domingo, 10 de dezembro de 2006

Top One - Aimee Mann

Sim, depois de uns meses de Last Fm é um pouco chocante ver que a primeira colocação do meu Overall Artists tem o triplo de execuções do segundo lugar. No caso, respectivamente, Aimee Mann e Marianne Faithfull. Um adendo importante é que Aimee Mann é, provavelmente, minhas cantora favorita há uns dois anos, mas a Faithfull, apesar de eu gostar bastante dela, ocupa o segundo lugar por alguma causalidade. Muitas bandas que gosto não ouço muito no PC, que são as que tenho CD, e os CDs ficam no quarto e etc (Nirvana, White Stripes, Strokes e agora Belle and Sebastian, que eu tinha a discografia todo no pc e quase toda em CD e apaguei boa parte pra liberar espaço, são os mais prejudicados).
Digressões à parte, esse post é pra falar da Aimee Mann, que eu conheci graças a meu querido Nick Hornby, no 31 Canções. Eu vi Magnólia no cinema, mas naquela época eu não tinha internet, tinha 13 anos e correr atrás das coisas era mais difícil. E o filme nem causou tanta impressão assim (revi esse ano e ainda acho mediano, apesar do início estupendo e de muitos bons momentos, boas atuações e, claro, da temática). Primeiro eu viciei no Bachelor No. 2, base para as músicas do filme e de onde vem minha aimee favorita - Ghost World. Daí depois comprei o The Forgotten Arm assim que saiu, e só então adentrei com tudo no mundo de Lost In Space - hoje, meu CD favorito. Os primeiros CD's eu achava (e são) mais toscos, um pop menos trabalhado, a transição da tosquice punk do Young Snakes, do pé no cafona do 'Til Tuesday para o pop mais elaborado que é a característica principal dessa cantora-compositora hoje. Mas de repente ouvi os dois com a atenção que merecem e são grandes discos, recheados de pequenas pérolas pop.
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Aimee Mann começou sua carreira na banda Young Snakes, uma banda de punk, com um som sujo. Nessa época que ela tinha aquele cabelo pra cima, loiro-branco. Depois, participou da banda ‘Til Tuesday, que chegou a ter uma música estourada na MTV, e que fazia um som mais pop. O primeiro disco da banda, formada em 1983, foi Voices Carry, que ganhou o disco de ouro. No último disco da banda, Everything’s Different Now, a maioria das letras já era da Aimee; os membros da banda pularam fora, só restando ela e o então baterista Michael Hausman. Daí a banda acabou, Hausman se tornou empresário da Aimee, que lançou em 1993 seu primeiro disco solo (depois de trabalhar com gente de peso, como Elvis Costello): Whatever. O disco teve boa aceitação da crítica, mas Aimee se desentendeu com a Imago (gravadora), início de um histórico de desavenças com as majors, e o segundo disco, I’m With Stupid, saiu pela Geffen. Novamente, Aimee não gostou do tratamento que recebeu da gravadora e resolveu abrir seu próprio selo, chamado de maneira bem humorada de Super Ego Records. A Super Ego é afiliada do selo United Musicians, que reúne diversos selos pequenos, que se apóiam. Cada artista tem plenos direitos sobre sua obra. Daí a Aimee tava compondo as músicas para aquele que viria a ser seu terceiro CD, Bachelor No. 2. Uma fitinha com algumas de suas músicas foi parar com o diretor P.T. Anderson, na época em um momento de impasse no roteiro de seu novo filme, Magnólia. Jon Brion, compositor de trilhas, produzira I’m With Stupid, e trabalhou novamente com Mann na trilha do filme, que conta com 8 músicas da cantora – uma delas é uma cover, One. A participação das músicas na trama é muito importante e ajuda a entender os personagens do filme, mas eu sou da turma que acha Aimee Mann muito maior que Magnólia – até porque, depois de três álbuns muito bons mesmo, ela conseguiu se superar e fazer a cereja do bolo.

Lost In Space é o CD que eu levaria para uma ilha deserta. É a trilha sonora da minha vida. E conta uma historinha, as músicas. Tem um trabalho de arte bonito, que reforça a idéia. Já li aqui uma crítica muito boa, e não sei criticar música, de qualquer jeito. O ano era 2002 e só em 2005 sairia o aguardado sucessor. Foi o primeiro que eu estava na expectativa pra comprar: Forgotten Arm. Para esse eu cheguei a esboçar uma pequena crítica, que segue abaixo:
Aimee Mann - The Forgotten Arm

Aimee Mann ficou famosa por ter feito a trilha sonora do filme Magnólia, de P.T. Anderson. O diretor colocou as canções dela literalmente na boca dos atores do filme. Suas músicas não só eram um personagem a mais, como na verdade, reza a lenda, ajudaram Anderson a se livrar de um nó criativo.
Em seu novo disco, The Forgotten Arm, Mann parece ter assumido de vez sua vocação para criar histórias; na capa do disco, que tem um belo desenho de dois lutadores de boxe, está lá: first impression. Sim, isso mesmo, primeira edição, assim como ocorre com os livros. O encarte dá seqüência ao jogo: Capítulo Um, Capítulo Dois... Assim vão sendo numeradas as canções, que contam uma história, de amor - a de John, um lutador de boxe, ex-combatente do Vietnã, e a de Caroline, uma mocinha simples.
A história começa quando os dois se conhecem, na bela Dear John, passam pelo problema de alcoolismo de John

“They'll have a big parade/ For every day that you stay clean”


No disco anterior, o belíssimo Lost In Space, já havia uma atmosfera una que percorria todas as faixas, assim como um trabalho de arte que reforçava essa idéia. Mas nesse aqui Mann levou a iniciativa um passo adiante. No todo, o disco parece ter uma atmosfera mais pesada que o Lost In Space, com arranjos mais lentos, melodias menos envolventes, mas sempre bonitas, que atingem seu ápice na música mais pungente do CD, Video, em que ela canta, nos últimos versos:
"Baby, baby, I love you
Baby, baby, I love you
But baby, I feel so bad"
As palavras, sempre essenciais na música de Mann, parecem ter mais forças que nunca nesse disco. É, afinal de contas, uma narrativa musical.
Aimee Mann continua, portanto, nesse CD, sua tradição de cantar a tristeza e melancolia de um mundo de desencontros, ainda que feliz, vez ou outra.

Minha foto preferida da Aimee, ela com o marido, o compositor Michael Penn (irmão do Sean Penn), parafraseando a famosa capa do The Freewheelin' Bob Dylan, de 1963.