sábado, 21 de novembro de 2009

verão violento


como não amar um cineasta que trata de generosidade em meio a mesquinharia, da beleza em meio à feiúra?

Lendo sobre zurlini, uma frase me chamou atenção: a languidez não era só um tema – era também forma. Languidez é a palavra perfeita para tratar desse cineasta. Em Verão Violento, seu segundo filme, parte dos sete filmes que a Versátil pretende disponibilizar no mercado brasileiro (chegaram três, até agora), o enredo guarda semelhanças com o de A Moça com a Valise. Temos novamente um relacionamento socialmente condenável, entre um jovem rico e despreocupado e uma viúva, um pouco mais velha que ele, mãe de uma criança. Carlo, o rapaz, faz parte de um grupo que se diverte despreocupadamente, pondo-se à parte da Segunda Guerra Mundial; ele próprio sempre conseguiu evitar ir para o exército, usando a influência do pai rico para conseguir dispensas. Passam os dias dançando e bebendo ou nadando na praia. Já Roberta, a viúva, leva uma vida retraída; perdeu o marido durante a guerra e mora apenas com a mãe e a filha em um casarão.

Os dois se conhecem um dia na praia quando, depois de um bombardeio, Carlo acalma a filha de Roberta e as acompanha até em casa. Depois disso, visivelmente interessado por ela, tenta dar uma continuidade. Ela inicialmente se mostra relutante, mas o envolvimento entre eles acontece de maneira gradual, culminando com uma bela cena de um baile, marcada somente pela música (outra marca de Zurlini), que emoldura a troca intensa de olhares entre os protagonistas. A cena dura mais de 5 minutos, entre o tempo em que todo o grupo sai para a ver a lua da varanda (os personagens vão entrando um a um no plano, Roberta por último, sob olhar intenso e desejoso de Carlo) e termina com os dois saindo discretamente e se beijando no jardim – sendo flagrados já de primeira pela namoradinha de Carlo, o que gera um mal-estar no grupo. A cunhada de Roberta, que chegara depois e havia sido apresentada aos jovens por ela, começa a sentir no ar algo diferente. Acaba indo embora, Roberta pedindo-lhe desculpas. Confrontada diretamente por sua mãe, Roberta diz que não deve nada a ninguém – ainda que pareça sentir, intimamente, pontadas de culpa. Ela e Carlo namoram discretamente, geralmente até os limites dos portões da casa dela.

Vemos o cerco da guerra se fechar; o casarão do pai de Carlo é dividido para várias famílias, coisa parecida com o que o Polanski conta em sua biografia.Carlo não sente mais prazer em voltar para casa; a influência do pai também já não parece capaz de livra-lo do serviço militar. Tudo se encaminha para o desfecho, em que Zurlini novamente faz com o que amor, ainda que mais concretizado do que em A Moça com a Valise, acabe sendo algo já fadado a um desfecho melancólico e não formalmente romântico.

O filme não é tão arrebatador e doído como o anteriormente resenhado, mas preserva as qualidades estéticas, os belos planos, a fotografia impecável. O uso da trilha sonora é mais pontual ainda; a atriz que faz Roberta, Eleanora Rossi-Drago, passa uma sensualidade muito discretamente, mas que é forte. Já o Carlo, Jean-Louis Trintignant, está um pouco no automático.

Atores: Eleanora Rossi-Drago, Jean-Louis Trintignant, Cathia Caro, Lilla Brignone, Jacqueline Sassard, Raf Mattioli, Enrico Maria Salerno, Xenia Valderi, Federica Ranchi, Bruno Carotenuto.
Direção: Valerio Zurlini.
Idioma: Italiano.
Ano de produção: 1959
País de produção: França e Itália
Duração: 103 min
Cor Preto-e-branco


(post de 03 de janeiro de 2008)