sábado, 21 de novembro de 2009

30 rock - a primeira temporada


Tina Fey construiu sua carreira basicamente no Saturday Night Live, aquele programa americano que só os americanos acham graça. Ok, talvez não seja bem assim. O SNL é um programa de esquetes, sempre com convidados, extremamente famoso e popular. Eu que não sou uma boa telespectadora de comédia, pelo menos não no sentido usual (Gilmore Girls tem uma veia de comédia, Pushing Daisies e Weeds são classificadas como comédia), então para mim é um pouco chocante ter gostado tanto (e até RIDO mesmo, se vocês querem saber) com 30 Rock. Admito que a minha referência positiva da Tina Fey vinha era daquele filme Meninas Malvadas, com a Lindsay Lohan. Até lembro dela em um dos extras, expressão levemente excêntrica (assim são os melhores showrunners). Acho esse filme ótimo – é leve e inteligente, tem um senso de humor interessante e até gosto da Lindsay, prontofalei.

Um pequeno resumo de 30 Rock: o título se refere aos estúdios da NBC onde é gravado The Girlie Show, e é o cotidiano da equipe que produz o programa que aparece na tela, principalmente o de Liz Lemon, a criadora e principal escritora, interpretada por Fey. 30 Rock foi escrito baseado na experiência dela no SNL; The Girlie Show também é uma comédia de esquetes, centrada em Jenna, melhor amiga de Liz. No entanto, quando um novo chefe, Jack Doneghy (vivido maravilhosamente por Alec Baldwin) chega, as coisas mudam: ele exige que Tracy Jordan, um astro de filmes duvidosos, de personalidade bastante instável, passe a integrar o elenco, o que inicialmente gera divergências entre todos. A palavra-chave aqui é, evidentemente, auto-referenciação. As referências vêm e vão o tempo todo, e não posso evitar a adoração: sou de uma geração que foi criada à base disso, e é uma delícia particular, um prazer que não me nego. Para quem ama televisão, é irresistível a idéia de observar uma paródia e recriação dos bastidores dos nossos tão queridos shows; é como se olhássemos por uma fresta. Talvez por isso a crítica especializada esteja toda de joelhos, louvando Tina Fey: a audiência, entretanto, não é tão generosa assim; de um jeito ou de outro, a NBC deve sentir o potencial desse capital simbólico (q), em suma, os executivos devem se sentir inteligentes e avançados, pois renovaram para mais uma temporada e estão bancando a empreitada, dando segurança (ao contrário da ABC, que deixa uma série maravilhosa como Friday Night Lights ficar com a corda no pescoço, os fãs segurando a respiração, mas são NEGÓCIOS, afinal de contas, não é mesmo??). Ou vai ver eles simplesmente gostam e se divertem com o programa, que retrata a vida deles, em certo nível.

O personagem Kenneth, inclusive, que trabalha como boy na NBC e se sujeita às mais variadas provações por amor à tv, parece sintetizar o pensamento do amante da televisão: para ele, mais que o jazz, é a televisão o verdadeiro legado americano, sua maior tradição (depois da democracia? rs). E vamos admitir, ninguém faz tv, hambúrgueres e jeans como os americanos (para não falar da coca cola). Quando designado para seduzir um empresário gay que está concorrendo com Jack, Kenneth é convencido de que aquilo não é humilhante, que é por uma causa nobre – a TV. “Ok – ele diz – vou fazer como Sidney Bristow em Alias, vou usar minha sexualidade”. Inocente e até certo ponto tapado, Ken é o perfeito telespectador médio, com uma dose extra de obsessão.

É uma série que te ganha já na primeira cena, quando Tina Fey está numa fila para comprar cachorro quente e chega um cara pelo outro lado, dinheiro na mão: “Ei, existe uma fila!”, ela reclama. “Existem duas filas”, diz o espertinho. Enquanto eles discutem, metade das pessoas, ao invés de protestar, vai para trás do outro cara, realmente fazendo uma segunda fila, o que indigna Liz. Ela é a próxima a ser atendida e para punir o camarada que não respeita as regras, algo que ela não suporta, decide comprar todos os cachorros-quentes (150 dólares por um ponto de vista, acho válido).

O programa guarda semelhanças também com Studio 60, que também reflete o quanto o mundo da televisão parece estar debruçado sobre si mesmo no momento; apesar de uma audiência pior, 30 rock se saiu melhor no reconhecimento da crítica (levou o emmy de melhor comédia) e Studio 60 não chegou a ser renovado. Nem vi.

Asi és tv, esse bichinho tão demonizado por um monte de desocupados (que devem preferir convenções de palhaços). Para concluir, uma fala de Jack, logo depois de entrar na sala dos escritores e dizer que eles terão que fazer uma “integração de produto”, aka merchandising, e eles ficarem todos cheios de melindres; Liz diz “não somos seus vendedores”, ao que Jack replica, olhando para seu assistente: “É verdade! Eles são artistas, como James Joyce ou Strindberg... Caiam na real, crianças. Vocês escrevem esquetes soando com nosso presidente para preencher o tempo entre os comerciais de carro”.

Repitam comigo: Tina Fey é gênio.

Universal Pictures do Brasil
Título Original:
30 Rock Season 1
Tempo:
945 minutos
Cor:
Colorido
Ano de Lançamento:
2007
Legenda
: Inglês, Português
Idiomas / Sistema de Som
:
Inglês - Dolby Digital 2.0
Formatos de Tela
: FullScreen
Pais de Origem
: EUA

(um ps: essa não é nem a única sitcom que estou vendo e gostando ok, é tipo inédito na minha vida tal fato rs, eu que só tinha paciência pra ver will&grace - e tipo a metade - e the nanny, claro).

(post de 16 de dezembro de 2007)