terça-feira, 6 de outubro de 2009

bábel e as cores, as texturas

sempre fico um pouco TONTA lendo o início de O EXÉRCITO DE CAVALARIA, do bábel. tem vezes que acho BARROCO e ADJETIVADO demais, CAFONA; tem vezes que acho BARROCO e ADJETIVADO demais, VÍVIDO e MARAVILHOSO. julguem vocês mesmos:

"o comdiv 6 relatou que novograd-volynsk tinha sido tomada hoje, ao amanhecer. o estado-maior saiu de krapivno, e nosso comboio, uma barulhenta retaguarda, espalhou-se pela estrada de pedra que vai de brest a varsóvia, construída sobre os ossos dos camponeses por nicolau I.

campos de papoula púrpura florescem à nossa volta, o vento do meio-dia brinca por entre o centeio amarelado, e o virginal trigo sarraceno ergue-se no horizonte como a muralha de um mosteiro longínquo. o plácido volýnia serpenteia. o volýnia afasta-se de nós na bruma perolada das moitas de bétulas, inflitra-se através das colinas floridas e, com seus braços cansados, enreda-se nas touceiras de lúpulo. um sol alaranjado rola pelo céu como uma cabeça decepada, uma luz suave acende-se nos desfiladeiros das nuvens, e os estandartes do poente ondulam sobre nossa cabeça. o cheiro do sangue de ontem e dos cavalos mortos pinga no frescor da tarde. o zbrutch negrejante rumoreja e retorce os espumosos emaranhados de suas cascatas. as pontes foram destruídas, e nós atravessamos a vau. uma lua majestosa paira sobre as ondas. os cavalos afundam na água até o dorso, e sonoras torrentes borbotam entre as centenas de patas equinas. alguém afunda e pregueja em voz alta contra a virgem. os quadrados negros das carroças espalham-se pelo rio, que se enche de ruído, assobios e canções que trovejam por cima do serpentear da lua e dos turbilhões brilhantes."

quantas cores, quanta sensação... a gente está lá.
(tradução de aurora fornoni bernadini e homero freitas de andrade, para edição da cosac naify)