sobre afinidades
Existe a questão da afinidade temática; existe a proximidade – ou não. Nesse sentido, nunca o Francis Ford vai fazer tanto sentido pra mim quanto a Sofia. Foda-se que ele esteja falando da humanidade, ela está falando de mim.
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Eu pensava nisso quando estava comparando o Daniel Galera com o JP Cuenca. Acho que sentia mais afinidade com o Galera, só que o Cuenca escreve melhor. A gente perdoa a falta de virtuosismo na escrita, não é realmente necessário, e acho que o Cuenca ficou até meio barroco nesse último livro (blame on Cassavas), mas que é uma delícia, é. O tema mais interessante obviamente pode ser jogado no lixo por um texto medíocre (não é o caso do Galera). E hoje, lendo O Terceiro Homem, do Graham Greene, fiquei emocionada com a facilidade e o domínio do cara com as palavras. Pode ser uma obra menor (o Greene mesmo dividia seus livros entre “sérios” e “não-sérios” kkkk, e diz que esse livro foi feito pra ser VISTO, é apenas um roteiro expandido), pode ser APENAS ENTRETENIMENTO (tem até metalinguagem sobre isso, usual), o diabo. É uma delícia!, uma delícia!
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Portanto, com afinidade ou sem afinidade, o Greene é um deleite danado.***
Mas eu gosto de livros policiais, noir, de detetives, aventuras. Agatha Christie fez parte da minha formação, por exemplo.
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Isso me lembra a mais nova música em que estou viciada, de uma banda americana que emula sons do Camboja (americana é pouco, CALIFORNIANA ok). A música é Sober Driver, da banda Dengue Fever, e é um tema tão cretino que você fica pensando como se faz música sobre tudo. (You called me up because I’m sober and you wanted me to driiiiive! I’m getting tired of being used just as a free ride!). Asi és música, acontece o tempo todo. Uma linha de baixo, uma frase de guitarra, um refrão grudento e touché. Exigimos mais dos livros do que frases bonitas e bem construídas?
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Se bem que parando pra pensar podemos admirar o estilo de um escritor, sua técnica narrativa, suas inovações etc. Mas tanto na música quanto no cinema, nas artes, na literatura, enfim, é sempre preciso um pouco de sangue e compaixão pra amar mesmo. Admirações temos aos montes.
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Por essas e outras, Aimee Mann sempre vai ser a maior pra mim, por mais que não seja grande como um Dylan, só pra citar o realmente maior. Ela toca exatamente onde um cantor deveria tocar para falar pra mim, e é isso que conta, afinal.
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Já furei a fila do meu cronograma (dos que faltam menos pros que faltam mais, plath-miller-woolf) pra comprar dois livros do kurt vonnegut. Monique me emprestou Café da manhã dos campeões, e só tenho a dizer que esse livro fala da VIDA REAL. Vonnegut deu nota C pra si mesmo nesse livro. É meio repetitivo, algumas idéias se embaralham, mas existe uma clareza, uma força inequívoca... É forte e cheio de humor, sem amargura, e se existe sarcasmo, dispensa cinismos. No Catcher in the rye o Holden fala sobre autores que queríamos como amigos. Eu tinha que concordar com ele sobre o Hardy, e não tinha mais ninguém a acrescentar até ler o Vonnegut.***
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