quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Gilmore Girls, parte 1

O que tem circulado no mundo ligado à GG são dois artigos publicados no Yahoo News e no Chicago Tribune. Seguem os dois, com meus comentários.

"Os fãs não foram os únicos a se chatear com a briga de Rory e Lorelai
Por David Bauder
Associated Press

O enredo desta temporada de Gilmore Girls, em que a estreita parceria entre mãe e filha se rompeu e resultou no silêncio entre as duas, causou agudas discussões entre os fãs mais exaltados. O assunto também dividiu o set de filmagens. “Não era minha (história) favorita”, admite Lauren Graham, que representa a mãe Lorelai. (bom, verdade. as discussões foram às raias do surreal. Dividir os fãs talvez seja demais, as opiniões eram quase unânimes: Rory enlouqueceu – e ASP também, por tabela).

Lorelai e Rory fizeram as pazes, lágrimas foram derramadas. Suas conversas rápidas e inteligentes retornaram, ainda que por telefone. Rory está em Yale agora e, em um episódio neste mês, se torna editora do jornal da faculdade e vai morar com o seu namorado.

Os criadores da série estão claramente tentando empurrar as coisas para evitar a fadiga que normalmente aflige seriados de TV em sua sexta temporada. Há tempos posicionada como a série da WB mais aclamada pelos críticos, Gilmore Girls vem silenciosamente crescendo e se tornando a segunda mais popular série da rede, depois de 7th Heaven.

(bom, esse parágrafo dá a entender que os novos roteiros têm algo de apelativo, “claramente tentando empurrar coisas”. Discordo disso. O que a nova temporada tem de diferente, claramente, são mais mudanças – bom, pra mim só uma significativa, o surgimento da April. A mudança de Rory não vejo como brusca, repentina, nem como obra da nova temporada, vem lá de meados da quinta).

A taxa média de audiência de GG chega a 5 milhões de telespectadores por semana, contra os 4,1 milhões que atingia duas temporadas atrás, segundo a empresa de pesquisa Nielsen Media Research. O anúncio de fusão entre WB e UPN, no mês passado, formando uma nova rede, trouxe instabilidade para os programas. Mas Gilmore Girls parece que ganhou o direito de determinar o seu próprio destino, de se mudar para a nova rede CW. O crescimento (da série) acontece apesar do enredo violentamente rejeitado.

(enredo violentamente rejeitado? Talvez)

Parte do problema de Graham com o rompimento (entre Rory e Lorelai) foi pessoal. Ela sentia falta de trabalhar com Alexis Bledel todo dia. Mas, principalmente, ela não acreditava na verossimilhança (do enredo) em relação ao seu personagem.

(que estranho, entrou de sola na opinião da Lauren. Mas vamos lá).

“Eu lutei com a idéia de que a personagem, sendo mãe, parasse tão rapidamente de falar com sua filha e não fizesse mais nenhum esforço”, diz Graham, enquanto descansa em seu trailler na Warner Bros durante um dia de filmagem . ''Foi difícil pra mim justificar — que eu não tentaria muito, que eu não mais estenderia a mão, que eu poderia ficar longe dela por tanto tempo.'' Este ano ela questionou os criadores, Amy Sherman-Palladino e Dan Palladino, mais do que nunca, “e estou certa que eles não apreciaram, de modo algum”, diz Graham.

(dois pontos aqui: primeiro, Lauren Graham questiona a postura da sua personagem, Lorelai, e não sobre Rory; talvez por ter trabalhado tanto tempo construindo essa pessoa, ela a entenda melhor e questione exatamente o que questionei: a questão não é o se Rory perdeu o juízo, mas como Lorelai deixou que ela fosse tão sem fazer nada? Ou tentando fazer coisas da maneira mais esdrúxula, combinando coisas com os pais? Isso eu sempre achei anacrônico, a recusa de Lorelai a sequer conversar com Rory, tentar entender os motivos dela, a pressão. Isso para mim eram coisas não-Lorelai. Mas esse ponto da Lauren, e que era meu ponto, não é o que trouxe inúmeras críticas dos fãs. As pessoas estavam caindo a pau na suposta mudança da Rory, e qualquer crítica a Lorelai era tipo – não toque no sagrado nome Lorelai. Muitas vezes durante a série eu me perguntei se essa parcialidade quase total, o fato de muita gente preferir claramente Lorelai a Rory não atrapalharia a série. Acho que atrapalha sim. A série é sobre as duas, é sobre Emily, sobre Richard... Todo mundo tem seu direito a ter preferidos, sempre, mas que não percam a razão – como pessoas dizendo que a Rory era moralista e afins. Bom, então: se eu acho que a Rory mudou? Tenho certeza. Se acho isso estranho? Absolutamente, não. Primeiro, não foi uma mudança abrupta; desde a quinta temporada, vinha se esboçando. Rory tentou ter uma relação aberta com o Logan, foi testando novas possibilidades, enfim, mudando. Ela não perdeu a essência dela, de ser uma menina meiga, inteligente, precoce. Nada disso. As pessoas diziam: a Rory está sendo mimada! Oras, a Rory sempre foi mimada. Ela cresceu com todo mundo dizendo que ela era inteligente, bonita, a melhor... De repente chegou Mitchum Hamburguer e falou pra ela que ela daria uma boa secretário... Muito bem, fácil falar que ele disse isso pra derrubá-la, fácil pensar isso, mas difícil ouvir, difícil de lidar. Imaturidade? Talvez. Ela nunca tinha passado por situação semelhante, nada mais natural que não soubesse lidar com ela. Tomou a decisão de largar Yale – que foi assumida por todos como maluca de cara. Se a Rory realmente resolvesse largar Yale provavelmente seria excomungada. Todo mundo sabia que ela voltaria, e seria bem como o título do episódio da reconciliação, a volta da filha pródiga, um ciclo que se fecha. Na minha mente, essa noção é totalmente maniqueísta – a Rory vai ‘voltar ao normal’ e voltar pra Yale. A própria Rory agiu assim, desmerecendo pra mim grande parte do que seria enriquecedor pra ela. Ficou parecendo que longe da mãe ela fica perdida mesmo. Isso fica ainda mais explícito quando confrontado com, por exemplo, a vida da Emily, num dos momentos de maior crueldade da série, quando Richard fala pra mulher com quem vive há uns 40 anos que a vida dela não é boa o bastante para a neta, ainda que de uma maneira não intencional. Os valores estão bem explícitos, Yale – faculdade- instrução = bem, DAR, festas, vida social= futilidade, mal. E a maioria das pessoas vestiu isso. O fato de que obviamente não existem vidas certas, creio que Richard sabe disso, mas muita gente parece que não. O que ele provavelmente queria dizer era que, sim aquela não era uma vida para Rory por incompatibilidade e não por ser um desperdídio. Mas ele precisaria de mais tato, como estava nervoso, não teve nenhum e acabou magoando a mulher. Eventualmente, a série provaria que ele estava errado em partes: Rory continuou no DAR mesmo depois de voltar a Yale e durante todo o tempo que foi mostrado seu trabalho lá. deu pra ver que ela tinha jeito, sim, como a mãe e a avó, para organizar as coisas. Certamente, largar a faculdade não a fez feliz, então provavelmente só o DAR não a teria feito feliz. Emily tem a vida geralmente descrita como fútil mesmo. Na tocante cena do avião entra ela e Lorelai, ela resume o discurso de meio mundo de gente, que parece ter pena dela por ela gastar a vida com algo tão ‘pequeno’. Discordo veementemente dessas pessoas e acho que trabalhar no DAR, estudar em Yale, ter uma lanchonete, ter um hotel, são maneiras diferentes e válidas de lidar com a vida, e nenhum é melhor ou pior que os outros. Então, ok, Rory fechou um ciclo voltando pro ‘bem’, pro certo Yale. Mimada, imatura etc. Isso todo mundo enxergou. Mas o fato da Lor tá agindo de uma maneira controladora, que ela sempre rejeitou na mãe, tentando interferir na vida da filha (esse discurso de que é pro bem da Rory é exatamente o mesmo que a Emily usa com relação a Lorelai). Oras, Lorelai se chateou porque achou que a Rory tava cometendo um erro – situação mais mãe e filha do que essa, impossível. Tem gente que resolve numa conversa, uns saem de casa, outros batem a porta. Rory tá jogando a vida dela pro alto? Não sei, mas e se for? Tem 20 anos. O direito de estragar a própria vida é inalienável, já diziam em Amelie Poulain. Certamente, não espero que uma mãe aceite isso de uma filha – ou o que imagina que seja isso. Emily não aceitou algumas coisas da filha e usa vários estratagemas para contornar isso. Lorelai a princípio tentou um bem parecido – se juntar com os pais. Eventualmente ela percebeu que era melhor dar um tempo pra Rory, ainda que na força. Será que se Rory não tivesse voltado pra Yale ela e Lor teriam voltado a se falar? Lembro de ler um comentário na época que era tipo: a Rory tem que perceber que vai ter que melhorar pra que a Lor a aceite de volta. Céus, ter que melhorar (melhorar seria exatamente o que?) pra se relacionar com a própria mãe é demais. Dizem que as mães perdoam tudo, afinal. Achei tolice ela pressionar daquele jeito a Rory. Rory foi contar as novidades pra ela com uma tranqüilidade forçada, e ja de primeira Lorelai perguntou qual era o grande plano dela. Na resposta seguinte, Rory já estava mais agressiva. Obviamente, ela estava perdida, e foi falar com o avô chorando, confusa. Os avós a acolheram, acredito que foi a coisa certa a ser feita, por assim dizer, afinal afastá-la, virar as costas, ajudaria em que? E aí, muita gente, inclusive um pouco a Lor, viu perfídia nisso. Eu duvidaria de Richard se ele visse a neta chegar daquele jeito, dizendo que o mundo caiu sobre ela, chorando, e ele não a acolhesse. O lugar pra Rory é Yale? Bom, que tal deixar que ela conclua isso? A contrariedade de Lorelai quando Rory contou que ia largar a faculdade era, e isso é que é tão não-Lorelai, “você vai perder o momento”, algo vago, tonto, e que, realmente, ela não tinha como saber. Era uma opinião que ela não aceitou discutir, e logo em seguida Rory foi grossa falando com ela e aí tchum eis a situação. Estranho a Rory perder a confiança? Não. Estranho a Lor vivenciando essa situação como vivenciou. Maaas, e aí vem o mas, a despeito do que muita gente acha, Lorelai não é perfeita. Ela pode ser mais gostável do que a Rory, mais carismática, falar mais rápido, beber mais café, ser mais engraçada – mas comete erros também. Acho que acabaria dando uma humanizada no personagem se fosse assim – Rory errou, mas Lorelai errou também, mas o desfecho da estória foi tipo muito mais pra Rory errou – afinal ela era a filha pródiga a retornar fazendo exatamente tudo que a mãe tinha dito pra ela fazer no início, e Lorelai ficou ‘certa’ na estória. Como isso aconteceu, to com a Lauren Graham e acho difícil ver a personagem ali. Ufa!

O outro ponto pra mim é extra-série, tipo, não tem a ver com o enredo, mas com o comentário sobre a não-apreciação da ASP e do Daniel em relação aos comentários da Lauren. Parecem indicativo ou de um clima ruim, ou de uma argumentação rude, ou de uma falta de abertura dos autores, e todas as possibilidades me parecem chatas).

Alguns críticos ficaram do seu lado. Ted Cox, do Chicago Daily Herald, disse: “de repente, é como se os personagens fossem manipulados para criar drama, em lugar de deixar que o drama fluísse naturalmente dos personagens.”

(a crítica de que a série ficou dramática demais a priori parece verdade: filha do Luke, brigas homéricas, bla bla bla. Mas, bom, vou comentar melhor esse ponto depois, quando chegar no outro artigo, em que ASP fala de suas intenções com esses recursos, que me pareceram válidos. Mas concordo que de início isso é uma loucura).

Os Palladino admitem que é difícil desenvolver novas histórias para um seriado longo sem que elas tenham sido planejadas. Mas neste caso, eles dizem que era importante fazer alguma coisa que balançasse Rory em suas fundações – um típico rito de passagem para o surgimento de adultos que aprendem sobre si mesmos, de acordo com as suas reações.

(concordo em partes, ainda acho meio maniqueísta, como falei acima, na minha história do ciclo que se fecha).

''Para realmente balançar o mundo da Rory, tivemos de recorrer ao coração da série, promover realmente uma ruptura e explorar o que seria”, diz Sherman-Palladino. ''Eu sei que há dois lados. Pessoalmente, pra mim, eu adorei as implicações psicológicas deste ano, mais do que em qualquer outro ano, porque realmente conseguimos fazer algumas histórias reais de mãe e filha.''

(concordo plenamente. Ficou mais próximo da realidade de muitos).

Pense profundamente sobre os personagens e sobre e verossimilhança, ela diz. Lorelai tem passado a sua vida tentando fazer tudo diferente do que faz a sua própria mãe. E se fosse a Lorelai que largasse a faculdade, sua mãe a arrastaria pessoalmente de volta a Yale.

(bom, Lorelai nunca foi tão Emily quanto em todo esse acontecimento).

Enquanto as coisas melhoraram entre Lorelai e Rory, o mesmo não acontece entre Lorelai e Luke, seu namorado dono da lanchonete. Eles estão noivos após um longo cortejo. Mas o surgimento repentino de uma filha desconhecida que ele teve em um outro relacionamento torna incertos os planos de casamento.
(como java junkie, minha primeira reação ao saber que o Luke tinha uma filha foi “Não!”. A despeito disso, gostei da April – parece com as garotas gilmore, demais. Comecei a não gostar da Anna Nardini, mas quando ela apareceu, simpatizei com ela, inevitavelmente. Certamente não pra ficar com o Luke, mas ela é legal e creio que não é uma ameaça. Águas passadas não movem moinho – se isso vale pro Jess, infelizmente, vale pra ela também. Agora, bom, sei que a ansiedade é grande pro casório ocorrer, mas eles tão dando a enrolada mesmo, porque é o ápice da séries – o que aconteceria depois? O que a gente ia esperar, ficar ansiosa por? Sem contar que, pelas declarações da ASP, ela quis fazer com que os dois passassem por algo que mostrasse a importância que um tinha pro outro, e acho que vai conseguir. Confio plenamente nela. Alguma coisa tinha que acontecer em Stars Hollow).
Nada é tão simples, não é? Criar barreiras entre personagens aparentemente bem-ajustados é um outro risco, um teste para a paciência da audiência. Os Palladino gostam da idéia de explorar as dificuldades em unir dois fortes personagens. “Casar com 29 é muito diferente de casar com 38', diz Sherman-Palladino. “É um mundo muito diferente, e é isso que estamos tentando introduzir”.

(vamos ser mais maduros e aceitar isso, ok? eu não imagino a Lor casada...).

O futuro de Gilmore Girls é por si só enrolado. Os Palladino dizem que estão verdadeiramente indecisos sobre se continuam com o seriado depois desta temporada — notícias alarmantes para os fãs de um seriado que, mais do que a maioria, reflete a forte sensibilidade dos seus criadores.

(espero que continuem, não me imagino sem a série!)

Um fator que poderia tê-los afastado — um piloto de um novo seriado, uma comédia romântica, que teria sido filmada em Nova York — não acontece mais. Foi descartada com a dissolução da WB. Os Palladino estão fazendo planos para encerrar esta temporada com um suspense
(casamento? Não casamento?) e para o seriado continuar sem eles, só por precaução.

(Lane casa, talvez Lor e Luke casem também, a temporada pra mim tá indo muito bem até agora e promete acabar nessa média).

Graham diz que tudo aponta para mais uma temporada depois desta; a companhia está assegurando a adição de mais um ano para o pessoal, que tem contrato de seis anos. Graham diz que é quando ela gostaria de encerrar, mencionando a carga de trabalho do seriado.

(acho que seria apropriado encerrar na sétima; melhor acabar no auge. Rory se formando e tal. É triste, mas temos que encarar que Gilmore Girls VAI acabar, mais cedo ou mais tarde. Melhor ser com dignidade, e não se arrastando, como por exemplo Alias).

''Conseguir uma linguagem perfeita requer um número de tomadas que você não tem em outro seriado” ela explica. “É muito trabalho, 13, 14 horas, porta com porta. Eu faltei a casamentos. Eu perdi o nascimento de crianças. Eu não estou reclamando, porque isso tem me servido, mas eu estaria pronta para um equilíbrio diferente.” Ela tem tido horas difíceis, imaginando os Palladino não envolvidos, especialmente se o seriado está se encaminhando para um final.

(eu também me preocupo em imaginar a série sem ASP. Não, não, não!)

Questões econômicas também podem infuenciar a decisão. A WB está cancelando 7th Heaven porque, após uma década no ar, o seriado mais popular da rede estava perdendo dinheiro devido à sua dispendiosa produção.

(GG não deve gastar tanto assim né...)

“Eles vieram até nós e nos perguntaram por quanto tempo o seriado (GG) poderia permanecer”, diz Sherman-Palladino, ''e nós dissemos que é um seriado sobre família, que pode continuar para sempre. Se 7th Heaven pôde ficar por 10 anos, por que este seriado (GG) não poderia continuar por 10 anos? Não há razão (pra não continuar). Eles serão altamente pressionados para reunir um elenco tão bom novamente”.

(bom final).