domingo, 1 de março de 2009

como slumdog millionaire partiu meu coração

esse foi um ano muito bom para o cinema. quem acompanha essa bagaça viu que eu adorei o benjamin button, considerei o the reader um filme interessante e agora digo: slumdog millionaire é maravilhoso. não duvido que frost/nixon e milk sejam filmes acima da média também (ainda teve wall-e!).

o slumdog millionaire tem uma vibe meio cidade de deus, sim (desculpa se isso te incomoda, danny boyle!). não é só o fato de mostrar a realidade de uma grande favela do terceiro mundo, mas também a agilidade na edição e até os personagens - um inocente, que tenta se sair do melhor jeito possível, e outro na vibe mais zé pequeno possível. a outra alusão, ao oliver twist, também faz todo sentido, mas os indianos são muito mais safos que o inglesinho.

todo mundo ria em cidade de deus, mesmo sendo triste de partir o coração. com o slumdog acontece o mesmo, mas para mim foi ainda exponencializado, acho que porque o jamal é tão o tipo de personagem/gente que eu amo: abnegado, gentil, com princípios cristãos, manso: meio como michkin e em boa parte do filme o irmão dele, salim-zé pequeno, parece acreditar que ele é um idiota, como o protagonista de dostoievski.

eu ri e chorei no filme. é triste demais ver aquela favela gigante, as pessoas vivendo em condições sub-humanas, ver as crianças sendo exploradas. obviamente não sei até que ponto corresponde à realidade da índia, mas isso também não chega a ser o ponto: não é só a realidade social cruel que deixa um aperto no coração. é o próprio jamal, em sua busca incessante ("esse cara nunca desiste", diz o salim uma hora), que me deixa fragilizada. o lado social mais choca do que tudo - será que é daquele jeito mesmo? acho que sim, sem preconceitos, tipo sujo, cheio, fedido, cilada. mas a índia é um país tão bonito - sem pieguice e hippice. só de lá podia ter saído gandhi.

nada disso importa tanto. o filme é uma fábula, em certo sentido ("certo" pq não tecnicamente). jamal e sua paixão obstinada e respeitosa por latika, o filme inteiro se recusando a levar um não da vida, do destino... e passa uma mensagem otimista e tudo, mas me deixou tão pra baixo com tudo - é sempre a maldita ternura, que me deixa desnorteada.

ao contrário de todos, não acho que o dev patel ta muito bem - só fica de olho arergalado o tempo todo, do jeito que sempre fazia em skins. a freida pinto faz o que é pra fazer, ser bonita e ficar andando de lá pra cá. pra mim o destaque são os atores mirins, carismáticos, que nos fazem sentir pena, carinho e uma certa admiração pelo apego à vida e à sagacidade com que conseguem superar todos os percalços que vêem diante de si - muitas vezes isso é mostradod e uma maneira engraçada, sim.

pra completar, as crianças ainda têm toda essa referência aos três mosqueteiros, que me toca também. o salim para mim seria o pothos, posessivo (toda sabotagem ao relacionamento jamal-latika, que ele faz DESDE A INFANCIA, é ciumes, pra mim), impetuoso, sangue quente - isso é um pouco dartagnan também, mas esse é café com leite. o jamal também tem um quê de dartagnan, justamente a persistência e a obstinação, especialmente no que tange à mulher amada. mas seu jeito justo e calado também o botam lado a lado do athos (s2). sobra o aramis, mas ninguém se encaixa muito no aramis ;)

no mais, palmas para o boyle, por ter feito algo que já deveriam ter feito antes: aproximar hollywood e bollywood em grande estilo. a maioria dos atores é indiano. sei que rolaram várias críticas aí, mas quando o filme saiu grande vncedor a índia ficou toda prosa, e com razão. no final, os atores fazem um número musical, tradição bollywoodiana.