Big Apple. Armada com uma guitarra, Harvey começou a compor as canções para seu novo álbum e, por uma estranha ironia, elas ficavam cada vez mais parecidas com músicas do mar, especialmente de sua cidade natal, Dorset. Para quem não sabe, Dorset é um vilarejo inglês que só se vê água por todo lado - e as ondas do mar influenciavam no ritmo e nas letras das composições de P.J..

Enquanto isso, no vale de San Fernando, um rapaz de 28 anos escrevia um roteiro para um filme de três horas de duração e que falaria sobre perdão, arrependimento, coincidências e chuvas de sapos. Seu nome era Paul Thomas Anderson, e o tal filme seria nada mais nada menos que "Magnólia"(1999), o épico sobre "coisas estranhas que acontecem o tempo todo". No exato momento em que estamos retratando-o, Anderson está literalmente empacado com uma passagem do roteiro: seus oito personagens chegaram a um ponto em que eles não sabem o que fazer. O próprio Anderson não sabe o que fazer. Ao fundo, ele escuta uma canção embalada numa voz dócil, calma, costurada em um piano melancólico, e, então, num desses fenômenos de sincronicidade que só ocorrem uma vez a cada cem anos ( para citar Vladimir Nabokov), vem a frase definitiva: "It´s not going to stop until you wise-up"(Não vai parar até você não se tocar).

Era Aimee Mann dando a solução para o problema. Imediatamente, Anderson colocou os personagens cantando a canção, além de enxertar várias vezes outras músicas como uma espécie de comentário sobre o que acontecia na tela. "O que eu queria fazer com 'Magnólia'", explica Anderson, "era, do mesmo modo que se adapta um livro para cinema, adaptar as canções de Aimee Mann para o filme, falando sobre os mesmos temas, como o medo da solidão e como você se sente inadequado em um mundo muito estranho". Ponto para Anderson: se há algo que Aimee Mann sabe falar como poucos é justamente o medo de se sentir sozinho, de ser um deslocado o tempo todo - de andar sobre o concreto, sobre a areia e não encontrar lugar seguro para ficar.

E deslocada era o que ela era na época. Sem contrato com nenhuma gravadora de grande ou médio porte (a última foi a A&M Records que, segundo Aimee, "sabotou o meu trabalho"), Mann se trancou em um pequeno estúdio e gravou algumas músicas com uma banda de amigos. O resultado foi uma fita-demo com cerca de 30 músicas que foram parar na mão de Paul Thomas Anderson graças a Michael Penn, marido de Aimee e produtor de bandas como The Wallflowers e Macy Gray. Anderson escreveu o roteiro de "Magnólia" em cima desta fita e, ao ver que o trabalho de Aimee havia se tornado o eixo do filme, convidou a cantora para fazer a trilha sonora.

"Magnólia", como todos sabem, foi um sucesso, e de repente, para os críticos de plantão, surgiu uma moça chamada Aimee Mann. Claro que ela não era uma amadora: Aimee havia conseguido um relativo sucesso nos anos 80 com a banda feminina Til Tuesday e seus primeiros discos solos foram elogiados pelos especialistas da indústria fonográfica. Mas, como a própria disse em uma entrevista à Spin Magazine, "eram trabalhos de alguém que ainda não tinha coragem de desafiar, de arriscar".

Assim, ela fez algo que poucos teriam coragem de fazer: criou a sua própria gravadora, a SuperEgo Records, e lançou "Bachelor n 2", o álbum final daquele fita-demo que Paul Thomas Anderson estava ouvindo há um ano. Desprezando as grandes gravadoras e distribuidoras, Mann promoveu seu disco somente pela Internet em seu site oficial (www.aimeemann.com) e, em menos de 2 meses, a HMV (uma das maiores redes de loja de CDs dos EUA) assinava um contrato de distribuição exclusiva. Isso não a tornou um estouro de vendas, mas permitiu a Mann uma liberdade criativa sem precedentes em sua carreira.

O mais interessante é que o trabalho de Mann não é nada experimental. É pura música pop, feita com habilidade de mestre e carinho de confecção. "Bachelor n 2, or the last remains of the dodo" é um álbum perfeito em sua totalidade, daqueles que você escuta com um prazer de decorar cada nota de guitarra, cada virada de bateria e, claro, o tom da voz de Aimee Mann, cantando de forma agridoce como é díficil manter um relacionamento entre duas pessoas e, muitas vezes, consigo mesmo.

Suas letras, assim como as de P.J.Harvey, podem ser definidas como estranhas histórias de sabedoria. Vejam como ela fala de remorso de uma maneira irônica e sutil nesta estrófe de "Red Vines":

"And tell me, would it kill you (E diga-me, isso vai te matar)
would it really spoil everything ( vai estragar tudo)
if you didn´t blame yourself ( se você não se culpar)
do you know what I mean?" (você está entendo o que eu quero dizer?)

O verso "Do you know what I mean" pode parecer comum já que todo o americano fala, como se fosse um maldito vício, esta expressão no final de cada frase (Os brasileiros também caem no mesmo erro com o famoso "né?" ou o horrível "cê tá me entendendo?"). Mas aqui Mann quer dizer algo mais: geralmente esta expressão é usada para enfatizar o que o interlocutor quer dizer; no entanto, nesta canção, "do you know what I mean" é, na verdade, "você sabe realmente o que estou querendo dizer?". De um simples clichê, Mann esmiúça o problema de todo o relacionamento: comunicação. As pessoas se encontram, se falam, conversam sobre aquilo, sobre o tempo, sobre o cachorro do vizinho, se olham, mas não se entendem. Aliás, ninguém se entende, é o que parece dizer tanto Aimee Mann como Polly Jean Harvey.

Observem "The mess we´re in", a sétima faixa do álbum de P.J.. Cantada em dueto com Thom Yorke do Radiohead, é uma típica balada de separação, mas que termina com uma dignidade incrível:

"The way you wanted (Como você queria)
not really is what you wanted (Não é realmente como você quer)
I just wanna say (Eu só quero dizer)
Don´t ever change (Nunca mude)
I think we´ll never meet again" (Acho que nunca mais nos veremos de novo)

Os dois amantes aceitam que a possibilidade de nunca mais se verem é algo que acontece nesta vida. Pode parecer uma inversão de valores neste mundo materialista, dominado pela gana de ganhar e de vencer em tudo, seja na vida pessoal ou profissional, mas, às vezes, nem sempre uma perda é uma perda - pode ser uma vitória. Contudo, seria a vitória dos deslocados, dos exilados - os únicos que podem contar essas estranhas histórias de sabedoria. Para este seleto grupo, o reino deles não é deste mundo. Polly Jean Harvey e Aimee Mann conseguem ter a mesma visão afiada de gigantes como Bob Dylan, mas acrescentando um detalhe que nenhum homem possui: a compreensão total da Vida. Por mais que um ser do sexo masculino seja um gênio, ele vai fazer um esforço dos diabos para ter um pequeno vislumbre do Todo. Já a mulher tem aquilo que os investidores chamam de "investimento a longo prazo": é ela que detém o poder de dar vida, de procriar e fazer nascer a Humanidade. Para citar o velho e bom Charles Baudelaire, "a mulher é o único ser na face da Terra que pode jogar a mais brilhante das luzes ou a mais negra das trevas". É por terem todas as forças do mundo dentro de seus Espíritos é que elas são as únicas que detém a verdadeira sabedoria; são as mulheres que ajudam os homens a realizarem a verdadeira ação prática, a ação que transforma o mundo não em algo melhor, mas em algo mais compreensível.

E, como todo o ser humano, elas também podem ter suas falhas e seus remorsos. Aimee Mann capta isso com uma frieza de cirurgiã em "Just Like Anyone":

"So maybe I wasn´t (Então eu não fui)that good a friend (aquela grande amiga)
but you were one of us (mas você era um de nós)
and I will wonder (e eu fico pensando)
just like anyone (como qualquer uma)
if there´s was something ( se havia alguma coisa)
else I could´ve done.( que eu poderia ter feito)
So maybe it´s true that (Então talvez seja verdade)
you cry for help (que você gritou por socorro)
was oh, so very faint ( foi tão baixo)
but still I heard ( mas eu ainda escuto)
and knew something was wrong (e eu sabia que alguma coisa estava errada)
just nothing you could (e nada você poderia fazer)
put your finger on ( para tampar com o dedo)
and I will wonder (e eu fico pensando)
just like anyone (como qualquer uma)
just like anyone" (como qualquer uma)

A simplicidade destas palavras talvez não podem ser entendidas em sua totalidade. Há um remorso que corroí a voz de Aimee que chega a ser comovente - ainda mais, quando na canção seguinte, "Susan", ela chega a acreditar na esperança que pode ser uma ilusão, "mas é muito bonita enquanto ainda está aqui". A vida é complicada, pessoal, parece dizer Aimee e Polly Jean, mas não custa aceitar ela como é. Este é o jogo e, ao mesmo tempo, a regra do jogo. Se no fim de "Bachelor n 2", Aimee Mann termina afirmando que o amado ou amada realmente faz as coisas acontecerem ( na antológica "You Do"), P.J. Harvey termina "Stories of the sea, stories of the city" com o medo de

"You carried all my hopes (Você carregou todas as minhas esperanças)
Until something broke inside" ( até que algo se quebrou por dentro)

porém aceitando o mundo como ele é e não como deveria ser. Pois assim são as coisas que ficam, e não as coisas que passam: elas podem estar terminadas em um dia, mas recomeçadas no outro. Começar de novo é a primeira regra de todas as sabedorias. E somente as mulheres -"este continente obscuro da existência humana", como diria o doutor Freud - podem fazer isto realmente acontecer.

Martim Vasques da Cunha é escritor e jornalista.

sexta-feira, 8 de julho de 2005

Gisele

Eu e Gisele Bündchen
Vi a modelo Gisele Bündchen na semana passada, numa festa organizada por um provedor de internet. Tentei descobrir quanto ela tinha ganho para comparecer ao evento, mas sou um mau jornalista e não obtive a informação.
A festa se realizava num casarão abarrotado de gente. Gisele Bündchen, porém, não se misturava conosco, permanecendo numa salinha reservada, atrás de espessas cortinas, com o acesso limitado apenas a uns poucos privilegiados. Eu não era um deles, infelizmente. Pelo contrário: tinha entrado de bico na festa, graças à operosidade de um amigo fraterno. Como Gisele Bündchen podia ser um bom tema para um artigo, tendo sido inclusive reportagem de capa de VEJA, resolvi me empenhar para penetrar em sua salinha. Minha primeira iniciativa foi tentar comprar o crachá de um dos inúmeros fotógrafos presentes à festa, mas nenhum se dispôs a aceitar minha generosa oferta. Decidi então procurar outros canais, falando com todas as pessoas que encontrava. Senti-me como naquele filme do italiano Marco Ferreri, em que o protagonista vai a Roma e perambula para cima e para baixo, em busca de uma audiência papal. Por volta de 3 da madrugada, finalmente, consegui encontrar um espírito benemérito que me permitiu entrar na salinha-bunker de Gisele Bündchen. Ela estava sentada numa poltrona de veludo. Percebendo meu embaraço, levantou-se, reclinou o tronco para ficar da minha altura e abençoou-me com dois beijos no rosto.
Nesse exato instante, o artigo que eu havia composto na cabeça foi para o espaço, dissolvendo-se irremediavelmente. No artigo, eu pretendia estabelecer um paralelo blasfemo entre a fila de admiradores diante da salinha de Gisele Bündchen e a procissão de fiéis a um santuário religioso. A partir daí, passaria a tecer amargas considerações sociológicas relativas à efemeridade do mundo contemporâneo. Parecia-me excessiva a atenção em cima dela. Quase patológica. Sempre considerei que era necessário colocar esses fenômenos de massa nas devidas proporções. Era essa minha intenção no artigo sobre Gisele Bündchen. Quando a vi frente a frente, entretanto, todas as minhas defesas intelectuais ruíram, e, para minha grande vergonha, caí de joelhos numa espécie de êxtase religioso, exatamente como os outros infelizes que ali se encontravam. Nunca vivi tamanha humilhação. Não tinha o menor cabimento que um intelectual sério e desencantado como eu reagisse de maneira tão infantil e obtusa diante de uma menina de 19 anos, que nem se deu ao trabalho de abrir a boca. Mas foi o que aconteceu. Na desesperada tentativa de racionalizar esse sentimento, perguntei-me quanto eu havia sido influenciado pela propaganda e quanto havia sido motivado, efetivamente, por sua extraordinária beleza. Não cheguei a conclusão alguma. A essa altura, a última arma que me restava era me desincorporar e observar a cena do lado de fora. O que vi foi uma fábula dos Irmãos Grimm, com um gnomo aos pés de uma valquíria. Essa imagem patética me permitiu recobrar a razão por uma fração de segundo, tempo suficiente para que eu virasse as costas e fugisse em disparada. Nunca mais quero ver Gisele Bündchen. Vocês que fiquem com ela.
Diogo Mainardi
(Veja - 09/02/2000)

domingo, 3 de julho de 2005

Pega Vida



Comprei hoje. Ouvi enquanto fazia outras coisas e achei gostosinho. O projeto gráfico é muito bom. Hoje foi um dia cheio. Aliás, como é final de semestre está tudo meio cheio. E finais de temporada. E. E. E eu deveria estar estudando semiótica.
Se você quer saber o que falaram desse cd, veja no site oficial algumas críticas. Gosto da do Hagamenon Brito, mas acho a do Adalto Alves a melhor. Confira:
http://www.kidabelha.com.br/disc_pegavida_cri.htm#