sábado, 14 de abril de 2007

Plath e Hughes (e Assia, e GG, e Anne Sexton)

Sylvia e os filhos, Frieda e Nicholas, com cara de acabada

No primeiro dia de 2005, como eu disse, estava numa rede lendo os diários de Sylvia Plath. Dois anos se passaram e lá estava eu, na mesma rede, lendo Ted Hughes. Eu descolei esse livro do Hughes num sebo e, antes dele, nunca tinha lido nada do autor. Lembro de artigos do Paulo Francis elogiando a Sylvia e falando que não gostava da poesia do Ted; pelo Cartas de Aniversário o interesse maior é a temática. As poesias parecem crônicas, têm versos longos, são muito narrativizadas. Preciso procurar mais poemas dele, com temáticas menos circunscritas, e ver o que acho.
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Aí antes de viajar fiquei na internet procurando fotos dos dois. Achei algumas nos googles da vida e, observando-as, Sylvia me pareceu vulgar e até feia em algumas. Os dentes pareciam salientes, o cabelo artificial, os olhos soltados. E toda empoada. Já Ted tem realmente um impacto visual muito grande – uma força emana dele, com aquele maxilar definido, queixo decidido, cabelo fora do lugar, olhos escuros e hipnotizantes. Um homem de personalidade forte e grande poder de sedução – um leonino, afinal. Mas Assia era tão linda! Uma cigana morena, com um quê de insegura. Lembro, em Gilmore Girls, de quando Rory estava fazendo a carta para Harvard e tinha que colocar uma mulher que admirava. Ela pensou Sylvia Plath, mas achou mórbido. E Lorelai fala: pelo menos ela tinha instinto maternal. Sylvia realmente pôs os filhos a salvo, mas é de se questionar que senso de mãe seria esse que deixa órfãs duas crianças de 1 e 2 anos. Claro, antes de mãe, pessoa – eu penso assim. Assia não fez desse modo. Assia, antes de se matar, matou Shura, de apenas 4 anos, sua filha com Ted. E aí fiquei vendo a força de Ted – ele certamente falava bem e era brilhante e inteligente. Me irrita ler os diários de Sylvia depois de casada – ela só escreve o quanto está feliz por ter Ted, por ter conseguido tal marido. Ela sempre teve esse lado – queria um marido, era essencial. E ela era, realmente, louca por homens, e isso sempre tem que soar como defeito? Ela era escorpiana, ele leonino, tinha que ser explosivo.



Ted e Sylvia, brilhantes


Sylvia, cara de prima do interior, e Ted, guapo
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Me pergunto qual seria o signo de Assia (lembro no filme, tão oblíqua).

Biografia da Assia, não lançada no Brasil
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O ponto é: vendo Ted fui me descolando de Sylvia e pensei: realmente, esse é um poder hipnótico. Até agora ta um pouco difícil achar Sylvia __ Fico pensando, Gwyneth Paltrow dava ares melancólicos para Sylvia (inexistentes) e também certa beleza trágica (que não era o caso também). Sylvia tinha “a franja à Verônica Lake” e certamente pretensões de ser como ela num sentido – tão loura, linda, fatal.

oi, Ted, pegaeu, brinks, Ted muito pé frio


Fora de brinks, traços grossos, cara de interiorana, mas te amo Sylvia

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Enfim. Random thoughts.


post scriptum: isso estava escrito desde a primeira semana de janeiro. pretendia melhorá-lo, mas estou com preguiça e perdi boa parte dessas sensações, também (embora até voltem, olhando fotos). é só brinks, galere, sou cabelinho com cabelinho com a sylvia. NOW I AM A LAKE. Oh, Sylvia.

e com isso me lembro da Anne Sexton, e fecho com ela, poesia inspirada pela Sylvia Plath, como vai ficar óbvio para quem ler. Anne e Sylvia se conheceram durante um curso de Robert Lowell, ainda nos Estados Unidos. Depois que Sylvia morreu, uma frase atribuída a Anne circulou: "Essa morte era minha". Ha. Lembro que existe outra frase maliciosa com relação a Sylvia, dela, depois procuro e posto aqui, agora não estou lembrando. Não que elas tenham sido amigas, mas também não eram inimigas, nada assim. A Anne Sexton acabou se matando também, com o gás do carro, aos 45 anos de idade. Dá pra ver pelo poema que ela e Sylvia eram obcecadas pela morte.

Sylvia's Death
by Anne Sexton

O Sylvia, Sylvia,
with a dead box of stones and spoons,
with two children, two meteors
wandering loose in a tiny playroom,

with your mouth into the sheet,
into the roofbeam, into the dumb prayer,

(Sylvia, Sylvia
where did you go
after you wrote me
from Devonshire
about rasing potatoes
and keeping bees?)

what did you stand by,
just how did you lie down into?

Thief --
how did you crawl into,

crawl down alone
into the death I wanted so badly and for so long,

the death we said we both outgrew,
the one we wore on our skinny breasts,

the one we talked of so often each time
we downed three extra dry martinis in Boston,

the death that talked of analysts and cures,
the death that talked like brides with plots,

the death we drank to,
the motives and the quiet deed?

(In Boston
the dying
ride in cabs,
yes death again,
that ride home
with our boy.)

O Sylvia, I remember the sleepy drummer
who beat on our eyes with an old story,

how we wanted to let him come
like a sadist or a New York fairy

to do his job,
a necessity, a window in a wall or a crib,

and since that time he waited
under our heart, our cupboard,

and I see now that we store him up
year after year, old suicides

and I know at the news of your death
a terrible taste for it, like salt,

(And me,
me too.
And now, Sylvia,
you again
with death again,
that ride home
with our boy.)

And I say only
with my arms stretched out into that stone place,

what is your death
but an old belonging,

a mole that fell out
of one of your poems?

(O friend,
while the moon's bad,
and the king's gone,
and the queen's at her wit's end
the bar fly ought to sing!)

O tiny mother,
you too!
O funny duchess!
O blonde thing!