quinta-feira, 5 de abril de 2007

Ai meu Deus! Carla Bruni e Yeats estão roubando a minha vida!

A Carla Bruni nasceu numa rica família italiana. Com uns 5 anos, foi morar na França. Obviamente, teve uma criação privilegiada, estudou em bons colégios etc. Chegou a estudar na Sorbonne. Aos 20 anos, resolveu virar modelo. Sim, porque além de rica, era linda. Viveu a vidinha de top, teve affairs, ficou ainda mais rica... Daí um dia, em 2002, resolveu lançar um disco. Nessa hora você para e pensa: peraí. Isso é a vida de tédio. Isso é Wanessa Camargo lançar um cd, ou até o marido (ex) da Britney cantar funk carioca; algo parece deslocado. Mas daí o cd dela faz sucesso - entre o público e também entre a crítica. Até aqui no Brasil ela teve um certo destaque, puxado pela música da novela, a deliciosa Quelqu'Un M'A Dit.




Esse primeiro disco da Carla é uma simpática incursão naquilo que é conhecido como nova chanson. A nova chanson nada mais é do que novos artistas tocando a velha e boa chanson. Bons representantes da nova chanson são a Corálie Clément, seu irmão e mentor Benjamin Biolay, a Keren Ann (às vezes, rs). A Charlotte Gainsbourg também tem um pé aí, embora o seu disco seja mais elaborado que o desses artistas. O da Carla Bruni é bem simples, uma voz suave e bonita, violão, arranjos singelos. É o tipo de disco que você coloca pra tocar e vai passando, rapidinho, rapidinho.

Nesse ano, Carla lançou seu segundo disco, No Promises. Eu não estava acompanhando notícias de produção e fiquei realmente surpresa ao ver que o disco era todinho em inglês; boa graça da chanson francesa é o fato dela ser francesa, afinal... Sussurrar em francês, por maior que seja o clichê, parece ter mais graça. Ouvi o disco uma vez, achei muito homogêneo e inferior ao primeiro.

Mas não deletei.

Ficava olhando a capinha, a Carla toda bonita no meio de vários livros, e resolvi dar outra chance. Uma vez é pouco, afinal. Dessa segunda vez, comecei a achar tudo melhor. Os arranjos (embora no todo ainda sejam muito homogêneos mesmo), o inglês e... as músicas, as letras! Daí a noob aqui finalmente foi ver o que se dizia do cd e me deparei com a notícia de que todas as músicas, todas, eram poemas que a Carla gostava, apreciava, e resolveu cantar. Fez as melodias, treinou inglês com a Marianne Faithfull e mandou brasa. Nas 11 faixas estão presentes 6 poetas: Emily Dickinson (três vezes), Yeats, W.H. Auden, Dorothy Parker (2 vezes cada), Walter De La Mare e Christina Rossetti (uma vez cada um).


Eu parei na Those Dancing Days Are Gone, a música que abre o cd, uma balada do Yeats. É sensacional, o poema, lindo, vívido, imagético, e a música é linda também. Estou andando com esse poema pra cima e pra baixo, tentando ler num ritmo diferente do da música, não porque o ritmo que a Carla dá seja ruim ou não, acho sensacional, mas só pra tentar entender como era, ou poderia ser. Ontem estava ouvindo umas mp3 com a Sylvia Plath fazendo leituras de sua poesia (não acho que ela lia muito bem, fazia muito a grave, e acho que perdia certos encadeamentos às vezes, enfim) e daí lembrei de tentar ver algo do Yeats, mas não achei essa.

Come, let me sing into you ear
Those dancing days are gone
All the silk and satin gear;
Crouch upon a stone
Wrapping that foul body up
In as foul a rag:
I carry the sun in a golden cup
The moon in a silver bag.

Curse as you may I sing it through;
What matter if the knave
That the most could pleasure you,
The children that he gave,
Are somewhere sleeping like a top
Under a marble flag?
I carry the sun in a golden cup
The moon in a silver bag.

I thought it out this very day,
Noon upon the clock,
A man may put pretence away
Who leans upon a stick,may sing, and sing until he drop
Whether to maid or hag:
I carry the sun in a golden cup
The moon in a silver bag.

O Yeats já cede o estribilho de bandeja, e amo as batidas do violão que acompanham quando a Carla fala cada uma das palavras do refrão, pronunciando cada sílaba com um cuidado de não-falante da língua. Estava vendo alguns poemas do Yeats e ele gosta muito de colocar essas repetições, de baladas. Até na outra poesia dele que a Carla canta, Before the World Was Made, isso acontece. Na música a Carla mistura essa última estrofe com a primeira, cantando fica assim:

Come, let me sing into you ear
(I thought it out this very day,
Noon upon the clock,)
All the silk and satin gear;
(A man may put pretence away
Who leans upon a stick)
May sing, and sing until he drop
Whether to maid or hag:
I carry the sun in a golden cup
The moon in a silver bag.

As partes entre parênteses são cantadas mais rápidas, por outras pessoas.


Acho que essa semana ouvi essa música mais de cem vezes; ela fica tocando na minha cabeça quando deito pra dormir, e penso nela quando estou escovando os dentes, e no meio de uma reunião o refrão vem à minha mente imperiosamente e eu não tenho outra saída a não ser cantarolá-lo (ou declamá-lo) e receber um olhar curioso, seguido de um sorriso cúmplice. É mágico.

Achei no youtube um vídeo que diz ser a promo dessa música. Não sei se oficial, mas é muito bonitinho, com cenas da Carla caminhando em Paris, parecendo bem caseiras, e a música tocando. Tem também ela cantando ao vivo sei lá onde. Acho que ao vivo perde muito, mas taí, não se perde nada vendo.


Those Dancing Days Are Gone - Promo


Those Dancing Days Are Gone - Ao Vivo