segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

babel



Depois de ver Babel no cinema, semana passada, saí com a sensação de que o filme podia durar uns 40 minutos a menos. Mesmo. Fora isso, o filme serviu pra passar a impressão de que todos os policiais norte-americanos são cretinos, a Cate Blanchett é uma atriz do caralho (a Adriana Barraza tambem) e o Iñárritu não é isso tudo.


Explico: gostei do filme. Gostei também de Amores Brutos e de 21 Gramas (sou das poucas que acham o segundo melhor que o primeiro e, agora, certamente melhor que o terceiro). São filmes que causam um grande impacto quando a gente assiste, fica um nózinho na garganta, mas depois quando você para pra pensar vai notando inúmeros defeitos. E nem dá vontade de ver de novo (tenho 21 Gramas em dvd mas não vejo muito porque me deprime).

Mas em Babel os defeitos parecem pular da tela ainda durante a projeção do filme – vai ver é porque é mais longo que um dia de fome (e eu realmente estava morrendo de fome durante a sessão). O filme descamba demais pro melodrama; o Iñárritu sempre se aproxima disso por lidar tanto com temas no limite, fatalidades, catástrofes etc. Mas a trilha sonora (feita novamente pelo Gustavo Santaolalla, ele ficou louco ou as outras eram assim também e eu não reparei?) dava um empurrão forte pra isso. Segundo: pretensioso demais, demais. Terceiro: carência de edição, em certos momentos eu ficava vendo uma cena se arrastar – e pra quê? Não diziam nada.

E depois vem a questão: realmente aqueles problemas eram causados por estranhezas culturais? Afinal, o título faz referência à torre de babel, história bíblica que conta como Deus fez com que os homens tivessem diferentes línguas para confundi-los em sua tentativa de construir uma torre que alcançasse o céu – e a Ele mesmo. Pequena digressão: Deus no Antigo Testamente era muito cruel, pra não dizer outra coisa, rs.

Falando diferentes línguas, os homens já não eram uma massa una, se agruparam entre os que se entendiam, enfim, criaram barreiras que impedia a comunicação entre a humanidade.

M
as em Babel, como nos outros filmes do Iñárritu, acontecem fatalidades, acidentes, acontecimentos inesperados que contam com coincidências que ligam diferentes vidas. Certamente compreendo que o fato de levar um tiro no Marrocos cria inúmeras dificuldades que não criariam se uma americana fosse alvejada nos Estados Unidos, mas isso é afinal falta de comunicação entre os homens? O que ocorre é um incidente de política externa que não tem tanto a ver com as diferenças, a meu ver, embora estas apareçam em pequenas atitudes ao longo do filme. Creio que isso foi apenas um recurso pro diretor chafurdar em relações humanas ao longo do globo, não tanto na relação entre esse ou aquele povo, país.

O filme é pretensioso aí também; quer mostrar as dificuldades de viver num mundo supostamente livre, mas tão cheio de barreiras que acabam ocasionando incidentes como o da babá mexicana que se mete em problemas ao levar as crianças americanas que cuida para um casamento do outro lado da fronteira; mas, ao mesmo tempo, quer mostrar a dificuldade de compreensão entre marido e mulher, pai e filha. Devo dizer que considero a primeira parte, mais política, por assim dizer, mais bem sucedida. No que concerne às relações humanas, algumas são bem construídas e mostradas com força, como o caso da menina japonesa (ainda que essa às vezes resvale em clichês) e da família marroquina; outras ficam rasas, cheias de coisas implícitas, caso do casal norte-americano interpretado por Cate Blanchett e Brad Pitt.


Saí do cinema achando que tinha assistido um bom filme, mas que Os Infiltrados merece mais a estatueta. A média dos internautas no Imdb: 7,8 - justo. E agora to aqui pensando: filminhos bons à parte, vi um filme mexicano em 2006 que pra mim foi o melhor do ano (O Labirinto do Fauno), ressaltando que fiquei com muitas lacunas em 2006 - nem vi Volver - e vai ver o Iñárritu não é isso tudo mesmo.