sábado, 9 de fevereiro de 2008

sobre afinidades

Existe a questão da afinidade temática; existe a proximidade – ou não. Nesse sentido, nunca o Francis Ford vai fazer tanto sentido pra mim quanto a Sofia. Foda-se que ele esteja falando da humanidade, ela está falando de mim.


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Eu pensava nisso quando estava comparando o Daniel Galera com o JP Cuenca. Acho que sentia mais afinidade com o Galera, só que o Cuenca escreve melhor. A gente perdoa a falta de virtuosismo na escrita, não é realmente necessário, e acho que o Cuenca ficou até meio barroco nesse último livro (blame on Cassavas), mas que é uma delícia, é. O tema mais interessante obviamente pode ser jogado no lixo por um texto medíocre (não é o caso do Galera). E hoje, lendo O Terceiro Homem, do Graham Greene, fiquei emocionada com a facilidade e o domínio do cara com as palavras. Pode ser uma obra menor (o Greene mesmo dividia seus livros entre “sérios” e “não-sérios” kkkk, e diz que esse livro foi feito pra ser VISTO, é apenas um roteiro expandido), pode ser APENAS ENTRETENIMENTO (tem até metalinguagem sobre isso, usual), o diabo. É uma delícia!, uma delícia!

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O Graham Greene é autor de uma pequena pérola da literatura mundial, uma obra-prima discreta, Fim de Caso. Achava que só eu tinha essa opinião até ler, de pé na siciliano do iguatemi, o capítulo de um livro chamando Fim de Caso de uma pequena obra-prima. Segurei esse post 1 mês tentando lembrar do livro e não consegui; eram vários capítulos dedicados a obras diferentes, que o autor (acho que era latino kkk) tava a fim de falar. Acho que esse é, no mundo todo, o livro mais ‘meu’, me envolvi demais com ele e tem um espaço gigante reservado na minha paixão, carinho, amor pela literatura. Foi o primeiro livro que comprei com meu dinheiro.

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Portanto, com afinidade ou sem afinidade, o Greene é um deleite danado.

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Mas eu gosto de livros policiais, noir, de detetives, aventuras. Agatha Christie fez parte da minha formação, por exemplo.

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Depois de completar minha coleção do Salinger no estantevirtual.com (coleção é um exagero pr’uma obra tão pequena quanto a dele kkk), decidi parar de horsing around e completar logo os que realmente me importam, sejam pela afinidade que dói (henry miller, sylvia plath), pelo prazer da escrita ou pelos dois (virginia, claro). Jesus, não amo nenhum escritor apenas pelo prazer da escrita? Isso é quase como não gostar de música só pela beleza dos sons, independente do assunto.

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Isso me lembra a mais nova música em que estou viciada, de uma banda americana que emula sons do Camboja (americana é pouco, CALIFORNIANA ok). A música é Sober Driver, da banda Dengue Fever, e é um tema tão cretino que você fica pensando como se faz música sobre tudo. (You called me up because I’m sober and you wanted me to driiiiive! I’m getting tired of being used just as a free ride!). Asi és música, acontece o tempo todo. Uma linha de baixo, uma frase de guitarra, um refrão grudento e touché. Exigimos mais dos livros do que frases bonitas e bem construídas?

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Se bem que parando pra pensar podemos admirar o estilo de um escritor, sua técnica narrativa, suas inovações etc. Mas tanto na música quanto no cinema, nas artes, na literatura, enfim, é sempre preciso um pouco de sangue e compaixão pra amar mesmo. Admirações temos aos montes.

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Por essas e outras, Aimee Mann sempre vai ser a maior pra mim, por mais que não seja grande como um Dylan, só pra citar o realmente maior. Ela toca exatamente onde um cantor deveria tocar para falar pra mim, e é isso que conta, afinal.

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Já furei a fila do meu cronograma (dos que faltam menos pros que faltam mais, plath-miller-woolf) pra comprar dois livros do kurt vonnegut. Monique me emprestou Café da manhã dos campeões, e só tenho a dizer que esse livro fala da VIDA REAL. Vonnegut deu nota C pra si mesmo nesse livro. É meio repetitivo, algumas idéias se embaralham, mas existe uma clareza, uma força inequívoca... É forte e cheio de humor, sem amargura, e se existe sarcasmo, dispensa cinismos. No Catcher in the rye o Holden fala sobre autores que queríamos como amigos. Eu tinha que concordar com ele sobre o Hardy, e não tinha mais ninguém a acrescentar até ler o Vonnegut.

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Eu realmente não acredito que me daria bem, tipo AMIZADE, com meus escritores preferidos.

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Eu queria ser amiga do Laurence Stern! Claro. E da Scout Niblett, entrando nesse território da música. Vejam como sou bem humorada kkkk, todas essas pessoas são brinks. A vida sem pessoas brinks deve ser muito pior do que já é.

ps – ao colocar henry e sylvia como, digamos “paixões temáticas”, jamais quero dizer que eles não escreviam bem. Att.

pps - quanto a PESSOAS, já conclui que a única afinidade que conta (fora a da FILOSOFIA DE VIDA kkk) é a do humor. Ter um tipo de humor compatível salva quase qualquer relacionamento, ao menos superficialmente, e não ter enterra.